sexta-feira, 10 de março de 2017

“CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: O POETA-MULTIFACETADO LITERARIAMENTE”: (“PANORAMA GERAL DE ALGUMAS OBRAS POÉTICAS”)

“CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: O POETA-MULTIFACETADO LITERARIAMENTE”:

(“PANORAMA GERAL DE ALGUMAS OBRAS POÉTICAS”):

(RESENHA POR RAFAEL VESPASIANO)



ALGUMA POESIA / BREJO DAS ALMAS:



“Carlos Drummond de Andrade começou como um poeta modernista da Segunda Geração, assim como ficou conhecida aquela, que vai de 1930 até 1945, mas como não devemos analisar Literatura de maneira estanque, limitadora, preferindo a estética do Poeta ao reducionismo cronológico e/ou de ‘gerações’, além de ser um poeta prolífico e longevo.
Mas destaquem-se seus dois primeiros livros de combate, muito próximos aos primeiros modernistas, no tocante à estética e ao estilo, são eles: Alguma Poesia, de 1930, e, Brejo das Almas, de 1934.
O primeiro já é um começo brilhante, inclusive, o primeiro poema é uma obra-prima da poesia nacional, o poema é exatamente "Poeta de Sete Faces", no qual Drummond já mostra sua genialidade e define sua Poética que sempre o definirá estilisticamente ao longo do tempo.
O poema dividido em sete estrofes mostra sete faces do eu-lírico drummondiano, em especial, a face "gauche", vocábulo francês que significa "torto", "errado", que é como Drummond define seu ‘eu’: um eu-poético torto, que vive "errado" na vida, mas justamente por esse fato de viver errado, ele é ‘mais’ feliz poeticamente.
 Esse poema define muito bem a obra drummodiana. Os seus dois primeiros livros são recheados de "poemas-piada", estes são constituídos e permeados por um humor refinado, de um lirismo baseado em fatos corriqueiros e de um lirismo prosaico, pois a maioria dos poemas são de versos livres (sem esquema métrico tradicional clássico) e de versos brancos (sem rimas tradicionais ou esquema rímico constituído plenamente e objetivo, passível de análise métricas e versificatórias típicas dos antigos dicionários de arte poética). Tudo isso prova o combate modernista brasileiro ao clássico e tradicional lirismo do século XIX para trás, porém sem desprezar e renegar certas tradições literárias que os influenciaram e que os mesmos modernistas do Brasil reverenciavam.”





SENTIMENTO DO MUNDO:




“Sentimento do Mundo é um livro de poemas publicado em 1940, o terceiro de sua vasta obra poética. Neste livro, Drummond escreveu poemas que retratam e criticam o horror desumano da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). São, portanto, poemas de teor antibelicista, sempre se posicionando contra a guerra, sempre pacifistas e pregando a paz. Poemas que marcaram muito sua obra inicial poética e sua denominada ‘primeira fase’ literária. O combate saiu do ponto poético estético para o ideológico.”

JOSÉ
“Quarto livro de poemas de Drummond publicado em 1942, cuja temática principal é: a tristeza, melancolia, solidão. Destaques são os poemas: “A Bruxa” e “José”.

A ROSA DO POVO



“Quinto livro de poemas do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, A Rosa do Povo foi publicado em 1945. É um livro marcado por poemas metalinguísticos, que falam sobre a própria poesia e, de teor e tom melancólicos, em geral. Uma segunda fase poética do eu-lírico drummondiano. Sem contar uma fase iniciatória dos dois primeiros livros de versos, publicados como já referido acima em 1930 e em 1934.
O livro também é marcado por reminiscências, recordações, lembranças da infância do eu, em sua cidade natal, principalmente, do pai que literariamente é rígido e severo, formal, mantendo distância, portanto do filho-lírico.
 Ou seja, não demonstrava amor pelo seu filho nos poemas, porém, as poesias demonstravam que existiam no fundo um amor poético entre os dois entes líricos. Assim, os poemas são marcados pelo tom, até certo ponto confessional e não despersonalizado típico da Literatura Modernista; as poesias mostram muito bem e de forma lírica a passagem do tempo. O livro também tem poemas pacifistas contra o horror da Segunda Guerra Mundial.
“Rosa do Povo” = “arte / poesia / paz”
 “A Rosa do Povo” é a “arma” que o povo tem para lutar contra a opressão, o terror e o horror da guerra (Segunda Grande Guerra), e a“rosa” é símbolo metafórico da “arte”, da “poesia” e da “paz”.  E esta “rosa” é a esperança de tempos melhores, uma metalinguagem tão poética e metafórica, de rara beleza nas artes brasileiras.
Poemas destaques: “Passagem da Noite”, “América”, “Onde há Pouco Falávamos”, “Visão 1944”, “Carta a Stalingrado”, “Telegrama de Moscou”.


