quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

INTERESTELAR, GAROTA EXEMPLAR E O ABUTRE: (TRÊS FILMES ESTADUNIDENSES TÃO DÍSPARES ENTRE SI, MAS QUE SÃO OBRAS COM ASPECTOS POSITIVOS MAIS DO QUE ASPECTOS NEGATIVOS – PARTE III):

INTERESTELAR, GAROTA EXEMPLAR E O ABUTRE:

(TRÊS FILMES ESTADUNIDENSES TÃO DÍSPARES ENTRE SI, MAS QUE SÃO OBRAS COM ASPECTOS POSITIVOS MAIS DO QUE ASPECTOS NEGATIVOS – PARTE III):

(CRÍTICAS POR RAFAEL VESPASIANO).

3.      INTERESTELAR (EUA/CHRISTOPHER NOLAN/2014):


“As Horas cismam no ar parado:
  — Passado.
As Horas bailam no ar fremente:
            — Presente.
As Horas sonham no ar obscuro:
            — Futuro.”.
(“As Horas”, Da Costa e Silva).

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Dedicado à Nat.
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A terceira parte desta série de críticas dos filmes indicados ao Oscar 2015 trata da ficção-científica, Interestelar, que é tão boa quanto ao filme “Gravidade”, de 2013, dirigido por Alfonso Cuarón. O filme do diretor mexicano concorreu ao Oscar 2014 de melhor filme. Percebe-se certa saturação por parte da Academia em relação aos filmes de “viagens espaciais” -, no ano passado, “Gravidade”, foi indicado, mas não ganhou; em 2015, Interestelar, concorre mais aos prêmios técnicos -, seu maior trunfo, e, não concorre ao prêmio máximo. Talvez uma injustiça da Academia.

O roteiro de Interestelar, escrito por Nolan e seu irmão Jonathan, é criativo, espetaculoso (reforçado pelos efeitos visuais), engenhoso -, o filme não é cansativo, apesar de ter 2h 49min de duração. O enredo pode confundir o espectador, não ao ponto deste não entendê-lo, porém ao ponto de fazê-lo ficar procurando destrinchar todos os meandros da teoria científico-espacial no enredo apresentada durante a projeção e não chegar ao fio da meada. Mas só durante certo tempo de reflexão, pós-sessão (e gera um bom debate), e, isso não demérito à película. Contudo, entendida a teoria que permeia o roteiro ficam as perguntas: aquela é crível? é verossímil? os cientistas, realmente, trabalham com ela? Questões como adentrar em um “buraco negro”; quarta dimensão; desafio do tempo e do espaço; teorias gravitacionais, etc. São questões que não domino, portanto não vou além, mas o roteiro é uma viagem, nesse sentido, e, pode ser visto, por alguns, como mero espetáculo.

Porém, vale lembrar, que hoje a ciência é vista, por exemplo, segundo o hermeneuta Gaston Bachelard, a partir do surgimento da Física Quântica, como uma área do saber (qualquer ciência) e suas inter-relações com quaisquer áreas científicas como algo que é marcado por uma dualidade dinâmica em eterno devir, no qual o racional e o irracional são contrários que se complementam e não existe um sem o outro. Mas não são, pois sintéticos como Hegel imaginou em sua dialética, mas parabáticos, irônicos e reflexivos como pensou o filósofo-poeta do Romantismo alemão, F. Schlegel. Bachelard vai à linha deste e Nolan dos dois, pelo jeito.

A história se passa num futuro não muito distante, em que os exércitos e guerras não existem mais e a grande preocupação da humanidade é produzir comida suficiente para alimentar os sobreviventes. O ensino superior é uma realidade cada vez mais restrita, e fazendeiros é a mão de obra mais valiosa – afinal, são eles que seguem plantando e gerando o alimento cada vez mais valioso. Essa é a atividade profissional de Cooper (Matthew McConaughey, apenas uma atuação formal), um ex-piloto que abraçou a vida no campo após ter ficado viúvo, preocupado com o futuro dos dois filhos.

Christopher Nolan declarou em mais de uma ocasião que sempre sonhou fazer um filme no espaço. Após reverter a ordem das narrativas cronológicas e convencionais em “Amnésia”, 2000, revelar os segredos dos mágicos/ilusionistas em “O Grande Truque”, 2006, invadir o mundo onírico humano em “A Origem”, 2010, e, apresentar o herói pós-moderno da trilogia “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, ele finalmente conseguiu realizar este antigo desejo, em Interestelar.

Nolan conseguiu desenvolver uma trama a respeito da busca de um sentido para a nossa presença no universo, ao mesmo tempo em que realizou um trabalho tipicamente seu, com todo o esmero técnico já esperado, mas também dotado de uma profundidade filosófica (e esta é o maior mérito do filme – o sentido da vida humana no planeta Terra).  Ainda que a inspiração óbvia seja “2001: Uma Odisseia no Espaço”, 1968, de Stanley Kubrick, o hermetismo deste passa longe, uma vez que essa nova jornada é menos truncada e mais acessível.

Com a quantidade de pragas agrícolas se espalhando cada vez com mais força, primeiro foi o trigo, agora é o quiabo, logo será o milho, e, a poeira que resulta de incêndios e da aridez pela escassez de água tomando conta de todo o mundo, são poucos os que seguem acreditando num mundo melhor. Cooper acredita e tem fé. Até -, que de uma maneira que não vou revelar para não estragar a surpresa -, é convocado pelo que restou da NASA, para uma missão ao espaço em busca de planetas habitáveis para serem povoados pelo que resta da humanidade.

