(Pânico no Ano Zero, Ray Milland, EUA,
1962):
(“Não
deve haver um fim, mas um (novo) começo”):
“Pânico
no Ano Zero é dirigido e estrelado pelo astro Ray Milland, lançado em 1962, no
auge da Guerra Fria entre EUA e URSS, trata-se de um dos primeiros filmes pós-apocalípticos
a questionar como seria a Humanidade nos primeiros dias, após a queda da
primeira bomba atômica.
Sem
se preocupar com mirabolantes efeitos especiais, até por se tratar de um
filme-B produzido pela companhia cinematográfica comandada por Roger Corman, e
sem abordar o roteiro pela perspectiva governamental ou dos exércitos das
grandes potências, a história tem como ponto de vista uma pequena e tradicional
família de Los Angeles, que tinha ao início do filme um simples propósito de
acampar.
Ao
sair de LA, a família chefiada por Harry (Milland) se depara no retrovisor do
carro com que parece ser um raio, a pergunta que vem é simples: será que vai
chover? Até o momento posterior em que surge o tão temido cogumelo nuclear,
agora resta lutar pela sobrevivência no caos que irrompe. Nos primeiros momentos,
após o apocalipse atômico, a Humanidade se desespera, buscando soluções
imediatistas, instintivas de sobrevivência, tais como estocar mantimentos,
saquear os outros, entre outras atitudes não-civilizadas.
Outro
questionamento que surge é o do isolamento social total, Harry busca se isolar
com sua esposa e seus dois jovens filhos, para assim proteger sua família, dos
saques que surgem, dos assassinatos e da desordem que imperam a partir de
então, em uma área de camping distante e pouco movimentada. Em uma metáfora
interessante se deparam com pinturas rupestres que remontam à Idade Antiga da civilização.
Pois não seriam os momentos que a Humanidade está vivenciando nesta altura do filme,
senão os (novos) primórdios da (nova) civilização, após a hecatombe atômica? Ou
seja, a ideia não de um fim, mas de um (novo) começo?
Destaque
para mais uma atuação segura de Milland, premiado como melhor ator por Farrapo Humano, de 1945, de Billy
Wilder, e destaque no hitchcockiano Disque
M para Matar, 1954. O astro hollywoodiano sempre interpretou personagens
decadentes e amorais, mas a partir dos anos 1960 começou a interpretar pais de
família dedicados em proteger a moral e a segurança de seus familiares, é o caso
deste filme em análise, em que Ray Milland vive Harry um pai obcecado em
proteger os seus parentes próximos, mesmo que para isso tome atitudes que
condena e odeia, que causa nele um drama de consciência.
Este
drama de consciência é ampliado por sua esposa Ann, que é uma personagem que
faz um contraponto às atitudes de Harry, é uma espécie de voz que tenta conscientizar
o esposo para ter mais altruísmo para com o restante da sociedade e não apenas
para com seus familiares mais próximos.
Pânico
no Ano Zero conta ainda com uma boa trilha sonora jazzística assinada por Les
Baxter, que confere dinamismo ao filme em alguns momentos de tensão do roteiro
escrito por Jay Simms e John Morton, baseado em dois contos de Ward Moore.
As
reflexões se somam em um filme-B que nos surpreende positivamente. Um thriller e
clássico filme de ficção-científica, que fez muito sentido para seus
espectadores nos anos 1960 e ainda nos faz hoje, nesta releitura em tempos difíceis
da Pandemia da Covid-19, em 2020, pois o que questionamos atualmente senão:
como retornar e retomar à normalidade, após debelada a Pandemia?”
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