(As Chaves do Reino,
de 1944, EUA, John M. Stahl):
(“UM CLÁSSICO ENVELHECIDO: PECK O SALVA DO ESQUECIMENTO DO
TEMPO”):
(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)
“As
Chaves do Reino, de 1944, EUA, baseado
no romance do escritor famoso, em meados do século XX, hoje esquecido nas livrarias,
ao menos por aqui, se trata do autor A. J. Cronin.
É um filme que é um dramalhão melodramático, que funciona às
vezes, mas tem muitas falhas, principalmente, o roteiro muito desigual em
narrar a vida inteira do padre Francis Chisholm. Com o intuito declarado de
sensibilizar e trazer o espectador para o lado do humilde padre, acusado
injustamente de heresias contra os dogmas católicos.
O
diretor é John M. Stahl, um
respeitado cineasta, em especial nos anos 1930-40. O roteiro é assinado por uma
dupla incrível – Joseph L. Manckiewicz e Nunnally Johnson, ambos com sólidas carreiras como produtores e diretores, além de
roteiristas. O papel central coube a um ator então iniciante – o filme de Stahl
era apenas o segundo filme do excelente ator Gregory Peck, depois de Quando a Neve Tornar a Cair, um
estranho esforço de guerra que homenageia o então aliado Josef Stálin, com
direção de Jacques Tourneur.
O elenco tem ainda nomes de peso na época: Thomas Mitchell,
Vincent Price, Cedric Hardwicke. Tem a participação especial de um ator mirim
que teria longa e prestigiosa carreira, Roddy McDowall. A trilha sonora é do
grande Alfred Newman.
É uma história sobre valores morais, fé, religião, bondade,
dedicação. O personagem principal – o papel de Gregory Peck – é um padre, o
padre Francis Chisholm. E Peck desempenha com perfeição, a sua primeira grande
atuação de várias, em sua longa carreira, gloriosa e vitoriosa também como
indivíduo-cidadão do mundo. As chaves do reino, ele já esbanja domínio cênico,
pena que o filme peca, desculpem o verbo-trocadilho, no roteiro, demasiado
piegas.
A narrativa começa em 1938, com a desconfiança do monsenhor
(interpretado por Sir Cecil Hardwicke), que havia sido enviado à pequena cidade
escocesa de Tweedside, para investigar como estava se saindo o idoso padre
Francis, que, após muitas décadas vivendo e trabalhando como missionário na
China, havia voltado um ano antes para sua cidade natal e assumido a paróquia
para finalizar sua vida episcopal nessa cidade. E percebe alguns comportamentos
e comentários fora dos padrões canônicos do dogmatismo católico, na forma que o
padre Francis se relaciona com seus paroquianos.
Após uma semana de observação, o monsenhor se prepara para
dar sua opinião ao seu superior em outra cidade, mas antes de partir, na noite anterior
à partida, O monsenhor se retira então para o quarto que tem ocupado naquela
semana. Na estante, ele vê um grande volume de capa dura, com o título “A
jornada de Francis Chisholm”. É o diário escrito pelo padre. O monsenhor fica
curioso, começa a ler – e o espectador passa então a ver na tela a história que
o padre Francis narra e o monsenhor vai lendo noite adentro.
A
maior parte da narrativa é ocupada pela permanência do padre Francis no
interior da China. Além do próprio protagonista, há dois personagens fascinantes
na história criada por A. J. Cronin. Um é um ateu que o padre Francis gostaria
que estivesse no céu – um amigo dele desde a juventude, Willie Tulloch,
interpretado por Thomas Mitchell. Willie é uma pessoa bondosa e generosa
como pode ser um budista, hindu, católico ou ateu, etc. É ser humano e pronto. Enquanto
Francis estudava no seminário para ser padre, Willie cursava Medicina. Irá
visitar o amigo na China, levando um grande estoque de remédios.
A
outra personagem interessantíssima é a madre Maria-Veronica (o papel de Rose
Stradner). Ela é a superiora do grupo de três freiras enviadas para ajudar o
padre Francis na sua missão. É uma austríaca de família aristocrática – a mãe é
baronesa –, e apesar de ser madre, é um poço de frescura, orgulho, preconceito.
Antipatiza-se profundamente com aquele padre simples, que faz todo tipo de trabalho
manual e está sempre sujo de poeira.
Uma
madre que não é ‘bondosa’ e demora a se evangelizar por completo; um ateu
convicto que é um missionário, sem perceber, um poço de bondade. E o bispo que,
aparece, em um determinado momento do filme, que quer derrubar o padre Francis,
e, é puro interesse hierárquico e não vocacional.
A.
J. Cronin deixa bastante clara sua visão de mundo: as aparências enganam. Há
santos entre os ateus e pecadores entre os que usam paramentos religiosos. Esse
maniqueísmo envelheceu o filme de Stahl, mas não tira o brilho da primeira
grande interpretação da inesquecível carreira clássica de um dos maiores atores
de todos os tempos, Gregory Peck.”.
LINK-BASE: http://50anosdefilmes.com.br/2015/as-chaves-do-reino-the-keys-of-the-kingdom/
ASSINADO POR: SÉRGIO VAZ.
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