“RELATOS
SELVAGENS; TANGERINAS; IDA; TIMBUKTU E LEVIATÔ
(“OSCAR
DE MELHOR FILME DE LÍNGUA NÃO INGLESA (2014-2015): FILMES EXCELENTES, MAS QUEM
LEVOU SEGUNDO A ACADEMIA, É O MEU PREDILETO?”):
(CRÍTICA
POR RAFAEL VESPASIANO)
“Prometi lá no final do ano de 2014, para
os amigos mais íntimos ver e estudar, para escrever críticas sobre todos os
filmes indicados ao Oscar em 2015. Fiz críticas de alguns, mas muitos só vim
ver agora, e, ainda falta ver outros, mas cumprirei a promessa.
No
início de 2015, já assistira ao contemplativo filme polonês, Ida, ganhador do
Oscar 2015 de melhor de língua não inglesa, também vira o russo extraordinário
sobre relações humanas e corrupção, Leviatã e também o argentino, Relatos
Selvagens, que conta com seis episódios bons, sempre regular e, histórias cômicas
de humor negro. Tangerinas é um filme estoniano surpreendente e que discute
temas políticos e de guerra civil, e hoje vi o último dos cinco indicados à
supracitada categoria do Oscar passado, Timbuktu, o representante da Mauritânia
ao prêmio, uma reflexão sobre qualquer extremismo, no caso religioso.
Os
cinco são ótimos. Mas, comecemos analisando dos que me agradaram menos para o
meu predileto. No caso, trata-se de Relatos Selvagens, brilhantemente dirigido
por Damián Szifron, com episódicos cômico que surpreendem por serem extremamente
regulares: o primeiro serve como gancho para puxar uma primeira história,
aquele serve como prólogo, que será explicado no decorrer do filme, a segunda
história é violência pura, lembra Tarantino e suas sandices, o terceiro é o
mais irregular, o quarto com a estrela latino-americana Ricardo Darín, é um dos
melhores, de crítica social, o quinto mantém o filme interessante e o sexto
conto é excepcional. Um filme que merece, sim ser visto! O diretor usou bem a
trilha sonora e a montagem que colocou uma primeira história forte no início,
no meio um conto excelente e, no fim, a chave de ouro, equilibrando bem as
várias partes. Cinema da melhor qualidade.
O
filme da Estônia, dirigido por Zaza Urushadze, Tangerinas, é um filme humano,
sensível e antibelicista, pró Humanidade pacifista e harmônica. Um filme de
teor histórico, remete à Guerra Fria, com a queda já decretada e dissolução
consequente da União Soviética, em 1990, ocorreu a Guerra da Abecásia, pois o
recente proclamado estado independente da Geórgia, brigava com separatistas
locais, que recebiam apoio dos russos e chechenos. As personagens de Ivo e
Margus são produtores de tangerinas, abundantes na região, que preferiram tocar
à vida, de forma humilde, e fiel às suas culturas campesinas de colheita de
tangerinas, em meio à guerra, enquanto seus familiares e amigos, com medo,
resolveram voltar para a terra natal, a Estônia.
O
filme é um filme de guerra sem mostrar a guerra ou batalhas e mortes, como os
filmes hollywoodianos fazem, aqui vale mais a simplicidade para denunciar o
horror de qualquer violência, ainda mais uma guerra. Filme humanista. E, quem
vê-lo perceberá que ocorre uma segunda guerra fria dentro da Guerra Fria, em
seu apagar das luzes, nos anos 1990. Por isso, o roteiro é brilhante neste
ponto.
Chegamos
ao terceiro filme que adoro, mas não é o meu predileto (dos cinco supracitados),
mas que ganhou o Oscar 2015 de melhor filme de língua não inglesa, o polonês,
Ida, dirigido e roteirizado por Pawel Pawlikowski, a película é belíssima.
Sensível ao retratar as cicatrizes que persistem a não cicatrizar do
pós-Segunda Grande Guerra.
