terça-feira, 17 de outubro de 2017

Rainha Cristina, 1933, de Rouben Mamoulian, EUA

(Rainha Cristina, 1933, de Rouben Mamoulian, EUA):

(Por Rafael Vespasiano).




Rainha Cristina é dirigido magistralmente tecnicamente e com excelente direção de atores pelo cineasta Rouben Mamoulian. Um filme estrelado pela magistral Greta Garbo, que se cansara de desempenhar a eterna tentadora, de vida dissoluta, que acabava por sofrer fins inenarráveis, depois de ter destroçado vidas à sua volta. Por outro conseguia finalmente ser centro de um conjunto de filmes de enormes valores de produção, inspirados em personagens históricas de maior complexidade e empatia com o seu público. Por fim, para este filme, Garbo conseguia o regresso de John Gilbert, cuja carreira definhava com o advento do sonoro. Todos estes elementos se conjugavam na reinterpretação da história dos amores da Rainha Cristina da Suécia, afinal o país de onde Garbo era proveniente. A atriz lera a história de Salka Viertel, quando estava de férias na Suécia e decidiu que era hora de trazer uma sua conterrânea para o cinema.
Rainha Cristina conta a história daquela que foi rainha da Suécia em meados do século XVII, numa época em que o reino era um dos mais poderosos do norte da Europa, vitorioso na Guerra dos Trinta Anos, e defensor ardente do protestantismo. Cristina (Greta Garbo) surge representada tal como era, mulher independente, de personalidade forte, amada do seu povo, com forte sentido de estado e uma grande paixão pelo conhecimento e cultura, quer científicos quer artísticos, numa atuação exemplar e contundente artisticamente realizada por Garbo e conduzida pelo diretor do filme Mamoulian.
É essa a trama da história do filme de Rouben Mamoulian (um cineasta célebre e reconhecido pela versão da Paramount da história O Médico e O Monstro, de 1931, uma das melhores versões para a telona do romance de Stevenson), que coloca a ênfase do filme nas pressões para a necessidade de casamento, como forma de garantir herdeiros para a coroa. Os ‘caprichos’ da rainha ganham proporções de assuntos de estado, quando a rainha se apaixona pelo embaixador de Espanha, Don Antonio (John Gilbert), e com isso começa a ganhar a oposição de todo o reino. Resta-lhe apenas decidir entre casar com Charles e esquecer o seu amor, ou deixar o reino por Don Antonio.

Temos assim Greta Garbo em mais uma história de amor, mas agora como uma mulher de honra, disposta a trocar um reino pelo homem que ama. É, como sempre, uma personagem dominante, mesmo nas relações amorosas. O filme termina com uma grande sequência de ‘aventura’, onde não falta um duelo final, mas mais que o destino dos homens, é o destino da rainha que nos interessa. Faltando aqui o fato de Cristina ter fugido para Itália onde se converteria ao Catolicismo, isso é deixado em aberto, para vermos apenas uma mulher resoluta, que não se quer deixar amarrar a convenções, senhora do seu destino, como o ilustrado na cena final, o grande plano famoso em que vemos Garbo orgulhosa, na proa do seu navio. ” 



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