quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Nanook, O Esquimó (Nanook of the North), de Robert Flaherty (EUA, 1922):



Nanook é uma obra seminal de profunda importância para os documentários, pois para muitos trata-se do filme inaugurador do cinema documental, mas especificamente o antropológico. Nanook é uma aventura-documental que se converte na aventura do crítico e do espectador, que se tornam cúmplices na jornada de uma família esquimó, em busca de sua sobrevivência diária. O filme se estabelece em um período especialmente fértil da era do cinema silencioso e rico em termos artísticos e visuais. A década de 1920 é o período em que o cinema mudo explode em diversidades e caminhos, época em que se de um lado vive-se um período de vanguardas e experimentações com a potencialidade de sugestões fílmicas diversas, do outro, delineia-se, bastante conscientemente, uma forma de exposição calcada no discurso narrativo.



Uma das grandes questões que começam a aflorar é a possibilidade de se trabalhar um filme somente a partir da potência de suas imagens, eliminando de vez a questão dos letreiros, Flaherty, por outro lado, encontra-se diante de uma possibilidade única de construção fílmica: ao se deparar com os esquimós, deve buscar uma forma que dê vazão ao ritmo do cotidiano de seus habitantes, ao mesmo tempo em que construa claramente um ato narrativo organizado, claro, coeso e coerente na exposição do que o cineasta se propõe a mostrar e documentar no exposto acima. Com grande consciência que o cineasta realiza alguns elementos como base para seu filme: por um lado, a organização a partir da ideia de uma cena, de um mundo que se doa direto para câmera, de forma objetiva; do outro, um fio condutor, o elo de toda saga do filme: a luta pela sobrevivência ou seja a busca do alimento.
Com Nanook, temos uma proposta documental que é, a um só tempo, relacional e narrativa. Os protagonistas devem se engajar, devem participar e criar uma relação direta com a cena e a câmera, mas ela parte de uma vontade centralizada nas mãos do realizador, que nunca perde a ‘mão’ sobre a condução de seu filme.

Nanook é a objetivação antropológica de uma visão do homem-branco. É Flaherty quem constrói o espaço e a narrativa; é Flaherty que deseja narrar a saga de um povo para o seu povo e, para isso, elegeu um herói: ‘Nanook, o Urso’. Talvez, Nanook possa não ser o nascimento da tradição documentária, mas ele é, sem com certeza, o momento em que o cinema se encontra diante de um de seus temas mais importantes, talvez a sua real vocação: o homem e sua persona. ”  



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