PANORAMA
DOMINGOS OLIVEIRA:
(28 de setembro-1935-23 de março-2019) - 83 anos:
- Cineasta, diretor de teatro, roteirista, dramaturgo e ator;
falecido no dia 23 de março, Domingos Oliveira era um homem das Artes e para as
Artes. “São as obras artísticas, as obras de autor, que elevam a importância
social e econômica das atividades culturais. E abrem os mercados externos”, ele
afirmou. Celebrar sua memória e sua obra, é valorizar, portanto, a relevância
da arte como identidade cultural e artística para qualquer sociedade e qualquer
nação.
Pelas realizações de sua carreira, que os números podem
ajudar a entender a dimensão de seus feitos – em mais de 60 anos de profissão é
diretamente vinculado a mais de 130 títulos encenados, tendo escrito mais de 20
peças, dirigido mais de 50, tendo realizado algumas traduções e dirigido 22
longas-metragens – entre eles uma obra-prima do cinema brasileiro chamada Todas as Mulheres do Mundo (1966), filme
que o lançou, assim como também sua esposa, à época, a atriz Leila Diniz. Mas,
mesmo assim, Domingos continuará sendo um eterno e bom mistério, que nos cabe
sempre procurar decifrá-lo por meio de suas obras.
- FILMOGRAFIA (20 filmes, 2 inéditos): como diretor:
1966 – Todas as Mulheres do Mundo
1968 – Edu Coração de Ouro
1969 – As Duas Faces da Moeda
1970 – É Simonal
1971 – A Culpa
1975 – As Deliciosas Traições do Amor
1977 – Vida Vida: “Os caseiros” (episódio)
1968 – Edu Coração de Ouro
1969 – As Duas Faces da Moeda
1970 – É Simonal
1971 – A Culpa
1975 – As Deliciosas Traições do Amor
1977 – Vida Vida: “Os caseiros” (episódio)
1979 – Teu Tua
1998 – Amores
2002 – Separações
2004 – Feminices
2005 – Carreiras
2008 – Juventude
2008 – Todo Mundo tem Problemas Sexuais
2012 – Primeiro dia de Um Ano Qualquer
2012 – Paixão e Acaso
2014 – Infância
2016 – Barata Ribeiro, 716 (BR716)
2017 – Os 8 Magníficos (inédito)
2019 – Aconteceu na Quarta-Feira (inédito)
1998 – Amores
2002 – Separações
2004 – Feminices
2005 – Carreiras
2008 – Juventude
2008 – Todo Mundo tem Problemas Sexuais
2012 – Primeiro dia de Um Ano Qualquer
2012 – Paixão e Acaso
2014 – Infância
2016 – Barata Ribeiro, 716 (BR716)
2017 – Os 8 Magníficos (inédito)
2019 – Aconteceu na Quarta-Feira (inédito)
* 4 filmes televisivos; episódios para
duas séries de TV;
- Todas as Mulheres do Mundo (1966):
Paulo
(Paulo José) é um jornalista boa vida que passa a maior parte do tempo
paquerando as belas mulheres das praias cariocas. Certo dia, esse sedutor acaba
encontrando o verdadeiro amor, ao conhecer Maria Alice (Leila Diniz) uma jovem
professora e noiva do amigo Leopoldo (Ivan de Albuquerque). Apaixonado por ela,
ele enfrenta o dilema de desistir de todas as mulheres do mundo para viver com
uma só.
- Edu Coração de Ouro (1968):
Edu Coração
de Ouro é uma comédia bastante reflexiva
sobre a vida de um playboy, brilhantemente vivido por Paulo José, o Edu do
título. Trata de questões como: a alienação de certa parcela da juventude dos
anos 60, que se mantinha fora da discussão sobre questões políticas (à época a
Ditadura Militar estava implantada no Brasil desde 1964); a vida fácil dos
playboys do RJ, que vivia às custas do dinheiro da família e não ligava para os
estudos ou trabalho, mas só para diversão e farras; trata também de relações
amorosas, ora ‘líquidas’ (cf. Zygmunt Bauman) (no caso de Edu), ora mais
“consolidadas” (no caso do amigo do protagonista).
- Amores
(1998): com Priscilla Rozenbaum.
Domingos Oliveira é um intelectual por natureza e um
diretor-ator-escritor completo. O filme Amores
é recheado de referências a outras obras, livros, filmes, etc., mostrando seu
conhecimento em várias áreas, o que deixa o filme melhor e mais atrativo, lembrando
por diversas vezes os filmes de Woody Allen, Domingos segundo alguns críticos
de cinema seria o “Allen Brasileiro”. Amores
mostra as relações interpessoais, sentimentais, familiares, sexuais, etc. Todos
(ou quase todos) os sentimentos humanos são mostrados no filme, sem o diretor
se intrometer ou ser parcial quanto a eles, estes são apenas mostrados e, o
espectador que tire suas conclusões.
-
Feminices (2004): com Priscilla Rozenbaum.