Livro: A Rosa do Povo
Pequeno ‘estudo’ do poema “Passagem da Noite”:

1.      “É noite. Sinto que é noite.
2.      Não porque a sombra descesse
3.      (bem me importa a face negra)
4.      Mas porque dentro de mim,
5.      No fundo de mim, o grito
6.      Se calou, fez-se desânimo.
7.      Sinto que nós somos noite,
8.      Que palpitamos no escuro
9.      E em noite nos dissolvemos.
10.  Sinto que é noite no vento,
11.  Noite nas águas, na pedra

12.  E que adianta uma lâmpada?
13.  E que adianta uma voz?
14.  É noite no meu amigo
15.  É noite no submarino.
16.  É noite na roça grande.
17.  É noite, não é morte, é noite
18.  De sono espesso e sem praia.
19.  Não é dor, nem paz, é noite,
20.  É perfeitamente a noite.

21.  Mas salve, olhar de alegria!
22.  E salve, dia que surge!
23.  Os corpos saltam do sono,
24.  O mundo se recompõe.
25.  Que gozo na bicicleta!
26.  Existir: seja como for.
27.  A fraterna entrega do pão.
28.  Amar: mesmo nas canções.
29.  De novo andar: as distâncias,
30.  As cores, posse das ruas.
31.  Tudo que à noite perdemos
32.  Se nos confia outra vez.
33.  Obrigado, coisas fiéis!
34.  Saber que ainda há florestas,
35.  Sinos, palavras; que a terra
36.  Prossegue seu giro, e o tempo
37.  Não murchou; não nos diluímos
38.  Chupar o gosto do dia!
39.  Clara manhã, obrigado,
40.  O essencial é viver!”


“Do primeiro verso ao vigésimo, ao meu ver, é expresso sentimento de tristeza, melancolia, infelicidade, dor e angústia.
Do vigésimo-primeiro ao trigésimo-oitavo é expresso sentimentos de alento e esperança, a tristeza vai transformando-se em alegria, no mínimo, nutre-se a esperança desta.
Nos dois últimos versos tem-se a exaltação à vida.
A Rosa do Povo é um livro de poemas anti-bélicos, de Carlos Drummond de Andrade, ante ao horror da Segunda Guerra Mundial, de modo geral, é uma crítica a todo tipo de guerra ou violência (atual?, sim, pois, Drummond é um literato-poeta universal).
Um dos melhores poemas da obra é “Visão1944”, abaixo breve ‘estudo’ deste*: o poema não se encontra nesta resenha, mas é fácil encontra na Internet:

Na primeira estrofe, verifica-se alusão a um campo de concentração e à arbitrariedade da Guerra;
Sexta estrofe: trabalho feminino, visto que os homens estavam no front de batalha, as mulheres trabalhavam nas fábricas, para produção bélica;
8ª estrofe: falta de lazer infantil no cotidiano das crianças;
12ª estrofe: minas terrestres destrutivas e desumanas;
14ª fuzilamento de judeus em contraste com o branco da paz;
(o eu-lírico é uma criança, estupefata pelo horror da Guerra);
16ª à 19ª estrofes: espera dos que ficaram em casa, por notícias dos que foram para o front de batalha, perplexidade, mais uma vez, ante à 2ª Grande Guerra Mundial;
Última estrofe: melancolia por causa do horror causada pela tragédia desumana que é a Segunda Grande Guerra, sem esperança para o futuro, dado o presente tenebroso.”


NOVOS POEMAS
“Sexto livro de poemas publicado por Drummond, Novos Poemas é de 1948.
São poemas de temática variada.
É um livro pequeno, com poucas páginas e poemas, o último poema, “O Enigma”, serve de gancho para o próximo livro escrito e publicado por Drummond em 1951, chamado Claro Enigma.
“Enigma” = “Deus Criador de Tudo e de Todos, enfim do Mundo, que pode ser interpretado como o próprio Homem”.


