Um dos maiores mitólogos do país (e do mundo) é Eudoro de Sousa. No livro Catábases – estudos sobre viagens aos infernos na Antiguidade, o autor tem reunido suas conferências/aulas proferidas em lendário curso ministrado por ele na UnB nos anos 1960 sobre Mitologia, em especial sobre as catábases da Antiguidade Clássica, mas como bom professor, Eudoro de Sousa amplia o escopo e trata das catábases pré-helênicas (dos plantadores primitivos, da Mesopotâmia), inclusive traduz algumas catábases/textos sumero-acadianos. O tema da descida aos infernos é definido pelo próprio escritor como escatológico, porém, essa definição vai além, pois se trata é, principalmente, de “uma visão do futuro”, como vemos por exemplo, na Odisseia (o futuro retorno de Ulisses à Ítaca), na Eneida (quando no Além, Eneias vem o futuro de Roma) e, até mesmo, nos Lusíadas, já no Renascimento (quando Gama vem o futuro do Império Colonial Português). Grande obra de referencial teórico sobre o tema.
Críticas literárias, cinematográficas, musicais, artes visuais e peças teatrais.
sábado, 29 de janeiro de 2022
domingo, 16 de janeiro de 2022
Alice Munro: O cotidiano nada trivial.
Os contos de "Ódio, amizade, namoro, amor, casamento" (2014), de Alice Munro, uma coletânea que totaliza nove contos, é um livro marcado pelas errantes viagens e travessias de diversas personagens femininas em busca da sua ressignificação enquanto "ser feminino" no mundo contemporâneo. Temas como: amores frustrados, traições, desconstrução do mito materno e a questão das relações familiares em deterioração/ruínas são recorrentes no livro, todas marcadas pelo acaso, por um momento que define o "antes" e o "depois" na busca da personagem. O silêncio e o interdito também se fazem presentes nos contos, pois, muitas vezes, nas relações das personagens, a incomunicabilidade se faz perceptível; se percebe também a inutilidade ou a insuficiência da linguagem para expressar os sentimentos das personagens. Narrativas marcadas pelo fluxo de consciência, pela rememoração, por flashes e cortes temporais, muitas vezes bruscos, Munro capta momentos nada triviais nas histórias cotidianas das suas personagens.
terça-feira, 11 de janeiro de 2022
À Deriva no Mundo - Livro por Rafael Vespasiano: disponível em versão digital.
Muito
feliz por lançar e compartilhar com vocês a segunda edição do meu primeiro
livro de poemas, À deriva no mundo. Fruto de uma experiência de escrita e
rescrita, que durou prazerosos e também dificultosos longos anos (cerca de 15),
desde quando escrevi o primeiro poema que dele faz parte até a versão digital
que ora lanço e compartilho com o público leitor. Esta é uma edição revista e
muito modificada em relação à primeira edição, corrigidos alguns erros de
revisão, adicionados alguns poemas e retirados outros tantos. Enfim, deixo a
cargo dos leitores e das leitoras a devida apreciação.
Rafael
Vespasiano (Escritor e Poeta).
Link
para conhecer a obra: https://www.amazon.com.br/dp/B09KYJ6X5S/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=3N89RGMDDNFE1&dchild=1&keywords=%C3%A0+deriva+no+mundo&qid=1635967763&sprefix=%C3%A0+deriva+no+mundo%2Caps%2C607&sr=8-1
segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
"Raízes do Brasil", Sérgio Buarque de Holanda: Contradições da/na formação do Brasil enquanto nação.
"Raízes
do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda. É uma obra ensaística
histórico-sociológica, que busca demonstrar alguns aspectos da formação social,
cultural e histórica do país. O autor sempre se vale de uma metodologia baseada
em pares de opostos complementares e paradoxais, para ressaltar nossa
constituição como nação, o que por si só já revela nossas eternas contradições,
enquanto um país periférico, Quanto à questão que o ensaísta levanta acerca do
"homem cordial" brasileiro, ou melhor, a suposta cordialidade do
brasileiro, fica evidente que o dito homem cordial do país é, na verdade, um
ser que, apenas, aparenta tal feição, sempre buscando se manter no poder e com
seu status quo de dominância, qual seja: homem (gênero masculino), branco, o
qual baseando-se no patriarcado personalíssimo, faz de tudo para continuar nas
posições de mando, inclusive se valendo da violência e da exploração. Outro
ponto levantado por Holanda que merece atenção é que nossos colonizadores
sempre buscaram explorar nossas riquezas, com total desleixo por parte
daqueles, com seu estilo "aventureiro", que se baseando na escravidão
dos indígenas e dos africanos que foram trazidos à força para cá, colonizaram o
país, a partir de latifúndios de monoculturas e do plantio irresponsável,
somente visando o lucro imediato e cada vez mais maior, além da posterior
exploração da minas, o que leva às Entradas, outra questão bastante comentada
por Holanda em sua obra. Neste ponto, o autor ressalta as contradições e
paradoxos das Bandeiras no processo de formação da nação. Por outro lado, um
erro evidente do ensaísta é acreditar numa suposta democracia racial no Brasil,
questão que já se provou equivocada com os recentes estudos decoloniais.
Afirmar que os indígenas quase nunca se rebelavam contra a escravidão ou a
catequização é uma afirmação errônea. E que aqueles eram mais
"dóceis" que os negros africanos escravizados, é outro equívoco. Para
mim, de toda sorte, uma das mais sensatas afirmações do autor é que a
democracia no país é um grande mal-entendido. Basta vermos a situação do
Brasil, em pleno 2022. Um livro importantíssimo para compreendermos nosso país
e sua formação, mas que devem ser feitas algumas ressalvas em virtude,
especialmente, dos novos estudos sociológicos, históricos e culturais, em
especial, os decolonais.