O cineasta utiliza neste filme sua dose habitual de humor
leve ao realizar uma crônica da mulher contemporânea, Domingos Oliveira criou o
que ele mesmo chama na abertura do filme de “uma experiência, uma brincadeira,
um quase-documentário”. Para o cineasta, a forma de atingir o geral é lidando
com o particular, nesta infinita transição do universal para o particular, e,
do particular para o geral, dessa forma, ele foca a sua história num grupo
etário e social (atrizes de 40 anos) e acaba falando do universal.
* Cf. A Peça Confissões
de Mulheres de 30.
-
Carreiras (2005): com Priscilla Rozenbaum.
É fácil perceber a tensão, o temor e a ansiedade da atriz. A
Laura de Carreiras está incrivelmente
‘arrasando’ e arrasada em cena, uma verdadeira avalanche de emoções,
sentimentos e paixões. Sob a mira da lente digital do diretor de fotografia,
Dib Lutfi, Priscilla Rozenbaum (viúva de Domingos) passa mais da metade dos 72
minutos de Carreiras contracenando
com um telefone.
-
Juventude (2008): com Domingos Oliveira, Paulo José, Aderbal Freire Filho.
Entre as lembranças de juventude está a primeira vez que
estiveram juntos, quando foram selecionados para a peça A Ceia dos Cardeais, encenada na escola. Assim como no texto do
português Júlio Dantas, os três amigos se reúnem e contam seus segredos
amorosos mais íntimos uns aos outros. Juventude
é um dos filmes mais felizes e simpáticos da safra do cinema nacional da
década de 2000. Juventude é lindo, a
tessitura complexa deste roteiro, de autoria de Domingos, cria diversas camadas
para que estes homens assumam e ultrapassem a queda de suas muitas crenças pela
vida – como diz o diretor em off no
início, deixando para trás a psicanálise, o marxismo, a revolução e a razão. Só
sobrou o amor, a emoção.
- Todo Mundo tem Problemas Sexuais
(2008): com Priscilla Rozenbaum.
Filme que ao mesmo tempo é teatro, ou seria o contrário, de
qualquer forma um continuum entre
teatro-cinema; peça-roteiro (a origem é justamente uma peça teatral escrita e
montada pelo próprio Domingos Oliveira). Esta é mais uma característica dominguiana o diálogo entre Teatro e
Cinema, pois aparece em vários outros filmes seus.
Nenhuma outra parte do filme é tão divertida quanto a final,
no epílogo em que Pedro Cardoso interpreta, nada mais, nada menos, do que o
pênis, o falo: uma situação que veio do teatro e costuma, literalmente, levar a
plateia às lágrimas, de tanto chorar de rir. Em várias sequências,
Domingos Oliveira intercala cenas da montagem de um esquete com trechos de
apresentações teatrais da mesma situação, o que dá um interessante e hilariante
diálogo entre as artes, um dialogismo ímpar, um dialogismo dominguiano.
- Infância (2014): com Fernanda Montenegro.
Infância conserva aquela que é a melhor característica do diretor,
roteirista, dramaturgo: o amor por seus personagens. Mesmo quando os mostra em
contradição, em atitudes pouco edificantes, ele nunca os julga nem expõe. Pelo
contrário, tece em torno deles uma aura de carpintaria teatral delicada, que
revela sua humanidade, sua conexão com toda a humanidade, capaz de despertar a
identificação com o público, pelo humor, pela ternura, até mesmo pela
compaixão.
Assim como fez Federico Fellini em Amarcord, as recordações verdadeiras se misturam com as versões
poéticas do passado. E por entre os fantasmas que evocam as imagens do tio
histérico, do odioso primo mais velho e da copeira tentadora sobressaem as
figuras dominantes da mãe e da avó – a matriarca da família, insuportável e, ao
mesmo tempo fascinante.
- Barata
Ribeiro, 716 (BR716) (2016):
Carinhoso e também contundente e mordaz, BR 716 é o retrato
da juventude daquele tempo (anos 60), o panorama de um Rio de Janeiro que já
não existe mais. Entre diálogos e longas divagações, outra marca registrada do
estilo de Domingos Oliveira nos é apresentado caminhos que foram interrompidos
por alguma coisa que estava fora da percepção daquelas personagens, sendo que
todas essas personagens são o próprio Domingos Oliveira, metaforicamente.
Pois, entre festas felizes e intermináveis, com muitas
bebedeiras, nas quais seus amigos passam mais tempo no tal apartamento do que
em suas próprias casas, Felipe (Caio Blat) transita por entre eles num dominguiano (já temos um adjetivo para qualificar a obra do
grande artista) tom de melancolia por não conseguir terminar de escrever seu
primeiro romance, ou será um roteiro de cinema, ou uma peça de teatro, nem o
próprio protagonista Felipe o sabe, ou seria Domingos que ainda não sabia que
estava construindo seu roteiro para o filme Barata Ribeiro, 716.
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