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Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector: romance, 1943:
- Em seu romance de estreia, a autora ora desvela ao leitor o mundo interior da protagonista Joana, ora a contempla
de fora, o mundo externo de Joana, alternando dessa forma dois
tempos: o da infância, na qual a personagem interroga o mundo, os seres, as
coisas e, um tempo atemporal, intemporal, ou fora do tempo, ou seja, a
eternidade, no qual Joana vive um casamento com Otávio, com quem Joana nunca
nutriu a ilusão de ser completa, pois o marido é sempre visto como um estranho.
- A Incompletude, a Inquietude são sensações que perseguem Joana desde sua Infância, sua inadequação primordial. O “Selvagem” do título será percebido,
interpretado aos poucos pelo leitor justamente como esta inquietação de Joana
ante o mundo e a coisas, ou melhor ante a si mesma, o seu mundo interior, a sua
personalidade interrogativa e inquisidora; esta sua visão de mundo ‘selvagem’
(metáfora) de ver o (s) mundo (s): e a própria selvageria que é viver o mundo
interior e o mundo exterior. Basta para percebemos que uma de suas epifanias 'Vive-se e Morre-se' (lição do Professor), capítulo: ... O Banho... (Primeira
Parte), sugere justamente esta selvageria do nosso viver, inquieto e incompleto em Busca... Incompletude, acaba por ser uma das respostas encontradas. Pois, talvez, a protagonista nunca se descubra por completo, estando
sempre perto de si descobrir, porém nunca se complete, pois, a completude é a própria incompletude.
- O momento epifânico somente ocorrendo a tal epifania (a maior) justamente na descoberta da sua inquietude,
da sua incompletude, que são de todas as
mulheres e de todos nós, está aí a universalidade do romance.
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Um dos capítulos primordiais do livro são as várias descobertas da adolescência, no qual Joana descobre-se mulher, a sua feminilidade dar-se na da passagem infância para tornar-se Mulher, porém não de forma estanque, acabada, pois é uma linha tênue, um devir no romance.
- A escrita do romance é tateante, sonâmbula, não-linear, o tempo psicológico predomina marcado por epifanias, pequenas e de grandes revelações, a maior talvez é: que se vive para
morrer e a incompletude humana, esta inquietude que nos é peculiar é nossa
maior felicidade. Assim, é na meia-Vigília, na duração 'instante-intervalar' que o silêncio-contemplação leva às
epifanias, as novidades em devir revelam que a vida é uma travessia infinita de novidades, inauditos.
- O romance nos desvela também alegria-tristeza e
vice-versa, sentimentos conflituosos e harmoniosos, opostos complementares, por exemplo, no
casamento de Joana se revela esta dualidade dinâmica, em um amor incompleto, inquieto.
- Outra epifania de Joana é a dos 'círculos completos em si
mesmos', mas que desta forma não revela nada, somente quando estes círculos se intercalam entre si, ou seja, não sendo mais círculos completos em si mesmos, mas quando se misturam, todos sobrepostos
aos outros configura-se a epifania: que todos os momentos da vida são tão
intensos em suas infinitas-finitas durações-travessias do presente, não
importando passado nem futuro.
- Esta e outras epifanias se expressam principalmente no 'silêncio' e através das sensações, daí se chega a mais uma das epifanias de Joana = a
mulher é o devir, é o eterno tornar-se...
- A solidão, o silêncio momentos
propícios das verdadeiras revelações, descobertas, epifanias de si mesma = a
descoberta do verdadeiro amor, o amor a si mesmo, sua individualidade completa
na incompletude (não individualismo), precisa-se encontrar a si mesma, a
amar-se para amar outro numa relação amorosa homem-mulher, no caso do romance em tela.
- O Mar sempre aparece como metáfora de amplidão = imensidão – completude na incompletude do infinito –
devir – o que importa é o ir – a travessia. A importância é viver simplesmente viver o seu “Presente” – transpondo
suavemente alguma coisa... ou seja a própria existência em devir. A alegria é a Alegria de saber que se está vivendo – epifania.
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Solidão não em strictu sensu, mas em
sentido epifânico de introspecção de Joana para metaforicamente perceber pelas
sensações, pelas impressões que sua liberdade, sua completude está na incompletude inquieta, é por isso mesmo a incompletude que completa de maneira incompleta a Busca por si mesma.
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