quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

(“OS MONSTROS”, DINO RISI, 1963, ITA/FRA): (“FILMES DE EPISÓDIOS, DE UM CINEASTA OU COLETIVOS, COM A PARTICIPAÇÃO DE DINO RISI: FEBRE NOS ANOS 1960/1970 NA ITÁLIA”)

(“OS MONSTROS”, DINO RISI, 1963, ITA/FRA):

(“FILMES DE EPISÓDIOS, DE UM CINEASTA OU COLETIVOS, COM A PARTICIPAÇÃO DE DINO RISI: FEBRE NOS ANOS 1960/1970 NA ITÁLIA”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO):



Os Monstros, filme de 1963, reúne 20 episódios, todos dirigidos por Dino Risi, uma façanha, pois o filme é extremamente regular, engraçado e atual para os anos 1960 na Itália, em especial.
No século XX, nas cinematografias europeias, em especial, na francesa e na italiana, ou em separado, ou juntas, por meio de diretores das duas nacionalidades, nos 1960/1970, foi muito comum os filmes em episódios e coletivos. No caso d´Os monstros, filme de episódios (vinte ao todo), mesmo diretor, Risi, e produção ítalo-francesa.

Nos episódios, todos muito bons Ugo Tognazzi e Vittorio Gassman dividem os episódios ou juntos, ou intercalando-se, num nível de atuação tragicômica ímpares, coadjuvando-se exemplarmente, quando não protagonizando de maneira exemplar. Dois espetaculares atores do cinema em todos os tempos, que trabalharam juntos ou não em outros filmes de Dino Risi, ou de outros diretores italianos ou de outras nacionalidades, sempre com ótimas atuações e em filmes importantes para o cinema mundial.

Os Monstros, o cineasta Risi mantém a tragicomédia em um nível primoroso e consegue a regularidade técnica e de qualidade, em termos de roteiro, inclusive, auxiliado por Ettore Scola, outro grande diretor do cinema. Em alguns segmentos é visível o ‘dedo’ de Scola de maneira muito evidente.

Os segmentos são por atores/personagens/títulos dos episódios (em negrito os melhores, de maior destaque):

Ugo Tognazzi:
The Father (segment "L'Educazione sentimentale") / Policeman (segment "Il Mostro") / Stefano (segment "Come un Padre") / Battacchi (segment "Il povero Soldato") / L'Onorevole (segment "La Giornata dell'Onorevole") / Latin Lover (segment "Latin Lovers-Amanti latini") / Pilade Fioravanti (segment "Testimone volontario") / The Traffic Warden (segment "L'Agguato") / The Car Owner (segment "Vernissage") / The Man at Cinema (segment "Scenda l'Oblio") / The Husband (segment "L'Oppio dei Popoli") / Guarnacci (segment "La nobile Arte");

Vittorio Gassman:                      
The Actor (segment "La Raccomandazione") / Policeman (segment "Il Mostro") / Favilla (segment "Presa dalla Vita") / The Director (segment "Presa dalla Vita") / Nicola (segment "Che Vitaccia!") / Latin Lover (segment "Latin Lovers-Amanti latini") / Avvocato D'Amore (segment "Testimone volontario") / Richetto (segment "I due Orfanelli") / Roberto (segment "Il Sacrificato") / Elisa (segment "La Musa") / The Road Hog (segment "La Strada è di Tutti") / The Friar (segment "Il Testamento di Francesco") / Artemio Altidori (segment "La nobile Arte").


Quanto aos filmes de episódios europeus existiram de todos os tipos, prevalecendo os de comédia ou tragicomédia.

  Dino Risi foi um dos introdutores deste tipo de filmes segmentados, com “I Mostri” (OS MONSTROS), com argumento de Agenore Incrocci, Ruggero Maccari, Elio Petri, Dino Risi, Furio Scarpelli e Ettore Scola. O filme conheceu um tremendo sucesso de público e de crítica e justificou consequências diretas, como “I Nuovi Mostri”, “Os novos monstros”, em 1978, e uma série de outras, das mais diversas procedências e origens e formatos.


