(Dias de Outono, Japão, 1960, Yasujirô
Ozu):
(Contemplando
o cotidiano em seus encantos):
“Ayako
– “Romance e casamento são coisas diferentes...”.
É
uma das frases ditas por esta personagem em um excelente diálogo em um café,
entre ela e seu “tio” Mamiya, quando ele tenta convencê-la a casar. E por
aquela frase e por outros diálogos o espectador será apresentado a um dos
principais debates do filme: o casamento arranjado. Por sinal o roteiro de Kôgo
Noda (habitual colaborador do cineasta) e do prórpio Yasujirô Ozu, baseado no
romance de Ton Satomi, é excelente e propõe ótimas oportunidades para os
espectadores contemplarem e refletirem sobre questões pessoais e interpessoais
envolvendo: casamento, relação mãe e filha, viuvez, amizade, memórias, entre
outras. Este é o filme Dias de Outono
dirigido pelo mestre japonês Ozu, de 1960, o seu antepenúltimo filme de uma
carreira de 56 créditos como diretor.
Ozu
em boa parte de sua filmografia se propôs a discutir as questões familiares sem
se preocupar em demasia com a narrativa e a trama em si, mas as reflexões
levantadas em suas obras, deixando bastante tempo para quem assiste aos filmes
se concentrar na ambiência, na contemplação e nos questionamentos propostos,
exemplos disso são: Os Irmãos e Irmãs
Todas (1941) e Era uma Vez em Tóquio
(1953). Ozu também diversas vezes trabalha os mesmos temas em obras diferentes,
ou melhor realiza variações sobre a mesma temática, já que é possível
estabelecer relação deste Dias de Outono
com um clássico dele intitulado Pai e Filha,
de 1949, com roteiro também em parceria entre Noda e Ozu. Neste a questão
girava entre um pai viúvo e sua filha, que não queria casar para não abandonar
seu pai sozinho, já no filme de 1969, é a vez de uma filha e sua mãe viúva em
similar situação. Dessa forma, se confirma o que muitos críticos de cinema
dizem dos grandes cineastas e artistas em geral, que realizam sempre obras
sobre os mesmos temas, somente realizando recriações, porém sempre com um novo
vigor artístico e sempre com aura de genialidade.
Yasujirô
Ozu explora ainda um Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, recuperando-se após a
destruição ocasionada pela Guerra, o figurino reflete o vestuário ocidental a
ser usado no país, além de costumes do Ocidente geral sendo adotados no país
asiático. Além disso, o filme confronta as gerações mais velhas e mais novas.
O
filme é belo e contemplativo em mostrar com cuidado e apuro na fotografia
colorida a relação entre mãe e filha, de extremo companheirismo e cuidados de
uma para com a outra, Akiko, a mãe (Setsuko Hara) e a filha Ayako (Yôko
Tsukasa), atrizes habituais dos trabalhos de Ozu dão uma aula de atuações
comedidas e serenas, das quais o cineasta se vale para com toda calma do mundo
e sem presa mostrar a que a rotina e o cotidiano familiar têm os seus encantos.
”
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