(A Montanha dos Sete Abutres (Ace in
the Hole, 1951): uma obra-prima premonitória do sensacionalismo midiático
atual.):
(Crítica por Rafael
Vespasiano).
“Obra-prima de Billy
Wilder discute o sensacionalismo na imprensa através de um discurso que permanece
contundente e cada vez mais atualíssimo. Durante a década
de 1950, Billy Wilder foi o responsável por alguns dos maiores clássicos não só
da década, mas do Cinema Mundial. Com Crepúsculo
dos Deuses (1950), fez uma crítica ácida aos produtores de Hollywood; com O Pecado Mora ao Lado (1955), fez a
censura ter que se desdobrar para ‘conter’ a ‘sensualidade’ espontânea de
Marilyn Monroe; com Quanto Mais Quente
Melhor (1959), utilizou homens vestidos de mulher que não podiam ceder aos
encantos da mesma Monroe, para ironizar a máfia e sociedade. E ainda temos nos
mesmos anos 50, filmes como Inferno nº 17
(1953), Sabrina (1954), Testemunha de Acusação (1957) e Se Meu Apartamento Falasse (1960).
Diretor refinado, audaz,
e irônico, Wilder nunca se restringiu a gêneros ou convenções, o que se
comprova pelos títulos citados acima. Sua ideia sempre foi de criar um cinema
forte, comunicativo, popular, mas reflexivo e contundente, e, não apenas de
obras para se assistir e esquecer.
Em
A Montanha dos Sete Abutres, de 1951,
Wilder causou a ira mais uma vez um caos de todo um segmento de indústria ao
criticar os jornais e o modo sensacionalista de se fazer ‘notícia’. Narra a
história de Chuck Tatum (Kirk Douglas), um jornalista arrogante e inescrupuloso
que perde o emprego em diversos jornais de grande circulação, vendo sua
carreira sem rumo o guiar até a pequena e pacata cidade do Novo México, onde
arruma um emprego em um jornal discreto e correto. Sua concepção para se reerguer
é que aquele emprego seja uma passagem rápida, porém, percebe a passagem do
tempo e sua vida cair no anonimato.
Quando
um minerador (Richard Benedict) é soterrado em uma montanha próxima dali, Tatum,
de maneira sensacionalista, vê a oportunidade que precisava para voltar aos
holofotes: dramatizar e prolongar a história daquele homem, fazendo daquele
evento trágico mais trágico ainda, em um verdadeiro caso de comoção nacional,
sensacionalismo exacerbado de todos que começam a chegar ao local, e conduzidos
pela arrogância e ‘liderança’ do jornalista-herói, encarnado por um Douglas
inspirado.
Tatum
finalmente conseguira o que queria: ser lido por um gigantesco público em uma
grande história novamente. Mas a que preço? Tudo em A Montanha dos Sete Abutres remete ao pior do ser humano: egoísmo,
manipulação, o particular ao invés de se atender primeiramente aos interesses
da sociedade e humanidade.
Kirk
Douglas garante à Tatum um ar de ironia que o perseguirá por todo o filme. Inigualável,
sua atuação chama a atenção de todos os espectadores ao longo dos tempos desde
a feitura desta obra-prima clássica e premonitória. ”
Nenhum comentário:
Postar um comentário