INTERESTELAR, GAROTA EXEMPLAR E O ABUTRE:
(TRÊS
FILMES ESTADUNIDENSES TÃO DÍSPARES ENTRE SI, MAS QUE SÃO OBRAS COM ASPECTOS
POSITIVOS MAIS DO QUE ASPECTOS NEGATIVOS – PARTE
III):
(CRÍTICAS
POR RAFAEL VESPASIANO).
3. INTERESTELAR
(EUA/CHRISTOPHER
NOLAN/2014):
“As
Horas cismam no ar parado:
— Passado.
As Horas bailam no ar fremente:
— Presente.
As Horas sonham no ar obscuro:
— Futuro.”.
(“As
Horas”, Da Costa e Silva).
|
-------------------------------------------------------
Dedicado
à Nat.
--------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------
“A
terceira parte desta série de críticas dos filmes indicados ao Oscar 2015 trata
da ficção-científica, Interestelar, que é tão boa quanto ao filme “Gravidade”,
de 2013, dirigido por Alfonso Cuarón. O filme do diretor mexicano concorreu ao
Oscar 2014 de melhor filme. Percebe-se certa saturação por parte da Academia em
relação aos filmes de “viagens espaciais” -, no ano passado, “Gravidade”, foi
indicado, mas não ganhou; em 2015, Interestelar,
concorre mais aos prêmios técnicos -, seu maior trunfo, e, não concorre ao
prêmio máximo. Talvez uma injustiça da Academia.
O roteiro de Interestelar, escrito por Nolan e seu
irmão Jonathan, é criativo,
espetaculoso (reforçado pelos efeitos visuais), engenhoso -, o filme não é cansativo, apesar de ter 2h 49min de duração. O enredo pode
confundir o espectador, não ao ponto deste não entendê-lo, porém ao ponto de
fazê-lo ficar procurando destrinchar todos os meandros da teoria científico-espacial
no enredo apresentada durante a projeção e não chegar ao fio da meada. Mas só
durante certo tempo de reflexão, pós-sessão (e gera um bom debate), e, isso não
demérito à película. Contudo, entendida a teoria que permeia o roteiro ficam as
perguntas: aquela é crível? é verossímil? os cientistas, realmente, trabalham
com ela? Questões como adentrar em um “buraco negro”; quarta dimensão; desafio
do tempo e do espaço; teorias gravitacionais, etc. São questões que não domino,
portanto não vou além, mas o roteiro é uma viagem, nesse sentido, e, pode ser
visto, por alguns, como mero espetáculo.
Porém, vale lembrar,
que hoje a ciência é vista, por exemplo, segundo o hermeneuta Gaston Bachelard,
a partir do surgimento da Física Quântica, como uma área do saber (qualquer
ciência) e suas inter-relações com quaisquer áreas científicas como algo que é
marcado por uma dualidade dinâmica em eterno devir, no qual o racional e o
irracional são contrários que se complementam e não existe um sem o outro. Mas
não são, pois sintéticos como Hegel imaginou em sua dialética, mas parabáticos,
irônicos e reflexivos como pensou o filósofo-poeta do Romantismo alemão, F.
Schlegel. Bachelard vai à linha deste e Nolan dos dois, pelo jeito.
A história se passa num
futuro não muito distante, em que os exércitos e guerras não existem mais e a
grande preocupação da humanidade é produzir comida suficiente para alimentar os
sobreviventes. O ensino superior é uma realidade cada vez mais restrita, e
fazendeiros é a mão de obra mais valiosa – afinal, são eles que seguem
plantando e gerando o alimento cada vez mais valioso. Essa é a atividade
profissional de Cooper (Matthew McConaughey, apenas uma atuação formal), um
ex-piloto que abraçou a vida no campo após ter ficado viúvo, preocupado com o
futuro dos dois filhos.
Christopher Nolan
declarou em mais de uma ocasião que sempre sonhou fazer um filme no espaço.
Após reverter a ordem das narrativas cronológicas e convencionais em “Amnésia”,
2000, revelar os segredos dos mágicos/ilusionistas em “O Grande Truque”, 2006,
invadir o mundo onírico humano em “A Origem”, 2010, e, apresentar o herói pós-moderno
da trilogia “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, ele finalmente conseguiu realizar
este antigo desejo, em Interestelar.
Nolan conseguiu
desenvolver uma trama a respeito da busca de um sentido para a nossa presença
no universo, ao mesmo tempo em que realizou um trabalho tipicamente seu, com
todo o esmero técnico já esperado, mas também dotado de uma profundidade filosófica
(e esta é o maior mérito do filme – o sentido da vida humana no planeta Terra).
Ainda que a inspiração óbvia seja “2001:
Uma Odisseia no Espaço”, 1968, de Stanley Kubrick, o hermetismo deste passa
longe, uma vez que essa nova jornada é menos truncada e mais acessível.
Com a quantidade de pragas
agrícolas se espalhando cada vez com mais força, primeiro foi o trigo, agora é
o quiabo, logo será o milho, e, a poeira que resulta de incêndios e da aridez
pela escassez de água tomando conta de todo o mundo, são poucos os que seguem
acreditando num mundo melhor. Cooper acredita e tem fé. Até -, que de uma
maneira que não vou revelar para não estragar a surpresa -, é convocado pelo
que restou da NASA, para uma missão ao espaço em busca de planetas habitáveis
para serem povoados pelo que resta da humanidade.
