quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O QUIMONO ESCARLATE (SAMUEL FULLER/EUA/1959)


(“PRECONCEITO E CIÚME EM UMA OBRA-PRIMA DE FULLER”)


(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO)






“Este filme de Fuller poderia ser encarado como um mero e passageiro filme policial. Mas não o é, o cinema de Fuller é primeiramente paixão e ação. A proposta do filme é apelar aos sentidos dos espectadores, numa fotografia preto-e-branco arrebatadora, é quase apelativa para que o filme nos fale diretamente, sobre vários temas entre eles, o ciúme doentio de uma mulher por possível assassino de uma dançarina, ciúme este baseado no fato da artista ser mais nova do que a pretendente (possível) ao pacato cidadão, boa praça e bem-disposto a ajudar o próximo. Ciúme entre parceiros detetives por uma mesma mulher, Cris, sedutora, que endoidece a cabeça, tanto de Joey quanto de Chalie. Enquanto essas reflexões sobre ciúme ocorrem a trama policialesca de qualidade continua sendo desvendada aos poucos.

Outra questão abordada é o preconceito norte-americano contra asiáticos, em especial japoneses, chineses e coreanos, nos anos 50/60 do século XX; o filme é também uma crítica à Guerra da Coréia, e por tabela à Guerra do Vietnã, e, mais amplamente à Guerra Fria, um libelo antibelicista implícito. Os dois detetives desenvolvem uma rivalidade baseada na discriminação étnica (Joey, de origem asiática, passa, de acordo como transcorrer do enredo, a achar que o parceiro estadunidense caucasiano o discrimina, Charlie, fica numa situação delicada em relação ao amigo desconfiado. Mas o próprio Joey acha que também é vítima de preconceito racial e étnico de Cris, a mulher americana e branca, com quem se envolve no transcorrer da trama.


O filme é abrupto e passa rápido, no calor dos sentimentos e das emoções, apelando ao espectador atenção total, e, gerando reflexões durante a projeção e depois da exibição também. Um clássico. Atualíssimo ainda no século XXI, 2015.”

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