"Ettore Scola (1931-2016, 84 anos, italiano): mestre do cinema político italiano":
("Um legado fílmico para a Humanidade sempre re(pensar) os seus atos"):
(CRÍTICAS POR RAFAEL VESPASIANO)
“A
Família” (1987):
"Ettore Scola, mostra a união de uma família, que tem seus problemas
cotidianos, mas nos momentos difíceis se unem, demonstrando unidade, solidariedade
e cumplicidade, como uma verdadeira família deve ser. A passagem de tempo é
sempre marcada por um passeio da câmara pelo corredor da casa da família;
sempre são mostrados os almoços da família (típico almoço italiano!); o filme
começa e termina com a batida de uma fotografia da família. Interpretações
impecáveis de um elenco maravilhoso: Gassman (que faz o chefe da família,
personagem central da trama, pois o filme acompanha desde o seu nascimento até
um encontro onde se reúne toda a família dele), Stefania Sandrelli, Fanny
Ardant e Phillipe Noiret. Maravilhoso."
"Nós
que nos amávamos tanto" (1974):
"Um
clássico do cinema italiano, uma obra-prima de Ettore Scola e atuações
magníficas de Nino Manfredi, Vittorio Gassman (que fez vários filmes com Scola)
e Stefannia Sandrelli. Mostra o cotidiano de três rapazes, amigos entre si,
apaixonados pela mesma mulher, Luciana, no decorrer de trinta anos, de 1945 a
1975, perpassado por todos os acontecimentos políticos da Itália, nesses anos
narrados no filme. Os quatro são da classe trabalhadora da Itália e o que
provoca a desunião e afastamento deles entre si, não é o amor pela mesma
mulher, mas sim os acontecimentos que vão ocorrendo, cada um tomando um rumo
diferente em sua vida, porém, um deles acaba se casando com Luciana, o reencontro
dos quatro ao final do filme, mostra a diferença drástica que aconteceu entre o
casal. A personagem de Gassman, que se transformou num rico capitalista,
enquanto os outros continuaram fazendo parte da classe trabalhadora. Provando
que mesmo se amando tanto, as diferenças acabam por distanciar um do outro.
Detalhe: para a homenagem de Scola aos grandes diretores italianos da época,
citações a Rossellini, De Sica (este aparece num discurso/palestra, a qual está
assistindo, o professor), Visconti e Fellini (que participou efetivamente do
filme, como se fosse realmente um ator) numa homenagem de Scola a ele, numa
cena em que Federico está filmando a cena "da fonte" do filme "A
Doce Vida", o próprio Marcelo Mastroianni aparece em "Nós que nos
Amávamos Tanto". Um filme maravilhoso!"
"Feios,
sujos e malvados" (1976):
"Este é
uma comédia dramática: cômico, por causa das situações hilárias que Giacinto e
sua família vivem e proporcionam, mas um drama, pois estas ocorrem em meio a
maior pobreza da periferia italiana do pós-guerra, onde a família dele vive. Eles
tentam levar uma vida "normal" e enfrentam os problemas da maneira
mais natural e alegre possível, porém, as brigas são constantes, pois Giacinto
tem uma amante e não quer gastar dinheiro com sua esposa verdadeira e seus dez
filhos. Ele é pão-duro assumido, provocando o conflito, porque gasta com a
amante, mas não com a família "oficial". "Feios, Sujos e
Malvados" é um filme divertido, porém, mostra o lado feio, sujo e malvado
do ser humano, que tenta sobreviver, em meio às dificuldades, da melhor maneira
possível, mas, como mostra o filme, visando a melhoria de suas condições de
sobrevivência, se tornam gananciosos, ambiciosos e individualistas (o lado sujo
do homem, tão bem mostrado por Scola!). Uma sátira e crítica à sociedade
italiana daqueles idos, mas que permanece atual para a Itália e para todas as
outras nações e povos, pois continuamos vivendo na maior pobreza e miséria,
seja física, econômica, cultural ou psicológica, até os dias de hoje, somos,
portanto, também, Feios, Sujos e Malvados."
