(Rainha Cristina, 1933, de Rouben Mamoulian, EUA):
(Por Rafael Vespasiano).
“Rainha
Cristina é dirigido magistralmente tecnicamente e com excelente direção de
atores pelo cineasta Rouben Mamoulian. Um filme estrelado pela magistral Greta
Garbo, que se cansara de desempenhar a eterna tentadora, de vida dissoluta, que
acabava por sofrer fins inenarráveis, depois de ter destroçado vidas à sua
volta. Por outro conseguia finalmente ser centro de um conjunto de filmes de
enormes valores de produção, inspirados em personagens históricas de maior
complexidade e empatia com o seu público. Por fim, para este filme, Garbo
conseguia o regresso de John Gilbert, cuja carreira definhava com o advento do
sonoro. Todos estes elementos se conjugavam na reinterpretação da história dos
amores da Rainha Cristina da Suécia, afinal o país de onde Garbo era
proveniente. A atriz lera a história de Salka Viertel, quando estava de férias
na Suécia e decidiu que era hora de trazer uma sua conterrânea para o cinema.
Rainha Cristina conta
a história daquela que foi rainha da Suécia em meados do século XVII, numa
época em que o reino era um dos mais poderosos do norte da Europa, vitorioso na
Guerra dos Trinta Anos, e defensor ardente do protestantismo. Cristina (Greta
Garbo) surge representada tal como era, mulher independente, de personalidade
forte, amada do seu povo, com forte sentido de estado e uma grande paixão pelo
conhecimento e cultura, quer científicos quer artísticos, numa atuação exemplar
e contundente artisticamente realizada por Garbo e conduzida pelo diretor do
filme Mamoulian.
É essa a trama da história do filme de Rouben
Mamoulian (um cineasta célebre e reconhecido pela versão da Paramount da
história O Médico e O Monstro, de
1931, uma das melhores versões para a telona do romance de Stevenson), que
coloca a ênfase do filme nas pressões para a necessidade de casamento, como
forma de garantir herdeiros para a coroa. Os ‘caprichos’ da rainha ganham
proporções de assuntos de estado, quando a rainha se apaixona pelo embaixador
de Espanha, Don Antonio (John Gilbert), e com isso começa a ganhar a oposição
de todo o reino. Resta-lhe apenas decidir entre casar com Charles e esquecer o
seu amor, ou deixar o reino por Don Antonio.
Temos assim Greta Garbo em mais uma história
de amor, mas agora como uma mulher de honra, disposta a trocar um reino pelo
homem que ama. É, como sempre, uma personagem dominante, mesmo nas relações
amorosas. O filme termina com uma grande sequência de ‘aventura’, onde não
falta um duelo final, mas mais que o destino dos homens, é o destino da rainha
que nos interessa. Faltando aqui o fato de Cristina ter fugido para Itália onde
se converteria ao Catolicismo, isso é deixado em aberto, para vermos apenas uma
mulher resoluta, que não se quer deixar amarrar a convenções, senhora do seu
destino, como o ilustrado na cena final, o grande plano famoso em que vemos
Garbo orgulhosa, na proa do seu navio. ”
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