Apesar de tanta
reflexão científica, a maior reflexão é a filosófica que Nolan busca: o Amor,
os elos afetivos, carinho, solidariedade, relações interpessoais e sociais. Não
basta queremos ir à lua, a Marte, às mais variadas galáxias, se o problema está
aqui mesmo na Terra: somos nós; os homens inimigos do próprio homem, para
repetir parafraseando, imaginem!, um título do CD da banda punk paulista, Ratos
de Porão, de 2006. Outro que já falava sobre isso era o eterno guru, Raul
Seixas: pra quê ir à lua, se não há galinha em meu quintal, parafraseio aqui
também sua canção. O sociólogo mais atuante no século XXI, nesses estudos
mostra que nossa modernidade é líquida e fluida. Nossos sentimentos, como amor,
amizade, elos pessoais são frágeis, líquidos e fluidos, efêmeros e
transitórios. Como, em 2013, Spike Jonze mostrou no filme que dirigiu e
roteirizou, “Ela”, que concorreu em algumas categorias ao Oscar 2014, incluindo
na de melhor filme, mas perdeu para o apenas mediano “12 anos de escravidão”. (Conferir
a crítica do filme “Ela”, neste blog, em post datado de 20 de novembro de 2014). Inclusive, o diretor
de fotografia Hoyte Van Hoytema (o mesmo do filme de Jonze) faz um trabalho
espetacular e grandioso em Interestelar.
Uma questão interessantíssima
de se notar em Interestelar é a
questão sonora primorosa, desde a grandiosa trilha sonora composta por Hans
Zimmer, até o trabalho da equipe de som comandada por Richard King (que ganhou
o Oscar por outro filme de Nolan, “A Origem”). O filme é recheado de silêncios
e ruídos, que permitem a reflexão e a contemplação do espectador.
Amparado por um elenco
de grandes talentos, mas que são sobrepujados pela epicidade e tecnicidade do
filme – McConaughey está mais contido e no domínio pleno de suas capacidades
(mas não é aquele de “O Lobo de Wall Street”, nem de “Killer Joe” e nem chega
perto da sua atuação em “Clube de Compras Dallas”), mesmo assim chama todas as
atenções para si, ele é o protagonista destemido e heroico, mas permitindo que
Jessica Chastain, ainda que com tempo limitado em cena, consiga se destacar,
dentro de um elenco que tem ainda nomes de grandes atores como Anne Hathaway,
Michael Caine e John Lithgow. Destaco também a
excelente atuação da atriz mirim Mackenzie Foy (Murphy Cooper).
“Qual
nosso lugar, para onde vamos, de onde viemos?” (Perguntas do Crítico do site www.papodecinema.com.br, Robledo
Milani, feitas em sua crítica para aquele site, datada de 04 de novembro de
2014. Link: http://www.papodecinema.com.br/filmes/interestelar,
último acesso 11 de fevereiro de 2015, às 06h23. Completo: Qual a finalidade de nossas existências?”
-----------------------------------------------
·
PREMIAÇÕES:
·
Top 11 filmes do American Film
Institute:
"O Abutre"
"Boyhood"
"Caminhos da
Floresta"
"Foxcatcher"
"Birdman"
"Invencível"
"O Jogo da
Imitação"
"Interestelar"
"Selma"
"Sniper Americano"
"Whiplash"
·
INDICADOS
– BAFTA (OSCAR BRITÂNICO) – 2015:
-
MELHOR
TRILHA SONORA:
INTERESTELAR, Hans Zimmer.
-
MELHOR
FOTOGRAFIA:
INTERESTELAR, Hoyte van Hoytema.
-
MELHOR
DIREÇÃO DE ARTE:
INTERESTELAR, Nathan Crowley, Gary Fettis.
-
MELHORES
EFEITOS VISUAIS:
INTERESTELAR, Paul Franklin, Scott Fisher, Andrew
Lockley.
·
INDICADOS
– GLOBO DE OURO - 2015:
*MELHOR
TRILHA SONORA:
-
Interestelar,
por Hans Zimmer.
·
INDICADO – SINDICATO DOS DIRETORES DE
ARTE DOS EUA – 2015:
* FILME DE FANTASIA:
- INTERESTELAR, (Nathan Crowley).
·
INDICADO - SINDICATO DOS FIGURINISTAS
DOS EUA – 2015:
* FILME CONTEMPORÂNEO:
- INTERESTELAR, (Mary
Zophres).
·
INDICADOS – SINDICATO DOS MAQUIADORES E
PENTEADORES DOS EUA – 2015:
*FILME CONTEMPORÂNEO:
-
Make-Up
Artists: Luisa Abel and Jay Wejebe, INTERESTELAR.
-
Hair
Stylists: Patricia Dehaney and Jose L. Zamora, INTERESTELAR.
·
INDICADOS
– OSCAR – 2015:
-
MELHOR
DIREÇÃO DE ARTE;
-
MELHOR
EDIÇÃO DE SOM;
-
MELHOR
MIXAGEM DE SOM;
-
MELHORES
EFEITOS VISUAIS;
-
MELHOR
TRILHA SONORA;
----------------------------------------------------------
“Pena a não indicação
para melhor fotografia. Porém, Interestelar
é favorito em melhor trilha sonora, edição de som e mixagem de som. E
talvez ganhe o de efeitos visuais, mais à frente do que os outros indicados;
diferente é na disputa por direção de arte, onde o páreo é muitíssimo duro.”
---------------------------
“Próxima crítica, ainda hoje: Guardiões da Galáxia.
“Próxima crítica, ainda hoje: Guardiões da Galáxia.
E depois uma série
sobre: Ida, Leviatã e Relatos Selvagens.”
---------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------
Nenhum comentário:
Postar um comentário