sábado, 15 de fevereiro de 2020

(Dias de Outono, Japão, 1960, Yasujirô Ozu): (Contemplando o cotidiano em seus encantos)


(Dias de Outono, Japão, 1960, Yasujirô Ozu):
(Contemplando o cotidiano em seus encantos):

“Ayako – “Romance e casamento são coisas diferentes...”.
É uma das frases ditas por esta personagem em um excelente diálogo em um café, entre ela e seu “tio” Mamiya, quando ele tenta convencê-la a casar. E por aquela frase e por outros diálogos o espectador será apresentado a um dos principais debates do filme: o casamento arranjado. Por sinal o roteiro de Kôgo Noda (habitual colaborador do cineasta) e do prórpio Yasujirô Ozu, baseado no romance de Ton Satomi, é excelente e propõe ótimas oportunidades para os espectadores contemplarem e refletirem sobre questões pessoais e interpessoais envolvendo: casamento, relação mãe e filha, viuvez, amizade, memórias, entre outras. Este é o filme Dias de Outono dirigido pelo mestre japonês Ozu, de 1960, o seu antepenúltimo filme de uma carreira de 56 créditos como diretor.
Ozu em boa parte de sua filmografia se propôs a discutir as questões familiares sem se preocupar em demasia com a narrativa e a trama em si, mas as reflexões levantadas em suas obras, deixando bastante tempo para quem assiste aos filmes se concentrar na ambiência, na contemplação e nos questionamentos propostos, exemplos disso são: Os Irmãos e Irmãs Todas (1941) e Era uma Vez em Tóquio (1953). Ozu também diversas vezes trabalha os mesmos temas em obras diferentes, ou melhor realiza variações sobre a mesma temática, já que é possível estabelecer relação deste Dias de Outono com um clássico dele intitulado Pai e Filha, de 1949, com roteiro também em parceria entre Noda e Ozu. Neste a questão girava entre um pai viúvo e sua filha, que não queria casar para não abandonar seu pai sozinho, já no filme de 1969, é a vez de uma filha e sua mãe viúva em similar situação. Dessa forma, se confirma o que muitos críticos de cinema dizem dos grandes cineastas e artistas em geral, que realizam sempre obras sobre os mesmos temas, somente realizando recriações, porém sempre com um novo vigor artístico e sempre com aura de genialidade.
Yasujirô Ozu explora ainda um Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, recuperando-se após a destruição ocasionada pela Guerra, o figurino reflete o vestuário ocidental a ser usado no país, além de costumes do Ocidente geral sendo adotados no país asiático. Além disso, o filme confronta as gerações mais velhas e mais novas.
O filme é belo e contemplativo em mostrar com cuidado e apuro na fotografia colorida a relação entre mãe e filha, de extremo companheirismo e cuidados de uma para com a outra, Akiko, a mãe (Setsuko Hara) e a filha Ayako (Yôko Tsukasa), atrizes habituais dos trabalhos de Ozu dão uma aula de atuações comedidas e serenas, das quais o cineasta se vale para com toda calma do mundo e sem presa mostrar a que a rotina e o cotidiano familiar têm os seus encantos. ”

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