Apesar de tanta reflexão científica, a maior reflexão é a filosófica que Nolan busca: o Amor, os elos afetivos, carinho, solidariedade, relações interpessoais e sociais. Não basta queremos ir à lua, a Marte, às mais variadas galáxias, se o problema está aqui mesmo na Terra: somos nós; os homens inimigos do próprio homem, para repetir parafraseando, imaginem!, um título do CD da banda punk paulista, Ratos de Porão, de 2006. Outro que já falava sobre isso era o eterno guru, Raul Seixas: pra quê ir à lua, se não há galinha em meu quintal, parafraseio aqui também sua canção. O sociólogo mais atuante no século XXI, nesses estudos mostra que nossa modernidade é líquida e fluida. Nossos sentimentos, como amor, amizade, elos pessoais são frágeis, líquidos e fluidos, efêmeros e transitórios. Como, em 2013, Spike Jonze mostrou no filme que dirigiu e roteirizou, “Ela”, que concorreu em algumas categorias ao Oscar 2014, incluindo na de melhor filme, mas perdeu para o apenas mediano “12 anos de escravidão”. (Conferir a crítica do filme “Ela”, neste blog, em post datado de 20 de novembro de 2014). Inclusive, o diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema (o mesmo do filme de Jonze) faz um trabalho espetacular e grandioso em Interestelar.

Uma questão interessantíssima de se notar em Interestelar é a questão sonora primorosa, desde a grandiosa trilha sonora composta por Hans Zimmer, até o trabalho da equipe de som comandada por Richard King (que ganhou o Oscar por outro filme de Nolan, “A Origem”). O filme é recheado de silêncios e ruídos, que permitem a reflexão e a contemplação do espectador.

Amparado por um elenco de grandes talentos, mas que são sobrepujados pela epicidade e tecnicidade do filme – McConaughey está mais contido e no domínio pleno de suas capacidades (mas não é aquele de “O Lobo de Wall Street”, nem de “Killer Joe” e nem chega perto da sua atuação em “Clube de Compras Dallas”), mesmo assim chama todas as atenções para si, ele é o protagonista destemido e heroico, mas permitindo que Jessica Chastain, ainda que com tempo limitado em cena, consiga se destacar, dentro de um elenco que tem ainda nomes de grandes atores como Anne Hathaway, Michael Caine e John Lithgow. Destaco também a excelente atuação da atriz mirim Mackenzie Foy (Murphy Cooper).

“Qual nosso lugar, para onde vamos, de onde viemos?” (Perguntas do Crítico do site www.papodecinema.com.br, Robledo Milani, feitas em sua crítica para aquele site, datada de 04 de novembro de 2014. Link: http://www.papodecinema.com.br/filmes/interestelar, último acesso 11 de fevereiro de 2015, às 06h23. Completo:  Qual a finalidade de nossas existências?”
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·       
             PREMIAÇÕES:

·         Top 11 filmes do American Film Institute:

"O Abutre"
"Boyhood"
"Caminhos da Floresta"
"Foxcatcher"
"Birdman"
"Invencível"
"O Jogo da Imitação"
"Interestelar"
"Selma"
"Sniper Americano"
"Whiplash"

·         INDICADOS – BAFTA (OSCAR BRITÂNICO) – 2015:

-          MELHOR TRILHA SONORA:  

INTERESTELAR, Hans Zimmer.

-          MELHOR FOTOGRAFIA:

INTERESTELAR, Hoyte van Hoytema.

-          MELHOR DIREÇÃO DE ARTE:

INTERESTELAR, Nathan Crowley, Gary Fettis.

-          MELHORES EFEITOS VISUAIS:

INTERESTELAR, Paul Franklin, Scott Fisher, Andrew Lockley.


·         INDICADOS – GLOBO DE OURO - 2015:

*MELHOR TRILHA SONORA:

-          Interestelar, por Hans Zimmer.


·         INDICADO – SINDICATO DOS DIRETORES DE ARTE DOS EUA – 2015:

* FILME DE FANTASIA:

-     INTERESTELAR, (Nathan Crowley).

·         INDICADO - SINDICATO DOS FIGURINISTAS DOS EUA – 2015:

* FILME CONTEMPORÂNEO:

      -     INTERESTELAR, (Mary Zophres).

·         INDICADOS – SINDICATO DOS MAQUIADORES E PENTEADORES DOS EUA – 2015:

*FILME CONTEMPORÂNEO:
               
-          Make-Up Artists: Luisa Abel and Jay Wejebe, INTERESTELAR.
-          Hair Stylists: Patricia Dehaney and Jose L. Zamora, INTERESTELAR.


·         INDICADOS – OSCAR – 2015:

-          MELHOR DIREÇÃO DE ARTE;
-          MELHOR EDIÇÃO DE SOM;
-          MELHOR MIXAGEM DE SOM;
-          MELHORES EFEITOS VISUAIS;
-          MELHOR TRILHA SONORA;

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“Pena a não indicação para melhor fotografia. Porém, Interestelar é favorito em melhor trilha sonora, edição de som e mixagem de som. E talvez ganhe o de efeitos visuais, mais à frente do que os outros indicados; diferente é na disputa por direção de arte, onde o páreo é muitíssimo duro.”

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“Próxima crítica, ainda hoje: Guardiões da Galáxia.
         E depois uma série sobre: Ida, Leviatã e Relatos Selvagens.”
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