sexta-feira, 22 de junho de 2018

Ouro e Maldição (Greed, Erich von Stroheim, EUA,1924)

“Ouro e Maldição (1924) é um filme importantíssimo para a História do Cinema, muitos críticos consideram a obra-prima de Erich von Stroheim. Um filme que apesar das várias mutilações sofridas por parte do estúdio MGM -, von Stroheim concebeu sua obra para ter a duração de quase 10h e o produtor Irving Thalberg, obrigou seus subordinados a “editarem” Greed em menos de 3h, mais precisamente 2h 10. O que o cineasta desaprovou e nunca aceitou ao longo de sua vida, afirmando que acabaram com sua obra e não reconhecia mais seu trabalho em Ouro e Maldição, tanto que nunca chegou a ver a versão vinculada pelo estúdio nos cinemas à época.
Apesar de o filme ter sido restaurado, em 1999, para quase 240min, 3h 59, sua versão original e idealizada por von Stroheim só foi exibida uma única vez, portanto sua versão original de 9h30 é hoje considerada perdida. O longa foi considerado pelo crítico estadunidense Roger Ebert como a "Vênus de Milo" do Cinema. Um trabalho que, ainda que absurdamente mutilado, ainda assim permanece memorável e ímpar na História do Cinema. Para completar esta questão trágica da mutilação dos originais do filme, vale citar a frase de outro pesquisador Rick Schmidlin, que restaurou o filme para a versão de quase 4h: “o material perdido tem sido chamado de 'O Santo Graal' do Cinema. O que nós tentamos fazer foi uma reconstrução da narrativa perdida que Erich von Stroheim originalmente pretendeu contar".
Ouro e Maldição é referência direta e/ou indireta para diversos filmes que abordam a questão da ambição e da ganância seja por status social, ouro, fama e/ou poder. Ouro e Maldição é a adaptação do romance "McTeague", de Frank Norris, escritor estadunidense, influenciado pelo estilo naturalista de Émile Zola. Uma das características mais fortes do romance de Norris, transpostas fielmente para o filme, é a recorrência de alguns traços do Naturalismo-científico do século XIX, como a inalienável força da hereditariedade, o poder determinista também dos instintos do sexo e da violência, as precárias condições de vida das classes mais baixas, esta questão é facilmente perceptível no enredo do filme, em relação aos mineradores, referência clara do livro de Norris ao romance “Germinal”, de Zola.
 Fiel ao ultrarrealismo preconizado no romance de Frank Norris, Erich von Stroheim exigiu que as filmagens fossem feitas nas próprias locações mencionadas no romance e, na busca por uma adaptação o mais fiel possível, descartou o uso de um roteiro adaptado e procurou filmar todo o livro, página a página.  
Depois de trabalhar por um bom tempo no ramo da mineração, John McTeague se muda para a Califórnia, onde passa a trabalhar ilegalmente como dentista e casa-se com Trina, prima de seu amigo Marcus, também interessado nela. Quando, Trina ganha cinco mil Dólares na loteria, o que era pra ser um episódio para ser comemorado termina sendo o estopim de uma série de eventos que viriam a destruir o matrimônio, a carreira e, por fim, a vida de todos os três protagonistas do enredo, influenciados pela ambição pelo ouro.
O cineasta emprega alguns recursos narrativos em Ouro e Maldição, tanto na montagem, quanto nas imagens sobrepostas, que são interessantes. Ao longo do filme, Stroheim utiliza um casal de canários amarelos como forma simbólica e sugestiva da ambiência do lar de Trina e McTeague.

Stroheim realizou um dos filmes mais influentes e fortes do Cinema, aparentemente, o roteiro preso às situações simples e corriqueiras da vida, porém, por outro lado e por isso mesmo, faz pensar em situações e em questões das mais existenciais e filosóficas possíveis, tais como: o desejo por riqueza preso às pessoas -, diversas pessoas arriscavam suas vidas em minas de minério e petróleo, num misto de aventura, barbárie e ambição. No filme, percebe-se o interesse dos protagonistas em crescer em status social, porém, numa avareza hiper-realista, que os perturba, os deforma e os destrói para si mesmos, inconscientemente, e, também para a família, para a sociedade e para um espectador que assiste a tudo num crescente de compaixão e terror ante à tragédia que se delineia para McTeague, Trina e Marcus. ” 




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