(Viagem à roda do meu quarto (1794), de Xavier de Maistre):
(“UM
LIVRO BASILAR PARA O SURGIMENTO E FORMAÇÃO DO ROMANCE MODERNO”):
(RESENHA
POR RAFAEL VESPASIANO):
“O
clássico Viagem à roda do meu
quarto (1794), de Xavier de Maistre, uma obra prima do dualismo
dinâmico parabático e irônico do prosaico e sublime; exterior e interior;
íntimo e objetivo; ou seja, opostos complementares, segundo os Irmãos Schlegel.
Viagem
ao redor do meu quarto
é um livro único e que serviu de tradição literária e influência
estético-estilística para Machado de Assis, quanto ao fluxo de consciência, no
Realismo Artístico. E também o antecipador do romance moderno Marcel Proust e
seus quartos íntimos e reflexivos, meditativos, contemplativos e que
chegam no modernismo brasileiro de Manuel Bandeira também, basta ver o poema “Maçã”.
Viagem
à roda do meu quarto tem como pretexto o confinamento íntimo,
interior e subjetivo do narrador, em Turim, por conta de um duelo, durante 42
dias (o número de capítulos). Essa reclusão acarretada por um episódio
passional reflete uma situação existencial dialética não sintética entre
subjetividade e objetividade; realidade e devaneios. Restaram-lhe os prazeres
de um egotismo caprichoso e errático, que muito influenciará o defunto narrador
de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Aliás Xavier de Maistre teve como tradição literária o maravilhoso Tristram
Shandy, de Laurence Sterne.
Machado de Assis o teria como influência em seus
escritos e obra literária como um todo, em indisfarçáveis aspectos: a conversa
constante com o leitor, os capítulos curtíssimos, a metalinguagem, as
digressões, o uso satírico de teorias filosóficas, o Humanistimo, por exemplo
de Quincas Borba, a pilhéria
dialogando com a melancolia, ou seja, nesse clima de volubilidade e misantropia,
e, o dualismo dinâmico de realidade, delírio/devaneio/sonho, e mais a
metalinguagem para complementar o surgimento do romance moderno de fins do
século XIX, início do século XX, com Joyce e Mann.
Por isso, apesar do charme do texto, há uma reserva
que persiste na leitura de Viagem
à roda do meu quarto (e da sua continuação, publicada em 1824, Expedição noturna ao redor do meu quarto.
O que não se pode negar é que de
Maistre conseguiu o feito de alargar as fronteiras da literatura,
trazendo o mundo da intimidade pessoal e a falta de intriga folhetinesca para o
centro da narrativa, na exploração do seu quarto por 42 dias e no decorrer de
uma noite, como complemento dos devaneios, sonhos/realidade, fatos.”.
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