terça-feira, 29 de dezembro de 2015

“RELATOS SELVAGENS; TANGERINAS; IDA; TIMBUKTU E LEVIATÔ: (“OSCAR DE MELHOR FILME DE LÍNGUA NÃO INGLESA (2014-2015): FILMES EXCELENTES, MAS QUEM LEVOU SEGUNDO A ACADEMIA, É O MEU PREDILETO?”)

“RELATOS SELVAGENS; TANGERINAS; IDA; TIMBUKTU E LEVIATÔ


(“OSCAR DE MELHOR FILME DE LÍNGUA NÃO INGLESA (2014-2015): FILMES EXCELENTES, MAS QUEM LEVOU SEGUNDO A ACADEMIA, É O MEU PREDILETO?”):


(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)


     “Prometi lá no final do ano de 2014, para os amigos mais íntimos ver e estudar, para escrever críticas sobre todos os filmes indicados ao Oscar em 2015. Fiz críticas de alguns, mas muitos só vim ver agora, e, ainda falta ver outros, mas cumprirei a promessa.

No início de 2015, já assistira ao contemplativo filme polonês, Ida, ganhador do Oscar 2015 de melhor de língua não inglesa, também vira o russo extraordinário sobre relações humanas e corrupção, Leviatã e também o argentino, Relatos Selvagens, que conta com seis episódios bons, sempre regular e, histórias cômicas de humor negro. Tangerinas é um filme estoniano surpreendente e que discute temas políticos e de guerra civil, e hoje vi o último dos cinco indicados à supracitada categoria do Oscar passado, Timbuktu, o representante da Mauritânia ao prêmio, uma reflexão sobre qualquer extremismo, no caso religioso.

Os cinco são ótimos. Mas, comecemos analisando dos que me agradaram menos para o meu predileto. No caso, trata-se de Relatos Selvagens, brilhantemente dirigido por Damián Szifron, com episódicos cômico que surpreendem por serem extremamente regulares: o primeiro serve como gancho para puxar uma primeira história, aquele serve como prólogo, que será explicado no decorrer do filme, a segunda história é violência pura, lembra Tarantino e suas sandices, o terceiro é o mais irregular, o quarto com a estrela latino-americana Ricardo Darín, é um dos melhores, de crítica social, o quinto mantém o filme interessante e o sexto conto é excepcional. Um filme que merece, sim ser visto! O diretor usou bem a trilha sonora e a montagem que colocou uma primeira história forte no início, no meio um conto excelente e, no fim, a chave de ouro, equilibrando bem as várias partes. Cinema da melhor qualidade.





O filme da Estônia, dirigido por Zaza Urushadze, Tangerinas, é um filme humano, sensível e antibelicista, pró Humanidade pacifista e harmônica. Um filme de teor histórico, remete à Guerra Fria, com a queda já decretada e dissolução consequente da União Soviética, em 1990, ocorreu a Guerra da Abecásia, pois o recente proclamado estado independente da Geórgia, brigava com separatistas locais, que recebiam apoio dos russos e chechenos. As personagens de Ivo e Margus são produtores de tangerinas, abundantes na região, que preferiram tocar à vida, de forma humilde, e fiel às suas culturas campesinas de colheita de tangerinas, em meio à guerra, enquanto seus familiares e amigos, com medo, resolveram voltar para a terra natal, a Estônia.

O filme é um filme de guerra sem mostrar a guerra ou batalhas e mortes, como os filmes hollywoodianos fazem, aqui vale mais a simplicidade para denunciar o horror de qualquer violência, ainda mais uma guerra. Filme humanista. E, quem vê-lo perceberá que ocorre uma segunda guerra fria dentro da Guerra Fria, em seu apagar das luzes, nos anos 1990. Por isso, o roteiro é brilhante neste ponto.



Chegamos ao terceiro filme que adoro, mas não é o meu predileto (dos cinco supracitados), mas que ganhou o Oscar 2015 de melhor filme de língua não inglesa, o polonês, Ida, dirigido e roteirizado por Pawel Pawlikowski, a película é belíssima. Sensível ao retratar as cicatrizes que persistem a não cicatrizar do pós-Segunda Grande Guerra.

