Apesar de o filme ter sido restaurado, em 1999, para
quase 240min, 3h 59, sua versão original e idealizada por von Stroheim só foi
exibida uma única vez, portanto sua versão original de 9h30 é hoje considerada
perdida. O longa foi considerado pelo crítico estadunidense Roger Ebert como a
"Vênus de Milo" do Cinema. Um trabalho que, ainda que absurdamente
mutilado, ainda assim permanece memorável e ímpar na História do Cinema. Para
completar esta questão trágica da mutilação dos originais do filme, vale citar
a frase de outro pesquisador Rick Schmidlin, que restaurou o filme para a
versão de quase 4h: “o material perdido tem sido chamado de 'O Santo Graal' do
Cinema. O que nós tentamos fazer foi uma reconstrução da narrativa perdida que
Erich von Stroheim originalmente pretendeu contar".
Ouro e Maldição é referência direta e/ou indireta para
diversos filmes que abordam a questão da ambição e da ganância seja por status
social, ouro, fama e/ou poder. Ouro e Maldição é a adaptação do romance
"McTeague", de Frank Norris, escritor estadunidense, influenciado
pelo estilo naturalista de Émile Zola. Uma das características mais fortes do
romance de Norris, transpostas fielmente para o filme, é a recorrência de
alguns traços do Naturalismo-científico do século XIX, como a inalienável força
da hereditariedade, o poder determinista também dos instintos do sexo e da
violência, as precárias condições de vida das classes mais baixas, esta questão
é facilmente perceptível no enredo do filme, em relação aos mineradores, referência
clara do livro de Norris ao romance “Germinal”, de Zola.
Fiel ao ultrarrealismo
preconizado no romance de Frank Norris, Erich von Stroheim exigiu que as
filmagens fossem feitas nas próprias locações mencionadas no romance e, na
busca por uma adaptação o mais fiel possível, descartou o uso de um roteiro
adaptado e procurou filmar todo o livro, página a página.
Depois de trabalhar por um bom tempo no ramo da
mineração, John McTeague se muda para a Califórnia, onde passa a trabalhar
ilegalmente como dentista e casa-se com Trina, prima de seu amigo Marcus,
também interessado nela. Quando, Trina ganha cinco mil Dólares na loteria, o
que era pra ser um episódio para ser comemorado termina sendo o estopim de uma
série de eventos que viriam a destruir o matrimônio, a carreira e, por fim, a
vida de todos os três protagonistas do enredo, influenciados pela ambição pelo
ouro.
O cineasta emprega alguns recursos narrativos em Ouro
e Maldição, tanto na montagem, quanto nas imagens sobrepostas, que são
interessantes. Ao longo do filme, Stroheim utiliza um casal de canários
amarelos como forma simbólica e sugestiva da ambiência do lar de Trina e
McTeague.
Stroheim realizou um dos filmes mais influentes e
fortes do Cinema, aparentemente, o roteiro preso às situações simples e
corriqueiras da vida, porém, por outro lado e por isso mesmo, faz pensar em situações
e em questões das mais existenciais e filosóficas possíveis, tais como: o
desejo por riqueza preso às pessoas -, diversas pessoas arriscavam suas vidas
em minas de minério e petróleo, num misto de aventura, barbárie e ambição. No
filme, percebe-se o interesse dos protagonistas em crescer em status social,
porém, numa avareza hiper-realista, que os perturba, os deforma e os destrói
para si mesmos, inconscientemente, e, também para a família, para a sociedade e
para um espectador que assiste a tudo num crescente de compaixão e terror ante
à tragédia que se delineia para McTeague, Trina e Marcus. ”
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