quinta-feira, 15 de outubro de 2015

(LONGA JORNADA NOITE ADENTRO)

(“UMA JORNADA NO ÂMAGO DE UMA FAMÍLIA EM RUÍNAS”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)



“Eugene O´Neill confessou que a sua peça trágica e reveladora dos mais profundos dramas de consciência, “Longa Jornada Noite Adentro”, é muito autobiográfica, uma espécie de catarse para o autor e os dramas vividos no passado no seio de sua família.

O autor se preocupa na peça com cada personagem, com o mesmo tratamento, sem prevalecer um sobre o outro. Todos da família estão vivendo um período de tensão na vida familiar; por causa da mãe viciada em morfina; o esposo tenta fazer de conta que tudo transcorrer naturalmente e “acredita” nas mentiras da esposa, de que ela está sem usar a droga. Os filhos (dois), um reage de forma mais agressiva contra o pai e a mãe, e, o outro mais novo observa mais distante, mas sofre muito também, e é um garoto adoentado, o que faz mãe dele paparicar muito o mesmo. Este filho mais novo, inocente é o mais impotente na peça e ver e registra (com drama de consciência) tudo que se passa com seus familiares, na casa de veraneio deles.

Este drama trágico, de colocar todas as emoções e pensamentos para fora, verbalizar para o outro, para o outro parente/familiar, tudo o que pensa sobre a situação, leva à família à ruína física, psicológica e moral. E o garoto acaba se envolvendo mais e sofre em dobro, por ele e pela mãe. A mãe está completamente fora-de-si, perdendo a razão e perdendo a sanidade.

A peça tem quatro atos: o primeiro, se passa de manhã; o segundo, ao entardecer; o terceiro, ao crepúsculo, e, o quarto ato, perto da meia-noite. É um crescente simbólico de escuridão, sombra, penumbra, não só no meio físico, porém, também, uma metáfora dos estados das almas das personagens, que cada vez vão saindo da zona de conforto para o desespero e perda da razão, mesmo que momentânea. A luz solar (clareza de pensamento) vai diminuindo até dominar a escuridão plena na casa e na ambiência do espaço, onde se passa a trama, chegando às trevas (perda da razão).

A família termina arruinada não financeiramente, mas psicologicamente, com traumas que serão carregados com cada personagem até o fim... da sua existência!?. O drama de consciência e humano, portanto, é destruidor e devastador, e que faz realmente nós sermos criaturas racionais, mas que podemos perder a razão, por segundos apenas, porém, o suficiente para a união familiar está arruinada para sempre. A ruína aqui não é meramente física, mas moral (alegórica).


“O Inferno Somos Nós.”, (frase, de Jean Prévost), sobre a peça de O´Neill, que serviria de epígrafe para a obra do dramaturgo. Todos da família saíram do “Paraíso”, já começam a peça no “Purgatório”, sofrendo tragicamente e dramaticamente e vão Inferno absoluto psicológico, sem muitas possibilidades catábase.”


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