(LONGA
JORNADA NOITE ADENTRO)
(“UMA JORNADA NO ÂMAGO DE UMA FAMÍLIA
EM RUÍNAS”):
(CRÍTICA
POR RAFAEL VESPASIANO)
“Eugene
O´Neill confessou que a sua peça trágica e reveladora dos mais profundos dramas
de consciência, “Longa Jornada Noite Adentro”, é muito autobiográfica, uma
espécie de catarse para o autor e os dramas vividos no passado no seio de sua
família.
O
autor se preocupa na peça com cada personagem, com o mesmo tratamento, sem
prevalecer um sobre o outro. Todos da família estão vivendo um período de
tensão na vida familiar; por causa da mãe viciada em morfina; o esposo tenta
fazer de conta que tudo transcorrer naturalmente e “acredita” nas mentiras da
esposa, de que ela está sem usar a droga. Os filhos (dois), um reage de forma
mais agressiva contra o pai e a mãe, e, o outro mais novo observa mais distante,
mas sofre muito também, e é um garoto adoentado, o que faz mãe dele paparicar
muito o mesmo. Este filho mais novo, inocente é o mais impotente na peça e ver
e registra (com drama de consciência) tudo que se passa com seus familiares, na
casa de veraneio deles.
Este
drama trágico, de colocar todas as emoções e pensamentos para fora, verbalizar
para o outro, para o outro parente/familiar, tudo o que pensa sobre a situação,
leva à família à ruína física, psicológica e moral. E o garoto acaba se
envolvendo mais e sofre em dobro, por ele e pela mãe. A mãe está completamente
fora-de-si, perdendo a razão e perdendo a sanidade.
A
peça tem quatro atos: o primeiro, se passa de manhã; o segundo, ao entardecer;
o terceiro, ao crepúsculo, e, o quarto ato, perto da meia-noite. É um crescente
simbólico de escuridão, sombra, penumbra, não só no meio físico, porém, também,
uma metáfora dos estados das almas das personagens, que cada vez vão saindo da
zona de conforto para o desespero e perda da razão, mesmo que momentânea. A luz
solar (clareza de pensamento) vai diminuindo até dominar a escuridão plena na
casa e na ambiência do espaço, onde se passa a trama, chegando às trevas (perda
da razão).
A
família termina arruinada não financeiramente, mas psicologicamente, com
traumas que serão carregados com cada personagem até o fim... da sua
existência!?. O drama de consciência e humano, portanto, é destruidor e
devastador, e que faz realmente nós sermos criaturas racionais, mas que podemos
perder a razão, por segundos apenas, porém, o suficiente para a união familiar
está arruinada para sempre. A ruína aqui não é meramente física, mas moral
(alegórica).
“O
Inferno Somos Nós.”, (frase, de Jean Prévost), sobre a peça de O´Neill, que
serviria de epígrafe para a obra do dramaturgo. Todos da família saíram do “Paraíso”,
já começam a peça no “Purgatório”, sofrendo tragicamente e dramaticamente e vão
Inferno absoluto psicológico, sem muitas possibilidades catábase.”
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