quarta-feira, 29 de março de 2017

(A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole, 1951): uma obra-prima premonitória do sensacionalismo midiático atual.):

(A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole, 1951): uma obra-prima premonitória do sensacionalismo midiático atual.):

(Crítica por Rafael Vespasiano).






“Obra-prima de Billy Wilder discute o sensacionalismo na imprensa através de um discurso que permanece contundente e cada vez mais atualíssimo. Durante a década de 1950, Billy Wilder foi o responsável por alguns dos maiores clássicos não só da década, mas do Cinema Mundial. Com Crepúsculo dos Deuses (1950), fez uma crítica ácida aos produtores de Hollywood; com O Pecado Mora ao Lado (1955), fez a censura ter que se desdobrar para ‘conter’ a ‘sensualidade’ espontânea de Marilyn Monroe; com Quanto Mais Quente Melhor (1959), utilizou homens vestidos de mulher que não podiam ceder aos encantos da mesma Monroe, para ironizar a máfia e sociedade. E ainda temos nos mesmos anos 50, filmes como Inferno nº 17 (1953), Sabrina (1954), Testemunha de Acusação (1957) e Se Meu Apartamento Falasse (1960).
Diretor refinado, audaz, e irônico, Wilder nunca se restringiu a gêneros ou convenções, o que se comprova pelos títulos citados acima. Sua ideia sempre foi de criar um cinema forte, comunicativo, popular, mas reflexivo e contundente, e, não apenas de obras para se assistir e esquecer.
Em A Montanha dos Sete Abutres, de 1951, Wilder causou a ira mais uma vez um caos de todo um segmento de indústria ao criticar os jornais e o modo sensacionalista de se fazer ‘notícia’. Narra a história de Chuck Tatum (Kirk Douglas), um jornalista arrogante e inescrupuloso que perde o emprego em diversos jornais de grande circulação, vendo sua carreira sem rumo o guiar até a pequena e pacata cidade do Novo México, onde arruma um emprego em um jornal discreto e correto. Sua concepção para se reerguer é que aquele emprego seja uma passagem rápida, porém, percebe a passagem do tempo e sua vida cair no anonimato.




Quando um minerador (Richard Benedict) é soterrado em uma montanha próxima dali, Tatum, de maneira sensacionalista, vê a oportunidade que precisava para voltar aos holofotes: dramatizar e prolongar a história daquele homem, fazendo daquele evento trágico mais trágico ainda, em um verdadeiro caso de comoção nacional, sensacionalismo exacerbado de todos que começam a chegar ao local, e conduzidos pela arrogância e ‘liderança’ do jornalista-herói, encarnado por um Douglas inspirado.
  Tatum finalmente conseguira o que queria: ser lido por um gigantesco público em uma grande história novamente. Mas a que preço? Tudo em A Montanha dos Sete Abutres remete ao pior do ser humano: egoísmo, manipulação, o particular ao invés de se atender primeiramente aos interesses da sociedade e humanidade.

Kirk Douglas garante à Tatum um ar de ironia que o perseguirá por todo o filme. Inigualável, sua atuação chama a atenção de todos os espectadores ao longo dos tempos desde a feitura desta obra-prima clássica e premonitória. ”



Nenhum comentário:

Postar um comentário