“Eu” é mais uma daquelas obras polêmicas
dirigidas por Walter Hugo Khouri, lançada em 1987. Porém, muito acima da média
das produções nacionais da década de 1980, apesar de possivelmente não ser seu
melhor trabalho. Khouri era um exímio cineasta, introspectivo e detalhista em
seus roteiros e filmes. É o caso de “Eu”.
Estrelado por Tarcísio Meira, com seus olhares que demonstram o vazio e a crise
existenciais da personagem Marcelo, em crise com a sua idade avançando, sentindo
a chegada da morte, ou a ansiando, a crise da meia-idade. Desejando todas as
mulheres, um apetite sexual voraz, mas também uma busca por tudo e por nada,
com viés até mesmo de fundo niilista. Marcelo exemplifica também o predador
capitalista, burguês, que usa as outras pessoas, as coisificando e as
considerando todas insignificantes, o que constitui por si só em um pensamento
paradoxal. Ou seja, o filme apesar de um caráter predominantemente introspectivo
e existencialista, tem algumas sugestões ou reflexões sobre questões sociais e
políticas nos diálogos. A galeria de personagens femininas é riquíssima: Lila
(Nicole Puzzi) projeta seus desejos incestuosos em relação ao seu pai em
Marcelo; Renata (Monique Lafond), junto a Lila, desenvolve um trio sexual com
Marcelo e, também agencia outras garotas para Marcelo, como a explosiva e
sensual Diana (Monique Evans), que desde o começo seduz Marcelo; Beatriz
(Christiane Torloni) é uma psicanalista amiga da filha de Marcelo, Berenice
(Bia Seidl) que é estudante de psicologia e muito admira Beatriz. Ou até
mais... Beatriz desperta uma paixão tardia em Marcelo. E Marcelo e sua filha desenvolvem
uma relação de muito amor, respeito e admiração entre si, mas também de repulsa
e estranhamento. Marcelo toma atitudes autodestrutivas que vão minando suas
relações sociais e afetivas. Os conflitos desenvolvidos em relação a toda essa
quantidade de mulheres, todas reunidas em um mesmo espaço, a casa de praia da
família de Marcelo, localizada em uma península isolada, demonstram um homem orgulhoso,
autoconfiante, voraz, porém que demostra insegurança, infantilidade,
imaturidade e até demonstra ser um homem mimado. Todas estas características de
sua personalidade refletem, sobretudo, em um homem, tipicamente, burguês e playboy,
mulherengo, egocêntrico, megalômano, egoísta e individualista, um destruidor de
tudo, de todos e de si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário