segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

"Raízes do Brasil", Sérgio Buarque de Holanda: Contradições da/na formação do Brasil enquanto nação.

 


"Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda. É uma obra ensaística histórico-sociológica, que busca demonstrar alguns aspectos da formação social, cultural e histórica do país. O autor sempre se vale de uma metodologia baseada em pares de opostos complementares e paradoxais, para ressaltar nossa constituição como nação, o que por si só já revela nossas eternas contradições, enquanto um país periférico, Quanto à questão que o ensaísta levanta acerca do "homem cordial" brasileiro, ou melhor, a suposta cordialidade do brasileiro, fica evidente que o dito homem cordial do país é, na verdade, um ser que, apenas, aparenta tal feição, sempre buscando se manter no poder e com seu status quo de dominância, qual seja: homem (gênero masculino), branco, o qual baseando-se no patriarcado personalíssimo, faz de tudo para continuar nas posições de mando, inclusive se valendo da violência e da exploração. Outro ponto levantado por Holanda que merece atenção é que nossos colonizadores sempre buscaram explorar nossas riquezas, com total desleixo por parte daqueles, com seu estilo "aventureiro", que se baseando na escravidão dos indígenas e dos africanos que foram trazidos à força para cá, colonizaram o país, a partir de latifúndios de monoculturas e do plantio irresponsável, somente visando o lucro imediato e cada vez mais maior, além da posterior exploração da minas, o que leva às Entradas, outra questão bastante comentada por Holanda em sua obra. Neste ponto, o autor ressalta as contradições e paradoxos das Bandeiras no processo de formação da nação. Por outro lado, um erro evidente do ensaísta é acreditar numa suposta democracia racial no Brasil, questão que já se provou equivocada com os recentes estudos decoloniais. Afirmar que os indígenas quase nunca se rebelavam contra a escravidão ou a catequização é uma afirmação errônea. E que aqueles eram mais "dóceis" que os negros africanos escravizados, é outro equívoco. Para mim, de toda sorte, uma das mais sensatas afirmações do autor é que a democracia no país é um grande mal-entendido. Basta vermos a situação do Brasil, em pleno 2022. Um livro importantíssimo para compreendermos nosso país e sua formação, mas que devem ser feitas algumas ressalvas em virtude, especialmente, dos novos estudos sociológicos, históricos e culturais, em especial, os decolonais.

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