Investes
na relação entre Ida e Wanda, sobrinha e tia, respectivamente, aquela vivia no
claustro do convento e não sabia que tinha parentes vivos, e antes de se tornar
freira, fazendo os votos, a madre superior, revela a existência da parente e
faz ela viajar para conhece-la, para assim decidir se realmente quer aceitar os
votos. Ida, então, vê o MUNDO pela primeira vez, e, se depara com o cigarro, o
sexo e a bebida alcóolica, que sua Tia Wanda usa e faz questão de mostrar que
aqueles tópicos fazem parte da vida mundana. O que choca a sobrinha Ida, não
poderia ser diferente. A discussão entre as relações entre as duas é abordada
sutilmente, mas às vezes, mais drasticamente.
As
duas, enfim, partem num road-movie, para se descobrirem e enterrarem de fez
fantasmas do passado. A ida de Ida à realidade mundana é definitiva? Ou tem
volta ao claustro? Perguntas que serão respondidas a quem a assistir a esta
belíssima película contemplativa e de fotografia preto-e-branco também indicada
ao Oscar 2015. O filme, sim, é uma IDA ao Paraíso e ao Inferno da cada um de
nós, e, principalmente da protagonista-título, Ida.
O
filme da Mauritânia, Timbuktu, dirigido por Abderrahmane Sissako, que consegue
realizar uma direção de atores coesa, fazendo o espectador criar empatia por
várias personagens e ódio por outras. Mas, o filme é contra o referido Ódio,
pois trata do extremismo religioso numa cidade histórica do Mali, Timbuktu, que
é tomada por extremistas que impõem toque de recolher, proibição de esportes,
de cantar e dançar, de ouvir música, ou seja, proíbe as pessoas de VIVEREM A
VIDA, em nome, segundo os extremistas, de Deus -, (Alá, ou qualquer um que seja,
pois qualquer deus, de qualquer religião, não quer TERROR, VIOLÊNCIA, pelo
contrário quer: PAZ, HARMONIA e pregaram o AMOR ENTRE TOD@S AS PESSOAS).
O
filme chegou aos cinemas brasileiros à época dos atentados em Paris, à sede do
jornal de cartuns, Charlie Hebdo, portanto atualíssimo, e já estamos no final
de 2015, e continua cada vez mais atual, infelizmente. A fotografia e a trilha
sonora do filme são brilhantes. E temos duas cenas de rara poesia no Cinema do
século XXI: a cena da partida de futebol?, e, a cena da sala em que se canta e
toca uma canção que emociona.
Chegamos
ao filme predileto do resenhista que vos escreve, Leviatã, representante da
Rússia, dirigido por Andrei Zviaquintsev, a película é uma obra-prima, pois
trata das relações humanas de maneira universal, ao partir do particular caso
da Rússia, pós dissolução da URSS e do enredo de um prefeito corrupto (lembra
nosso país, podes crer!), que quer desapropriar, à qualquer maneira, diga-se de
passagem, de forma suja, as terras de um pai de família, no litoral russo,
região do Mar de Barents, e chega à universalidade pois trata de relações
humanas complexas que são atemporais: política, corrupção, amizade, adultério,
religião e muito mais.
E
de fato, como Hobbes disse, “o lobo é o lobo do homem”, Leviatã é uma película
marcadamente decadente, que reflete a Humanidade decadente do século XXI,
moralmente a sociedade refletida no filme é uma decadência ética e moral, e, os
Homens são monstros (leviatã se refere também às baleias) amorais e decantes. O
filme, enfim, é uma ruína alegórica da Humanidade atual, não só russa.
A
fotografia também merece destaque e a banda sonora só reforça a amoralidade do
homem pós-moderno. A montagem é especial também, pois as duas horas e 20
minutos de filme não cansam o espectador, ao contrário o instiga a reflexões,
pós sessão no cinema, e, pela vida toda, portanto, o filme é uma OBRA-PRIMA!.
Quem
leu estas críticas, percebeu, que para o crítico que as escreve, os cinco
filmes são ótimos, premiar e escolher é questão individual e relativa, mas o
que importa é a qualidade da película e o fato, de neste caso, em 2015, os cinco
concorrentes ao prêmio de melhor filme de língua não inglesa, da Academia de
Cinema dos Estados Unidos da América, serem convincentes e verdadeiras obras de
arte, que têm o que dizer e fazer a reflexão dos espectadores sobre uma
Humanidade mais HARMÔNICA!”
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