(“HARAKIRI,
MASAKI KOBAYASHI, JAPÃO, 1962”):
(“VIDA, HONRA, MORTE”):
(CRÍTICA
POR RAFAEL VESPASIANO):
“Harakiri, 1962, dirigido de maneira
correta, centrada, sem pressa e contemplativa por Masaki Kobayashi nos faz
refletir sobre dignidade e honra, ou seja, se é mais valoroso viver em honra e
em paz consigo mesmo e com a comunidade, ou se matar, mesmo consciente de que o
erro não é seu, moral e eticamente falando.
No caso, o filme trata do ritual do Sepukku,
que é um
ritual suicida que todo samurai ou guerreiro (ronin) comete afim de manter sua honra, sendo mais honroso dar fim
a própria vida cortando o próprio ventre a viver sem dignidade para consigo,
mesmo que saiba que é um guerreiro valoroso, mas em desgraça para a família e a
comunidade, o que o desonra de qualquer forma, tudo isso estar dentro do código de honra dos samurais
japoneses (Bushido), da Idade Média Nipônica, muito bem retratado e
dirigido por Kobayashi na trama sui generis de Harakiri.
Portanto, percebe-se logo que se trata de um filme
japonês do típico gênero cinematográfico nipônico, conhecido como chambara, muito
popular no país de origem nas décadas de 20, 30 e 40 do século XX. E quando Kobayashi
realiza Harakiri, nos anos 1960, 1962, mais precisamente, o gênero já
está em pleno declínio.
Talvez aí um dos maiores fascínios pelo filme
primoroso de Masaki Kobayashi resida neste fato mais amplo e no tema mais
específico do filme, o sepukku. Ou seja, a honra do fim da vida de um
guerreiro/samurai/personagem e/ou, ao mesmo tempo, a obra de Kobayashi
representar, metaforicamente, o fim do auge de um gênero fílmico, em seu país
de origem e o desgaste no Ocidente em apreciar este tipo de filme.
Valendo
lembrar que o Japão era popular aos olhos ocidentais pelo gênero Chambara,
muito mais que os dramas intimistas de Ozu e Mizoguchi realizados à mesma época
-, (1962, contudo, já é posterior à época destes dois cineastas). Hoje,
contemplarmos Ozu, Mizoguchi e o chambaras clássicos com igual deleite,
pois são originalíssimos e diferentes do que geralmente o Ocidente produziu e
produz, até hoje.
Inclusive, Harakiri, de Kobayashi, 1962, não
é um chambara típico entre os próprios filmes do mesmo gênero. É um
filme de samurai intimista, contemplativo e sem muito apelo à
violência física. A questão aqui é psicológica e de drama de consciência.
Uma trama em que a direção de Masaki Kobayashi preza
por planos estáticos, longos, contemplativos que valorizam o cenário, e
movimentos de câmera lentas, que engrandecem a atuação das personagens e em
especial em ressaltar sua dor moral. Destaca as metáforas e a simbologia na
trama e no contexto da obra que nos faz refletir sobre tudo abordado até agora,
quanto ao sepukku e ao Bushido. O roteiro também preza a trama
em si, no quesito psicológico e no drama da consciência das personagens, por
meio de flashbacks, chegando no
clímax, numa cena muito bem dirigida e coreografada por Kobayashi, fazendo de Harakiri, um exemplar único, sui generis de filmes chambaras.”.
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