sábado, 15 de fevereiro de 2020

Hotel do Norte, França, 1938, Marcel Carné: (Tragicomédia da classe trabalhadora parisiense)


Hotel do Norte, França, 1938, Marcel Carné:
(Tragicomédia da classe trabalhadora parisiense):

“A Bastilha? Eu sei o que foi a Bastilha. Ela caiu e o que mudou?
Nesta frase enunciada pela personagem Raymonde (Arletty) em um diálogo com um dos seus amantes temos um exemplo de uma questão muito bem apresentada no filme Hotel do Norte (Marcel Carné, dos excelentes Os Visitantes da Noite, O Boulevard do Crime, Trágico Amanhecer, para citar alguns), de 1938, sobre a classe trabalhadora em Paris, antes da Segunda Guerra Mundial. Os trabalhadores no filme aparecem levando vidas fatalistas, meramente banais em suas desilusões diárias e sem esperanças de melhorias.
O filme começa com um casal chegando ao Hotel do Norte, em uma belíssima tomada silenciosa, eles se hospedam no hotel com o intuito do duplo suicídio. Porém, algo acontece e o roteiro a partir daí, com a condução do cineasta Carné, nos leva a conhecer os motivos que o fizeram chegar a este ponto. Somos apresentados a um outro casal, Raymonde e Edmond, ela é uma prostituta e ele é um vigarista enigmático. No Hotel do Norte, os conflitos se desenrolam entre vários trabalhadores lutando pelo pão de cada dia, entre algumas diversões, ilusões, vãs expectativas e amores frustrados, enfim a vida passa ante nossos olhos destes seres um tanto quanto marginais.
Um paralelo interessante entre este filme e outro dirigido por Marcel Carné, Trágico Amanhecer de 1939, é o uso de um quarto-apartamento específico para desenvolver seus dramas de consciências. No filme de 39, a personagem interpretada por Jean Gabin rememora fatos que o levaram a cometer um assassinato. No filme de 1938, o Hotel e arredores é o espaço para o observar dos dramas pessoais, das relações interpessoais e a tragicomédia da classe operária.  As questões trágicas, cômicas, ou seja, a própria tragicomédia acompanha quase toda a filmografia de Carné, e em Hotel do Norte é bastante evidente tal aspecto.
O último plano é também realizado com maestria pelo cineasta que o relaciona ao primeiro plano, só que agora com um diálogo e uma trilha musical. Grande filme de Carné. ”

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