terça-feira, 31 de outubro de 2017

O Médico e o Monstro (Rouben Mamoulian, EUA, 1931):

O Médico e o Monstro (Rouben Mamoulian, EUA, 1931):


Por Rafael Vespasiano.





“O cientista Henry Jekyll, fascinado pela dualidade dinâmica e irônica-dramática entre o bem e o mal, desenvolve um produto químico que o transforma em um perigoso assassino, que passa a ser conhecido como Sr. Hyde, revelando o lado sombrio que se esconde dentro dele. Dirigido soberbamente por Rouben Mamoulian, esta história que é baseada no romance de Robert Louis Stevenson, o cineasta faz uso de ângulos e câmeras subjetivas de uma forma inovadora e magistral.
No mesmo ano foram lançados “Frankenstein”, “Drácula” e “O Médico e o Monstro”, entrando para a lista dos primeiros grandes filmes de terror. Terror este que vem com toda uma temática de drama associada, em específico o drama de consci~enciaa das personagens protagonistas marcadas sempre por uma dualidade dinâmica irônica e reflexiva. Servindo como um palco para discutir questões humanas e existenciais. Para uma época onde o som praticamente acabava de surgir no cinema e não existiam recursos suficientes para grandes efeitos especiais, este filme conduzido por Mamoulian surpreende.
Observamos os efeitos durante as mudanças físicas da personagem principal, que se transforma num mostro bizarro, assim como a mudança de comportamento deste, que ganha destaque na grande interpretação do ator Fredric March, que acabou levando o Oscar de Melhor ator, dividindo o prêmio com Wallace Beery (“O Campeão”) por conta da diferença de apenas um voto (na época isto era considerado um empate na categoria). Complementando, temos a ótima fotografia de Karl Struss, na produção de Adolph Zukor (que também foi o produtor da versão anterior, de 1920) e, por fim, um diretor respeitado e ousado, Rouben Mamoulian, adaptando para as telas um grande clássico sobre a dualidade da alma humana, escrito por Robert Louis Stevenson: “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, publicado em 1886.
O resultado, considerado bem fiel à proposta da obra escrita, discute a existência do bem e do mal dentro de cada pessoa de forma indissociável, às vezes conciliadoras entre aquelas forças, outras vezes as forças do bem e do mal não conseguem se manter controladas, e uma se sobressai sobre a outra, o que é normal para qualquer ser humano.
A transformação da personalidade fica bem representada nas mudanças da voz, na expressão corporal (com direto a um pouco de acrobacias), nos gritos, violência e falta de polidez e educação com os outros, contradizendo exageradamente com o Dr Jekyll, sempre gentil, bondoso e cuidadoso com as pessoas. Com grandes enquadramentos e movimentos de câmera, ficou fácil contemplar o filme. Logo no início podemos perceber a originalidade no uso da técnica de mostrar a visão da perspectiva do médico. Em outros momentos, a exibição de 2 cenas ao mesmo tempo – com a tela dividida – também se tratou de uma das primeiras inovações do tipo.

Somente no final da década de 60 o diretor revelou como os efeitos foram produzidos. Ao que parece, a equipe de maquiagem da Paramount construiu uma prótese para o personagem do Sr. Hyde, e os efeitos para a transformação usavam manipulação de uma série de filtros de cores na frente da lente da câmera. Durante a primeira cena da transformação, os ruídos que acompanham a trilha sonora incluem um sino soando ao fundo e supostamente uma gravação com a batida do coração do diretor Rouben Mamoulian. Incrível e original. Uma obra-prima. ”  






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