Há, sobretudo, retratos de uma sociedade italiana (mas não apenas ela!), que restituem um panorama (parcial e grotesca, trata-se de “Os Monstros”...!), de algumas das taras da sociedade italiana do “milagre econômico” dos anos 1950 e 1960, do século XX, porém que se mantém, até hoje, 2016-2017. E reproduz para o mal dos nossos dias nos anos seguintes, até os dias atuais.”.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

(As Chaves do Reino, de 1944, EUA, John M. Stahl): (“UM CLÁSSICO ENVELHECIDO: PECK O SALVA DO ESQUECIMENTO DO TEMPO”)

(As Chaves do Reino, de 1944, EUA, John M. Stahl):

(“UM CLÁSSICO ENVELHECIDO: PECK O SALVA DO ESQUECIMENTO DO TEMPO”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)



“As Chaves do Reino, de 1944, EUA, baseado no romance do escritor famoso, em meados do século XX, hoje esquecido nas livrarias, ao menos por aqui, se trata do autor A. J. Cronin.
É um filme que é um dramalhão melodramático, que funciona às vezes, mas tem muitas falhas, principalmente, o roteiro muito desigual em narrar a vida inteira do padre Francis Chisholm. Com o intuito declarado de sensibilizar e trazer o espectador para o lado do humilde padre, acusado injustamente de heresias contra os dogmas católicos.
   O diretor é John M. Stahl, um respeitado cineasta, em especial nos anos 1930-40. O roteiro é assinado por uma dupla incrível – Joseph L. Manckiewicz e Nunnally Johnson, ambos com sólidas carreiras como produtores e diretores, além de roteiristas. O papel central coube a um ator então iniciante – o filme de Stahl era apenas o segundo filme do excelente ator Gregory Peck, depois de Quando a Neve Tornar a Cair, um estranho esforço de guerra que homenageia o então aliado Josef Stálin, com direção de Jacques Tourneur.
O elenco tem ainda nomes de peso na época: Thomas Mitchell, Vincent Price, Cedric Hardwicke. Tem a participação especial de um ator mirim que teria longa e prestigiosa carreira, Roddy McDowall. A trilha sonora é do grande Alfred Newman.
É uma história sobre valores morais, fé, religião, bondade, dedicação. O personagem principal – o papel de Gregory Peck – é um padre, o padre Francis Chisholm. E Peck desempenha com perfeição, a sua primeira grande atuação de várias, em sua longa carreira, gloriosa e vitoriosa também como indivíduo-cidadão do mundo. As chaves do reino, ele já esbanja domínio cênico, pena que o filme peca, desculpem o verbo-trocadilho, no roteiro, demasiado piegas.
A narrativa começa em 1938, com a desconfiança do monsenhor (interpretado por Sir Cecil Hardwicke), que havia sido enviado à pequena cidade escocesa de Tweedside, para investigar como estava se saindo o idoso padre Francis, que, após muitas décadas vivendo e trabalhando como missionário na China, havia voltado um ano antes para sua cidade natal e assumido a paróquia para finalizar sua vida episcopal nessa cidade. E percebe alguns comportamentos e comentários fora dos padrões canônicos do dogmatismo católico, na forma que o padre Francis se relaciona com seus paroquianos.