Investes na relação entre Ida e Wanda, sobrinha e tia, respectivamente, aquela vivia no claustro do convento e não sabia que tinha parentes vivos, e antes de se tornar freira, fazendo os votos, a madre superior, revela a existência da parente e faz ela viajar para conhece-la, para assim decidir se realmente quer aceitar os votos. Ida, então, vê o MUNDO pela primeira vez, e, se depara com o cigarro, o sexo e a bebida alcóolica, que sua Tia Wanda usa e faz questão de mostrar que aqueles tópicos fazem parte da vida mundana. O que choca a sobrinha Ida, não poderia ser diferente. A discussão entre as relações entre as duas é abordada sutilmente, mas às vezes, mais drasticamente.

As duas, enfim, partem num road-movie, para se descobrirem e enterrarem de fez fantasmas do passado. A ida de Ida à realidade mundana é definitiva? Ou tem volta ao claustro? Perguntas que serão respondidas a quem a assistir a esta belíssima película contemplativa e de fotografia preto-e-branco também indicada ao Oscar 2015. O filme, sim, é uma IDA ao Paraíso e ao Inferno da cada um de nós, e, principalmente da protagonista-título, Ida.



O filme da Mauritânia, Timbuktu, dirigido por Abderrahmane Sissako, que consegue realizar uma direção de atores coesa, fazendo o espectador criar empatia por várias personagens e ódio por outras. Mas, o filme é contra o referido Ódio, pois trata do extremismo religioso numa cidade histórica do Mali, Timbuktu, que é tomada por extremistas que impõem toque de recolher, proibição de esportes, de cantar e dançar, de ouvir música, ou seja, proíbe as pessoas de VIVEREM A VIDA, em nome, segundo os extremistas, de Deus -, (Alá, ou qualquer um que seja, pois qualquer deus, de qualquer religião, não quer TERROR, VIOLÊNCIA, pelo contrário quer: PAZ, HARMONIA e pregaram o AMOR ENTRE TOD@S AS PESSOAS).

O filme chegou aos cinemas brasileiros à época dos atentados em Paris, à sede do jornal de cartuns, Charlie Hebdo, portanto atualíssimo, e já estamos no final de 2015, e continua cada vez mais atual, infelizmente. A fotografia e a trilha sonora do filme são brilhantes. E temos duas cenas de rara poesia no Cinema do século XXI: a cena da partida de futebol?, e, a cena da sala em que se canta e toca uma canção que emociona.



Chegamos ao filme predileto do resenhista que vos escreve, Leviatã, representante da Rússia, dirigido por Andrei Zviaquintsev, a película é uma obra-prima, pois trata das relações humanas de maneira universal, ao partir do particular caso da Rússia, pós dissolução da URSS e do enredo de um prefeito corrupto (lembra nosso país, podes crer!), que quer desapropriar, à qualquer maneira, diga-se de passagem, de forma suja, as terras de um pai de família, no litoral russo, região do Mar de Barents, e chega à universalidade pois trata de relações humanas complexas que são atemporais: política, corrupção, amizade, adultério, religião e muito mais.

E de fato, como Hobbes disse, “o lobo é o lobo do homem”, Leviatã é uma película marcadamente decadente, que reflete a Humanidade decadente do século XXI, moralmente a sociedade refletida no filme é uma decadência ética e moral, e, os Homens são monstros (leviatã se refere também às baleias) amorais e decantes. O filme, enfim, é uma ruína alegórica da Humanidade atual, não só russa.

A fotografia também merece destaque e a banda sonora só reforça a amoralidade do homem pós-moderno. A montagem é especial também, pois as duas horas e 20 minutos de filme não cansam o espectador, ao contrário o instiga a reflexões, pós sessão no cinema, e, pela vida toda, portanto, o filme é uma OBRA-PRIMA!.




Quem leu estas críticas, percebeu, que para o crítico que as escreve, os cinco filmes são ótimos, premiar e escolher é questão individual e relativa, mas o que importa é a qualidade da película e o fato, de neste caso, em 2015, os cinco concorrentes ao prêmio de melhor filme de língua não inglesa, da Academia de Cinema dos Estados Unidos da América, serem convincentes e verdadeiras obras de arte, que têm o que dizer e fazer a reflexão dos espectadores sobre uma Humanidade mais HARMÔNICA!”

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