quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

(“HARAKIRI, MASAKI KOBAYASHI, JAPÃO, 1962”): (“VIDA, HONRA, MORTE”)


(“HARAKIRI, MASAKI KOBAYASHI, JAPÃO, 1962”):


(“VIDA, HONRA, MORTE”):



(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO):






Harakiri, 1962, dirigido de maneira correta, centrada, sem pressa e contemplativa por Masaki Kobayashi nos faz refletir sobre dignidade e honra, ou seja, se é mais valoroso viver em honra e em paz consigo mesmo e com a comunidade, ou se matar, mesmo consciente de que o erro não é seu, moral e eticamente falando.
 No caso, o filme trata do ritual do Sepukku, que é um ritual suicida que todo samurai ou guerreiro (ronin) comete afim de manter sua honra, sendo mais honroso dar fim a própria vida cortando o próprio ventre a viver sem dignidade para consigo, mesmo que saiba que é um guerreiro valoroso, mas em desgraça para a família e a comunidade, o que o desonra de qualquer forma, tudo isso estar dentro do código de honra dos samurais japoneses (Bushido), da Idade Média Nipônica, muito bem retratado e dirigido por Kobayashi na trama sui generis de Harakiri.  
Portanto, percebe-se logo que se trata de um filme japonês do típico gênero cinematográfico nipônico, conhecido como chambara, muito popular no país de origem nas décadas de 20, 30 e 40 do século XX. E quando Kobayashi realiza Harakiri, nos anos 1960, 1962, mais precisamente, o gênero já está em pleno declínio.
Talvez aí um dos maiores fascínios pelo filme primoroso de Masaki Kobayashi resida neste fato mais amplo e no tema mais específico do filme, o sepukku. Ou seja, a honra do fim da vida de um guerreiro/samurai/personagem e/ou, ao mesmo tempo, a obra de Kobayashi representar, metaforicamente, o fim do auge de um gênero fílmico, em seu país de origem e o desgaste no Ocidente em apreciar este tipo de filme.




 Valendo lembrar que o Japão era popular aos olhos ocidentais pelo gênero Chambara, muito mais que os dramas intimistas de Ozu e Mizoguchi realizados à mesma época -, (1962, contudo, já é posterior à época destes dois cineastas). Hoje, contemplarmos Ozu, Mizoguchi e o chambaras clássicos com igual deleite, pois são originalíssimos e diferentes do que geralmente o Ocidente produziu e produz, até hoje.
Inclusive, Harakiri, de Kobayashi, 1962, não é um chambara típico entre os próprios filmes do mesmo gênero. É um filme de samurai intimista, contemplativo e sem muito apelo à violência física. A questão aqui é psicológica e de drama de consciência.

Uma trama em que a direção de Masaki Kobayashi preza por planos estáticos, longos, contemplativos que valorizam o cenário, e movimentos de câmera lentas, que engrandecem a atuação das personagens e em especial em ressaltar sua dor moral. Destaca as metáforas e a simbologia na trama e no contexto da obra que nos faz refletir sobre tudo abordado até agora, quanto ao sepukku e ao Bushido. O roteiro também preza a trama em si, no quesito psicológico e no drama da consciência das personagens, por meio de flashbacks, chegando no clímax, numa cena muito bem dirigida e coreografada por Kobayashi, fazendo de Harakiri, um exemplar único, sui generis de filmes chambaras.”. 





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