CLARO ENIGMA



“Sétimo livro de poemas de Drummond, Claro Enigma foi publicado em 1951, possui um título paradoxal, senão, vejamos: “enigma” = coisa misteriosa, porém este termo vem precedido da palavra “claro”, que significa “evidente”, daí o paradoxo: “Claro Enigma”, este “enigma evidente” seria o próprio ser humano em sua existência efêmera, que de acordo com os poemas do livro, não deveria, o Homem, preocupar-se com questões existenciais, mas sim em apenas viver a vida, ou seja, aproveitar esta, sem maiores reflexões existenciais, contudo, os poemas deste mesmo livro são verdadeiros textos reflexivos, são poemas de profundo teor existencialista, que tentam desvendar a alma humana, mas sem dar uma resposta definitiva, esta fica a cargo do leitor. O livro representa o início da fase mais hermética do poeta mineiro.
Os poemas são de um lirismo reflexivo / existencialista. Certas efemeridades / futilidades da vida são levantadas pelos poemas deste livro, quando, na verdade, o homem deveria dar valor a coisas mais importantes para sua existência, do que àquelas futilidades com as quais, geralmente, perde tempo, já que são irrelevantes para sua existência. Enfim, Claro Enigma é um livro essencialmente existencialista.
Poemas destaques: “Perguntas em forma de cavalo-marinho”, “Um boi vê os homens”, “Cantiga de Enganar”, “Canção para álbum de moça”, “Campo de flores” (surge neste poema a temática que se tornaria recorrente na obra drummondiana, a partir de então, que é o tema do “amor maduro”), “A Mesa” (lembranças da infância do eu na terra natal, motivadas pelo que seria o 90º aniversário do seu pai-poético, se este estivesse vivo, mais uma vez o tom confessional e despersonalizado da obra de Carlos Drummond.
Homenagem, em forma de recordações, transpostas para o poema citado no parágrafo anterior, toda família do ‘poeta’ e/ou ‘eu-lírico’, em especial, de sua mãe e, mais especialmente ainda, de seu pai); “A Máquina do Mundo” (poema-síntese da proposta do livro Claro Enigma, já exposta mais acima nesta resenha; “A Máquina do Mundo” é o Deus Criador do mundo, das coisas e do homem, e, (“A Máquina do Mundo” também é o “Homem”, pois, este é criação divina, à semelhança do próprio Deus, enfim, “A Máquina do Mundo” é a junção de Deus + Homem, que são os dois Seres que movem o Mundo), segundo o proposto lírico dos poemas de Claro enigma.”

LIÇÃO DE COISAS



“Livro de poemas de 1962. Trata-se de um livro singelo sobre assuntos corriqueiros da vida, que de tão banais, passam despercebidos por nós, mas o poeta consegue captá-los com sua genialidade e os transforma em poemas, que nos faz parar e analisar a ‘lição de coisas’ da vida, que o escritor nos proporciona.
Poemas de versos livres e brancos; com certo teor melancólico, em relação à sociedade (o livro foi escrito durante a Guerra Fria), vide o poema “A Bomba”, que reflete a corrida armamentista e o pavor do início de uma nova Grande Guerra a qualquer momento e a paranoia da Guerra Nuclear e consequente fim do mundo e da Humanidade tão desumana, que o poeta sempre questionou e refletiu em seus livros e poemas ao longo de sua trajetória literária.
Porém, o poeta não perde o humor e mantém uma espécie de esperança em um mundo melhor, o qual só os homens podem construir.”

VIOLA DE BOLSO I E II
FAZENDEIRO DO AR
A VIDA PASSADA A LIMPO




“Drummond é um dos maiores poetas do Brasil e da Língua Portuguesa, podendo fácil ser colocado entre os grandes da Literatura Universal.
Viola de Bolso I e II são dois livros de poemas circunstanciais, segundo Massaud Moisés, visto que neles, Drummond realiza vários poemas dedicados a amigos e amigas, poetas, escritores ou até mesmo pessoas do seu círculo social e familiar.
E estão coligidos nesses dois livros dedicatórias de Drummond feitas em seus livros, que foram dados para amigos próximos.
 Fazendeiro do ar é um livro de poemas de profundo transcendentalismo, com poemas de extremo lirismo, Drummond está no auge de sua criação poética e do hermetismo, com reflexões sobre a passagem do tempo lírico interno e externo ao eu e rememorações literárias-poéticas.

A vida passada a limpo é um momento poético drummondiano de fazer uma análise existencial, feita a partir de poemas cuja temática é o tempo.”



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