"Raízes
do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda. É uma obra ensaística
histórico-sociológica, que busca demonstrar alguns aspectos da formação social,
cultural e histórica do país. O autor sempre se vale de uma metodologia baseada
em pares de opostos complementares e paradoxais, para ressaltar nossa
constituição como nação, o que por si só já revela nossas eternas contradições,
enquanto um país periférico, Quanto à questão que o ensaísta levanta acerca do
"homem cordial" brasileiro, ou melhor, a suposta cordialidade do
brasileiro, fica evidente que o dito homem cordial do país é, na verdade, um
ser que, apenas, aparenta tal feição, sempre buscando se manter no poder e com
seu status quo de dominância, qual seja: homem (gênero masculino), branco, o
qual baseando-se no patriarcado personalíssimo, faz de tudo para continuar nas
posições de mando, inclusive se valendo da violência e da exploração. Outro
ponto levantado por Holanda que merece atenção é que nossos colonizadores
sempre buscaram explorar nossas riquezas, com total desleixo por parte
daqueles, com seu estilo "aventureiro", que se baseando na escravidão
dos indígenas e dos africanos que foram trazidos à força para cá, colonizaram o
país, a partir de latifúndios de monoculturas e do plantio irresponsável,
somente visando o lucro imediato e cada vez mais maior, além da posterior
exploração da minas, o que leva às Entradas, outra questão bastante comentada
por Holanda em sua obra. Neste ponto, o autor ressalta as contradições e
paradoxos das Bandeiras no processo de formação da nação. Por outro lado, um
erro evidente do ensaísta é acreditar numa suposta democracia racial no Brasil,
questão que já se provou equivocada com os recentes estudos decoloniais.
Afirmar que os indígenas quase nunca se rebelavam contra a escravidão ou a
catequização é uma afirmação errônea. E que aqueles eram mais
"dóceis" que os negros africanos escravizados, é outro equívoco. Para
mim, de toda sorte, uma das mais sensatas afirmações do autor é que a
democracia no país é um grande mal-entendido. Basta vermos a situação do
Brasil, em pleno 2022. Um livro importantíssimo para compreendermos nosso país
e sua formação, mas que devem ser feitas algumas ressalvas em virtude,
especialmente, dos novos estudos sociológicos, históricos e culturais, em
especial, os decolonais.