Após uma semana de observação, o monsenhor se prepara para dar sua opinião ao seu superior em outra cidade, mas antes de partir, na noite anterior à partida, O monsenhor se retira então para o quarto que tem ocupado naquela semana. Na estante, ele vê um grande volume de capa dura, com o título “A jornada de Francis Chisholm”. É o diário escrito pelo padre. O monsenhor fica curioso, começa a ler – e o espectador passa então a ver na tela a história que o padre Francis narra e o monsenhor vai lendo noite adentro.
A maior parte da narrativa é ocupada pela permanência do padre Francis no interior da China. Além do próprio protagonista, há dois personagens fascinantes na história criada por A. J. Cronin. Um é um ateu que o padre Francis gostaria que estivesse no céu – um amigo dele desde a juventude, Willie Tulloch, interpretado por Thomas Mitchell. Willie é uma pessoa bondosa e generosa como pode ser um budista, hindu, católico ou ateu, etc. É ser humano e pronto. Enquanto Francis estudava no seminário para ser padre, Willie cursava Medicina. Irá visitar o amigo na China, levando um grande estoque de remédios.
A outra personagem interessantíssima é a madre Maria-Veronica (o papel de Rose Stradner). Ela é a superiora do grupo de três freiras enviadas para ajudar o padre Francis na sua missão. É uma austríaca de família aristocrática – a mãe é baronesa –, e apesar de ser madre, é um poço de frescura, orgulho, preconceito. Antipatiza-se profundamente com aquele padre simples, que faz todo tipo de trabalho manual e está sempre sujo de poeira.
Uma madre que não é ‘bondosa’ e demora a se evangelizar por completo; um ateu convicto que é um missionário, sem perceber, um poço de bondade. E o bispo que, aparece, em um determinado momento do filme, que quer derrubar o padre Francis, e, é puro interesse hierárquico e não vocacional.



A. J. Cronin deixa bastante clara sua visão de mundo: as aparências enganam. Há santos entre os ateus e pecadores entre os que usam paramentos religiosos. Esse maniqueísmo envelheceu o filme de Stahl, mas não tira o brilho da primeira grande interpretação da inesquecível carreira clássica de um dos maiores atores de todos os tempos, Gregory Peck.”. 



LINK-BASE: http://50anosdefilmes.com.br/2015/as-chaves-do-reino-the-keys-of-the-kingdom/ 

ASSINADO POR: SÉRGIO VAZ.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

(“Lisa e o Diabo” (“Lisa e il Diavolo”, 1973). De Mario Bava):(“A realidade e sonho demoníaco sugerido pela Morte Inevitável?”)




(“Lisa e o Diabo” (“Lisa e il Diavolo”, 1973). De Mario Bava):

(“A realidade e sonho demoníaco sugerido pela Morte Inevitável?”):

(crítica por Rafael Vespasiano).



“Um trabalho de beleza demoníaca de Mario Bava. “Lisa e o Diabo” (“Lisa e il Diavolo”, 1973). Lisa é um a turista passando por Roma, Itália, que se perde pelas ruas da cidade, e, ao encontrar uma mansão mórbida, Lisa adentra a um mundo de situações bizarras e de pessoas bizarras, que ao se envolverem com ela, levam Lisa a um pesadelo real/irreal macabro, conduzido pelo suspeito mordomo da mansão.

Filme no qual realidade e fantasia se misturam. Aqui, personagens decadentes e manequins são controlados por um ventríloquo que brinca com linhas invisíveis e esconde sob aparência humana sua verdadeira e diabólica natureza. Será?

No início do filme, Lisa (Elke Sommer) chega à praça principal da cidade, onde há um afresco que, segundo o guia turístico do local, teria permanecido intacto desde a Idade Média graças ao poder do Diabo, o qual no quadro é visto carregando um homem morto. Ao afastar-se do grupo, a protagonista ouve o doce som de uma caixa de música, que a conduz à loja de antiguidades onde está Leandro (Telly Savalas), um homem muito parecido com o Diabo da pintura.

Toda a trama a parir de então é sugerida numa dualidade dinâmica de beleza e horror; divino e diabólico; sonho e realidade; numa sugestão de vidas passadas e presentes, transitando sempre entre o violento, o profano e o diabólico, características típicas da filmografia do cineasta Mario Bava. Que em Lisa e o Diabo, realiza um trabalho primoroso em todos os sentidos.

 No mundo habitado por esses seres, o tempo sempre se submete ao conteúdo onírico, relacionado ao Tempo, à Arte e à Morte. Portanto, o filme remete sempre à Mortalidade e à Imortalidade numa relação dinâmica de opostos que se complementam.”