"Os
novos monstros" (1977):
"Filme coletivo e especial, pois reúne nove episódios humorísticos, dirigidos por três mestres do
cinema italiano: Risi, Scola e Monicelli, porém, não se sabe, pois, os créditos
não mostram, quem dirigiu qual, só podemos imaginar, que cada um deles dirigiu
três episódios, dando os nove da soma total, o restante devemos tentar
adivinhar, de acordo com as características de cada cineasta, em seus filmes
anteriores. O filme se caracteriza por humor negro, mas de primeira qualidade e
finíssimo. Atuações impecáveis de Gassman e Sordi!"
“O Terraço” (1980):
“Com Marcelo Mastroianni e Vittorio Gassman,
grupo de adultos que se encontram, diariamente, para conversar e jantar num
terraço da casa de um casal do grupo de amigos; surgem várias relações
interpessoais e muitos desabafam de forma crítica sobre os outros, por causa do
desgaste natural das relações de convívio diário. O filme explora também, o
fato das personagens estarem frustradas com seu trabalho (temos o exemplo de um
escritor e de um produtor de cinema, ambos decepcionados com suas carreiras
profissionais), o que levam elas a descontarem suas decepções em cima dos
amigos e de seus familiares, em especial, ou no seu marido, ou na sua esposa.
Surgem questões também de traição e adultério entre as personagens do filme. As
aparências caem e o verdadeiro "eu" de cada pessoa se revela. Scola
explora bem a reflexão sobre as relações humanas.”
“Casanova
e a revolução” (1982):
“Ettore
Scola em um filme, inteiramente fictício, tirando a espinha dorsal do mesmo,
que é o cenário político da França vivendo sua Revolução, que acabou por botar
a burguesia no poder e tirando o clero e a aristocracia daquele, "A Noite
de Varennes" mostra, em síntese, todas as principais categorias da sociedade
francesa de então, em simulacro das personagens, que se encontram, numa viagem
de carruagem pelas terras francesas, iniciada em Varennes; as situações que se
passam são maravilhosamente exploradas por Scola, em especial, as vividas pelo
conquistador e mulherengo italiano, Casanova (vivido por Mastroianni, de forma
impecável, como sempre!), talvez por isso o outro título, para mim mais
apropriado, "Casanova e a Revolução", pois ele é a personagem que
mais se destaca, entre todas aquelas que estão envolvidas na Revolução
Francesa.”
“O
jantar” (1998):
“Obra-prima
do cinema italiano e mundial, com direção soberba de Scola, atuações magníficas
de Vittorio Gassman e Fanny Ardant. Num mesmo restaurante, numa mesma noite, se
reúnem, casais, amigos, famílias, namorados, etc., em cada mesa do restaurante,
eles não têm nada em comum, apenas o que une, esses diversos grupos são as
dificuldades, alegrias e tristezas de uma vida "normal": cada grupo,
enquanto bebe e janta, discutem seus acontecimentos e problemas do dia-a-dia,
entre seus companheiros de mesa, porém, a personagem solitária de Gassman se
transforma em nossos olhos e ouvidos das conversas de cada grupo de pessoas
(espécie de narrador onisciente que encontramos nos livros, ele é, para nós, o
mediador das “histórias” e os espectadores."
“O
Baile” (1983):
“Filme
ímpar de Scola, sem diálogos, só com fundo musical, que narra histórias, até
mesmo verídicas, como o bombardeio alemão em Paris, durante a 2ª Grande Guerra;
as relações entre as pessoas se passam como... música! Tudo isso acontecendo
num baile, que passa por trinta anos da história da humanidade durante o século
XX, dos anos 30 a 60; as diferentes personagens, das diferentes épocas, são
interpretadas pelos mesmos atores. Brilhante e genial ideia de Scola!”
“Concorrência
Desleal” (2001):
“É um drama sensível sobre a instalação do
nazi-fascismo na Itália e, como esse regime ditatorial de Mussolini e seu
comparsa fascista, Hitler da Alemanha, influi no dia-a-dia de dois comerciantes
rivais, um judeu e outro cristão. A amizade surge como forma de luta contra
qualquer tipo de discriminação e perseguição, de forma inusitada e
bem-humorada. Depardieu é o contraponto intelectual da história e antifascista.
Mais uma obra-prima de Scola.”
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