sábado, 8 de fevereiro de 2020

Adoniran: Meu Nome é João Rubinato: (Um documentário sobre o boêmio vespertino)


Adoniran: Meu Nome é João Rubinato
(Um documentário sobre o boêmio vespertino):

“O documentário é antes de tudo um veículo para enaltecer, rememorar e até certo ponto venerar miticamente o malandro Adoniran Barbosa, o “boêmio vespertino” da megalópole paulistana. O filme, desde o início, propõe uma viagem sobre os meandros de sua vida pessoal. Porém, com excessivo didatismo e sem preocupações em analisar a obra do sambista no cenário da música nacional.
O interesse é, justamente, nos seus causos de malandro e apreciador de boas doses de álcool, nas suas personas de cantor-compositor, radialista, humorista e ator, com profundo didatismo e linearidade e com excessivo uso do “mostro e conto” do diretor Pedro Serrano e dos entrevistados.
Um ponto forte do documentário é a questão da figura mítica por trás da pessoa de João Rubinato, a sua própria persona Adoniran Barbosa, que se sobrepõe sobre aquela. Não se sabe nunca se Adoniran está contando a “verdade” sobre as origens de suas canções ou não, ficção e realidade se misturam em suas entrevistas e depoimentos. E até os entrevistados que conviveram com ele têm suas próprias versões.
Mais uma vez, ressalte-se que nenhuma reflexão o espectador terá sobre o seu fim decadente, sobre os contrates e oposições entre o samba de Rio de Janeiro e São Paulo, nem sobre as questões da música popular e erudita. Apesar de ao fim do filme ser apresentada uma narração mal desenvolvida de um depoimento do intelectual Antonio Candido.
Outra questão solta no documentário pelo diretor Pedro Serrano e mal elaborada e discutida é a questão da figura poética do “palhaço triste”, do “clown, que já vimos na história do cinema em filmes como “Ironia da Sorte”, dirigido por Victor Sjöström e estrelado por Lon Chaney, de 1924, ainda temos as figuras lendárias do Carlitos de Chaplin e do “palhaço que não ri” de Buster Keaton. Já na Literatura Brasileira temos um poema simbolista de Cruz e Sousa que ilustra metaforicamente muito bem esta questão:
ACROBATA DA DOR
“Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta...

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! reteza os músculos, reteza
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço. ”                  (Publicado no livro Broquéis (1893).)                                                
Enfim, o filme em que pese suas boas intenções e alguns pontos positivos apresenta falhas gritantes, mas serve como introdução para a obra deste magistral poeta-musical do Brás e do Bexiga, da São Paulo em transformação pelo progresso em des-progresso da década de 1930, do século passado, um artista feliz-triste em seu Samba poético-trágico. ”

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