(Imagens, Reino Unido, 1972, Robert Altman):
(O
Perigoso Terror: A Mente):
“Imagens é
mais um ótimo filme do mestre da Sétima Arte, Robert Altman. Produzido no Reino
Unido e lançado em 1972, com roteiro original do próprio cineasta, é mais uma
obra ímpar da década de 1970 deste realizador, uma década mágica contemplada
com diversos grandes filmes dirigidos por ele, por exemplo basta citar: M.A.S.H. (1970); Voar é Com os Pássaros (1970); Um
Perigoso Adeus (1973); Nashville
(1975); Oeste Selvagem (1976); Três Mulheres (1977), entre outros.
Robert
Altman teve uma carreira prolífica como cineasta, com um total de 90 créditos
como diretor (segundo fontes do site IMDb), nem sempre de bons filmes, alguns
muito contestados pelo público e pela crítica especializada, na maioria das
vezes suas obras não foram sucessos de bilheteria, porém seus filmes estão
resistindo muito bem a passagem do tempo, alguns bastante atuais e relevantes
ainda, como mostrou a retrospectiva outrora feita pelos Centros Culturais
do Banco do Brasil, no ano de 2008,
gerando intenso debate entre os frequentadores das sessões à época, um ano e
meio após seu falecimento.
Altman iniciou no ano de 1951 com a produção
de um documentário em curta-metragem, seguindo por diversos outros curtas,
entre filmes de ficção e documentário, além de dirigir episódios de séries de
TV, entre segmentos do seriado de Alfred
Hitchcock Apresenta e do Bonanza,
também dirigindo filme televisivos. Seu primeiro longa-metragem é de 1957, Os Delinquentes. Dirigiu mais dois
longas-metragens nos anos 1960, No
Assombroso Mundo da Lua (1967) e Uma
Mulher Diferente (1969). Sua consagração, enfim, veio em 1970 com o filme
de guerra amalucado e politizado, antibelicista M.A.S.H., que inclusive originou um seriado de TV.
Os anos 1980 foram muito irregulares para o
cineasta estadunidense nascido em Kansas City, no ano de 1925, e falecido aos
81 anos de idade em 20 de novembro de 2006. Mesmo assim produziu filmes interessantes
como James Dean, o Mito Sobrevive
(1982), A Honra Secreta (1984) e Louco de Amor (1985). Seu grande
retorno, porém, se deu na década seguinte com os filmes O Jogador e Short Cuts – Cenas
da Vida, respectivamente lançados em 1992 e 1993. Seu último grande filme
foi Assassinato em Gosford Park, de
2001, em que se inspira no filme de 1939, A
Regra do Jogo, de Jean Renoir, para criticar as convenções e hipocrisias
sociais das classes abastardas, mas também das desprovidas de riquezas, na
eterna luta de classes. Seu último suspiro se deu no seu derradeiro ano de
vida, em 2006, com o nostálgico, A Última
Noite.
Depois
deste sucinto panorama da magnífica obra de Robert Altman, voltemos a nos
referir ao filme Imagens. Este é
protagonizado por Susannah York que interpreta uma escritora de livros
infantis, Cathryn -, a própria York escrevia à época das filmagens um livro
voltado para aquele público, À Procura de
Unicórnios -, que teve trechos lidos pela personagem no filme, como forma
de sustentar o roteiro de Altman. E, por sinal, dando muito sentido as questões
desenvolvidas no filme. Outra questão extra filmagem é que a atriz estava
grávida à época e no início recusou o convite para realizar o filme, mas Altman
incorporou este fato também ao roteiro.
Cathryn
é uma personagem desconfiada da fidelidade do marido Hugh (Rene Auberjonois),
ela possui distúrbios psiquiátricos esquizofrênicos; sua mente fragmenta-se em
delírios e ela não distingue em muitos momentos o que é realidade e o que é
fantasia. Cada vez mais vai se se emaranhando em ficções criadas por ela, o seu
eu se divide em uma Cathryn do ‘passado’, ‘má’, ‘obscura’ e a Cathryn do ‘presente’,
‘boa’, ‘verdadeira’. Porém, esta maneira dicotômica de apresentar sua
personagem é apenas uma tentativa momentânea de explicar sua personalidade dividida,
pois esta divisão, tal qual o espelho do quarto, em um determinado momento, do
filme reflete até três Cathyrns.
Cathryn
é assombrada por si mesma, pelo fantasma de um amante Rene (Marcel Bozzuffi) e
um amigo do marido que a assedia continuamente Marcel (Hugh Millais) e até pela
suposta infidelidade do marido. Assim como a personagem de Catherine Deneuve em
Repulsa ao Sexo (1965), de Roman
Polanski, a personagem de Susannah York é aparentemente perturbada por traumas mnemônicos,
que não são revelados ao espectador, mas são talvez uma das explicações para
sua repulsão às três personagens masculinas do filme. Porém o maior medo de
Cathryn, seu grande pesadelo e sua maior sombra a pairar sobre ela é ela mesma;
os seus recônditos da mente e da alma a perturbá-la de uma maneira quase que perpétua.
A
trilha sonora assustadora de John Williams, acentuada pelos ruídos produzidos
por Stomu Yamashta, com a adição da paleta sombria do diretor de fotografia
Vilmos Zsigmond conferem à obra status de um verdadeiro pesadelo que se passa
pela mente caótica de Cathryn. Já que não é necessário nenhum filme de terror
com cenas explícitas de violência ou monstros tenebrosos para nos meter medo;
nós somos nossos maiores fantasmas, o nosso maior pesadelo somos nós mesmos.
Cathryn e Imagens nos sugere muito
bem tal aspecto da psicologia humana.
Uma
questão interessante nesta fragmentação da protagonista é que todas as personagens
têm o primeiro nome que se refere ao nome de um ator do filme: Hugh é o marido interpretado
por Rene Auberjonois, Rene é o
falecido amante interpretado por Marcel
Bozzuffi, Marcel é o vizinho e amigo do casal vivido pelo ator Hugh Millais. O que reflete a
fragmentação da realidade e da mente esquizofrênica de Cathryn. E, ainda tem a jovem
Sussanah vivida por Cathryn Harrison,
o que acentua ainda mais a questão e a circularidade do roteiro de Altman, a
mostrar que a deterioração, as sombras que envolvem a mente da protagonista se perpetuam
no conflito desequilibrado entre realidade e imaginação.
Algumas
cenas são inesquecíveis neste filme de Robert Altman, por exemplo: os
telefones, quatro ao todo, em um apartamento, o que também é sintomático para
mostrar a fragmentação da personalidade da personagem de York, além de início já
revelar suas dúvidas quanto às traições do esposo.
E
outra cena que será devolvida durante por parte do filme é a do quebra-cabeça,
que é a própria mente se revelando e se esfacelando de Cathryn, que está à procura
de escrever seu livro para crianças, com o título já por si só bastante
imaginativo, À Procura de Unicórnios,
e, principalmente, Cathryn está à procura de si mesma, como todos nós.”
Prêmios:
Nomeado
ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Dramática: John Williams (1973);
Nomeado
ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro – 1973;
Melhor
Atriz no Festival de Cannes – 1972 – Susannah York;
Concorreu
à Palma de Ouro – 1972 – Festival de Cannes;
Indicado
ao BAFTA de Melhor Fotografia – Vilmos Zsigmond – 1973;
Entre
outras indicações.
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