O GOLEM ((Der Golem, wie er in die Welt kam, 1920), de Carl Boese e Paul
Wegener.
(“O
Galigarismo em seu pleno vigor
estético”.).
(CRÍTICA
POR RAFAEL VESPASIANO).
- INTRODUÇÂO: A
LENDA:
O
Golem, a obra mais reconhecida de Gustav Meyrink, é
inspirada na criação relatada na Gênese. No início de nossa era alguns rabinos
tentaram imitar Deus “e acharam que poderiam criar um ser vivo e inteligente,
valendo-se de fórmulas mágicas.”. (BERGIER, Jacques & PAUWELS, Louis, 2003,
p. 7). Deus tinha realizado a criação falando, e os rabinos procuravam a
fórmula mágica apropriada.
A seita dos
Chassidim elaborou, durante o século XII, 221 combinações diferentes com as
letras do alfabeto. Amassando certa quantidade de barro vermelho era possível
criar um homem pronunciando estas combinações, e ele poderia ser novamente
desfeito, pronunciando as combinações invertidas. (Ibidem, p. 7-8).
Já
no Renascimento, a lenda do Golem adquiriu uma feição diferente: ele se
destinava a ser um servo dos homens, cumprindo tarefas com presteza. Sua única
característica era de crescer muito e de forma rápida, adquirindo um aspecto e
forma de gigante. Para tirar-lhe a vida, seu criador tinha que cancelar a
primeira letra da palavra ‘emeth’ (verdade), que significa morte.
- NO CINEMA:
A primeira versão
cinematográfica d´O Golem data de 1915, dirigida por Henrik Galeen e
protagonizada por Paul Wegener. O filme é baseado na lenda de um gigante de
barro trazido à vida em 1580 para salvar os Judeus de Praga de um pogrom
oferencendo assim uma variante do romance de Frankenstein de Mary Shelley.
Os realizadores dessa versão
se viram obrigados a atualizar o enredo para o século XX – para insatisfação de
Paul Wegener, que coescreveu o roteiro e interpretou o papel principal.
Em 1920, Wegener
refilmou O golem, dessa vez como
diretor, devolvendo a história às suas origens no século XV e obtendo um efeito
muito mais contundente. O gigante de lama (interpretado de novo por Paul
Wegener) possuía uma natureza desengonçada que antecipou a Criatura de Boris
Karloff nos filmes de Frankenstein realizados por James Whale na década de
1930, ao passo que o figurinista Hans Poelzig e o fotógrafo Karl Freund (dois
dos melhores técnicos do período do Galigarismo
e do Expressionismo Alemães), criaram uma visão sombria e claustrofóbica da
Praga antiga.
O galigarismo e o expressionismo, este é uma consequência daquele,
como movimentos estéticos do Cinema Alemão das décadas de 1910, 1920 e 1930. São
marcados por cenários sombrios, angustiantes, claustrofóbicos; opressores às
personagens, com ambiência de medo e tensão.
OUTRAS ADAPTAÇÕES:
· A
segunda versão foi do cineasta dinamarquês Urban Gad em 1916. A versão mais
conhecida, contudo, continua sendo a abordada mais acima, de Paul Wegener,
enquanto a de Duvivier, com Harry Baur no papel de protagonista, é de 1936.
Finalmente, tem-se O padeiro e o
imperador da China, do checo Martin Fric, em 1951.
-
O LIVRO O golem (1915), de Gustav
Meyrink:
Gustav Meyrink é um
escritor vienense, nascido em 1869, falecido em 1932. Autor de diversos livros,
o seu mais famoso e mais importante romance é, justamente, O golem, de 1915. Meyrink é um autor que se junta a Benn no que
podemos chamar de vanguarda expressionista alemã do início do século XX.
Augusto dos Anjos, no Brasil, foi um simbolista-modernista, justamente, por
flertar com o Expressionismo como vanguarda modernista, muito antes desta vim à
tona, por isso Augusto dos Anjos é considerado um pré-modernista brasileiro
também. E mesmo sem conhecer as obras de Benn e nem de Meyrink, elas se
assemelham muito no tocante: sombrias, claustrofóbicas, angustiantes, lúgubres,
pessimistas, ligadas a animais da noite, preferência pelo noturno, crepuscular,
cemitérios, solidão, tensão psicológica baseada no terror/horror, etc. Isso
serve para a literatura quanto para o cinema da Alemanha das três primeiras décadas
do século XX (galigarismo e
expressionismo). E da mesma forma Benn e Meyrink não conheciam as obras de
Augusto dos Anjos, aqui do Brasil, como afirmam e procuram comprovar os estudos
do crítico literário Anatol Rosenfeld.
O Golem é um fantasma? Um monstro lendário? Ou
seria ele o próprio ‘alter ego’ do leitor? Seu outro ‘eu’ fantástico e monstruoso, que todos escondem, mas que existe ali, no subconsciente e nos sonhos.
As obras de
Gustav Meyrink sempre mergulham num mundo invisível e se alimentam de teorias
esotéricas. Estas teorias perturbam as pessoas não-iniciadas apesar de criarem
um estado de alma benfazejo, de levarem a uma fase de calma e de sabedoria e
facilitarem o acesso àqueles níveis de conhecimento que permitem ao corpo e à
alma mergulhar, harmonicamente, numa atmosfera metafísica e quase mística.
Assim, é compreensível que a obra de Meyrink não interesse às pessoas que
procuram na leitura somente a distração, e que por isso preferem a certeza de
fatos objetivos e palpáveis, ao invés do clima
de estranheza e indecisão que transpira das obras de inspiração fantástica.
Uma obra que se
destaca como uma primeira tentativa de projeção do mundo invisível dentro do
mundo visível, que se destina a atingir a
imaginação mais que o raciocínio.
Uma obra
admirável de um gênio não reconhecido. [grifos meus]. (Ibidem, contracapa.).
- CONCLUSÂO:
O escritor de A
Metamorfose, Franz Kafka, era um sincero admirador de Meyrink, por isso as características
estéticas de ambos autores são:
a aparição dos
fantasmas, as exigências implacáveis da vida social, com suas injustiças e seus
asquerosos contrastes, nada mais representam do que o absurdo resultado
desnorteamento do homem, levado a se tornar um ridículo autômato, um
marionete puxada por fios em todas as direções, até a sua total e definitiva
desintegração. [grifos meus]. (Ibidem,
p. 8).
Por
fim, pelo exposto, conclui-se que O golem,
de 1920, é um exemplar do Galigarismo, como
foi evidenciado em todo o texto, e, precursor do Expressionismo, também Alemão. Lembrando que os dois movimentos ou
estéticas Cinematográficas abrangem também o contexto sociopolítico e cultural -,
ou seja, outras Artes, como a Literatura, já explicitada no texto, mas também
na Pintura, na Música, na Escultura, etc.-, da Alemanha das três primeiras
décadas do século XX.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
KEMP, Philip
(Editor Geral). Tudo sobre cinema. Rio
de Janeiro: Sextante, 2011.
MEYRINK, Gustav. O
golem. Brasília: Hemus, 2003.
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