Adoniran:
Meu Nome é João Rubinato
(Um
documentário sobre o boêmio vespertino):
“O
documentário é antes de tudo um veículo para enaltecer, rememorar e até certo
ponto venerar miticamente o malandro Adoniran Barbosa, o “boêmio vespertino” da
megalópole paulistana. O filme, desde o início, propõe uma viagem sobre os
meandros de sua vida pessoal. Porém, com excessivo didatismo e sem preocupações
em analisar a obra do sambista no cenário da música nacional.
O
interesse é, justamente, nos seus causos de malandro e apreciador de boas doses
de álcool, nas suas personas de cantor-compositor, radialista, humorista e
ator, com profundo didatismo e linearidade e com excessivo uso do “mostro e
conto” do diretor Pedro Serrano e dos entrevistados.
Um
ponto forte do documentário é a questão da figura mítica por trás da pessoa de
João Rubinato, a sua própria persona Adoniran Barbosa, que se sobrepõe sobre
aquela. Não se sabe nunca se Adoniran está contando a “verdade” sobre as
origens de suas canções ou não, ficção e realidade se misturam em suas
entrevistas e depoimentos. E até os entrevistados que conviveram com ele têm
suas próprias versões.
Mais
uma vez, ressalte-se que nenhuma reflexão o espectador terá sobre o seu fim
decadente, sobre os contrates e oposições entre o samba de Rio de Janeiro e São
Paulo, nem sobre as questões da música popular e erudita. Apesar de ao fim do
filme ser apresentada uma narração mal desenvolvida de um depoimento do
intelectual Antonio Candido.
Outra
questão solta no documentário pelo diretor Pedro Serrano e mal elaborada e
discutida é a questão da figura poética do “palhaço triste”, do “clown, que já
vimos na história do cinema em filmes como “Ironia da Sorte”, dirigido por Victor
Sjöström e estrelado por Lon Chaney, de 1924, ainda temos as figuras lendárias
do Carlitos de Chaplin e do “palhaço que não ri” de Buster Keaton. Já na
Literatura Brasileira temos um poema simbolista de Cruz e Sousa que ilustra
metaforicamente muito bem esta questão:
ACROBATA
DA DOR
“Gargalha,
ri, num riso de tormenta,
como
um palhaço, que desengonçado,
nervoso,
ri, num riso absurdo, inflado
de
uma ironia e de uma dor violenta.
Da
gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita
os guizos, e convulsionado
Salta,
gavroche, salta clown, varado
pelo
estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te
bis e um bis não se despreza!
Vamos!
reteza os músculos, reteza
nessas
macabras piruetas d'aço...
E
embora caias sobre o chão, fremente,
afogado
em teu sangue estuoso e quente,
ri!
Coração, tristíssimo palhaço. ”
(Publicado no livro Broquéis (1893).)
Enfim,
o filme em que pese suas boas intenções e alguns pontos positivos apresenta
falhas gritantes, mas serve como introdução para a obra deste magistral
poeta-musical do Brás e do Bexiga, da São Paulo em transformação pelo progresso
em des-progresso da década de 1930, do século passado, um artista feliz-triste
em seu Samba poético-trágico. ”
Nenhum comentário:
Postar um comentário