(As Amorosas, Walter Hugo Khouri, Brasil,
1968):
“Do
Nada viemos para o Nada retornaremos. Desta maneira circular dá-se também
roteiro do filme de Walter Hugo Khouri, “As Amorosas”, lançado em 1968. O roteiro escrito pelo próprio cineasta
mostra a travessia de Marcelo (Paulo José) que vive uma existência em crise
consigo, com os outros e coma sociedade de uma maneira geral. O filme começa
como protagonista à deriva numa mata, à deriva ele percorre sua trajetória a
obra toda, e ao fim e ao cabo, à deriva permanecerá como todos os seres
humanos, pois a maior revelação talvez que o espectador tenha é que nossas
vidas são vividas em devir. O eterno retorno ao ventre materno, a posição fetal
onde o Tudo e O Nada começa é também o fim do Tudo e do Nada, que na verdade é
apenas o Meio.
Marcelo se relaciona em frangalhos com sua
irmã Lena (Lilian Lemmertz), com sua namorada Marta (Jacqueline Myrna) e com
sua amante Ana (Anecy Rocha). Porém, é sua vida pessoal, psicológica e
existencial que está em frangalhos e em crise, por isso talvez ele tenha uma
perspectiva niilista em relação à sociedade e, principalmente, para consigo, já
que suas tentativas de tomar atitude são sempre tão frustradas quanto sua
própria existência, sua força de vontade se esgota quanto apenas esboça uma
formulação de tentar algo em sua jornada. Marcelo cursa a faculdade de Cinema,
é revisor, tradutor e crítico de Artes, mas não desenvolve nada, nulifica-se
sempre em si mesmo e em suas relações. Por exemplo, ao dar um depoimento para
um documentário ele testemunha que não vislumbra e não deseja nada. Talvez aqui
resida sua maior descoberta: ele auto-descobre inapto para o viver. ”
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