sábado, 15 de abril de 2017

(MACHADO DE ASSIS: O ESCRITOR-MESTRE DO SÉCULO XIX NO BRASIL): DESCONSTRUÇÃO DAS DUAS FASES MACHADIANAS, ROMÂNTICA E REALISTA: TRATA-SE SIM DE EVOLUÇÃO ESTÉTICA NATURAL”)

(MACHADO DE ASSIS: O ESCRITOR-MESTRE DO SÉCULO XIX NO BRASIL):

(“DESCONSTRUÇÃO DAS DUAS FASES MACHADIANAS, ROMÂNTICA E REALISTA: TRATA-SE SIM DE EVOLUÇÃO ESTÉTICA NATURAL”)

POR: Rafael Vespasiano Ferreira de Lima





“Machado de Assis estreou no gênero romance, no ano de 1872, com a obra Ressurreição. Tradicionalmente, classificado como “romântico”, é, porém, um equívoco tal classificação, pois, como afirma o Professor Maurício Izolan “Ressurreição é uma verdadeira obra-de-arte por seu caráter controverso e, em sua aparente simplicidade, complexo”.[1]
Por isso, somando-se a marca irônica e “a autoconsciência do narrador e o jogo dramático de vozes que leva à participação do leitor”[2], é discutível falar em uma “fase romântica” machadeana, visto que seus primeiros quatro romances, além do já citado Ressurreição, vieram em seguida: A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878), são caracterizados por uma estrutura irônica e por uma polifonia, que são atípicas do romance romântico.
O que pode-se afirmar é, em uma primeira fase, a fase de amadurecimento para uma segunda fase, iniciada em 1881, com Memórias Póstumas de Brás Cubas, na qual Machado de Assis passa a ter pleno domínio da técnica irônica. Uma ironia refinada e reflexiva, que já se notara nos primeiros romances, mas, por ainda serem narrados em terceira pessoa, só foi desenvolver-se, plenamente, a partir de Memórias Póstumas, narrado em primeira pessoa, pelo defunto autor, invenção ficcional machadeana, que denota sua genialidade.
Mas, essa ironia encontra-se já, por exemplo, em seu segundo romance, A mão e a luva, em uma personagem como Guiomar, que “escolhe” seu esposo, em conformidade com suas ambições e interesses, opta, então, por um pretendente que lhe “sirva” como uma “luva”. Assim, o casamento não é visto pelo diapasão romântico, muito pelo contrário, o Romantismo, nesse caso, é desconstruído, pela ironia e pelo jogo de vozes também presente na obra.
Pelo exposto, percebe-se que Machado não teve uma “fase romântica”, mas um amadurecimento de sua técnica narrativa e literária. Helena, para corroborar o afirmado até agora, é o terceiro romance de Machado de Assis, uma obra tragicômica, marcada por uma ironia na construção das personagens. Helena, que apesar de saber da sua real condição, segue com a farsa; e, ainda tem, no romance, a personagem do Dr. Camargo, grande beneficiado com o final trágico do romance, desfecho sem o famoso “final feliz” típico do romance romântico, muito pelo contrário, nessa obra, tem-se um final tragicômico, irônico.
Iaiá Garcia, quarto romance, de sua fase inicial, é uma obra ímpar, que já aponta para o amadurecimento da técnica irônica de narrar e para o jogo polifônico narrativo. No romance, a ironia, segundo o Professor Maurício Izolan, em Tese de Doutorado já citada, ela é utilizada como forma de desmascaramento social. As ambiguidades do romance servem para mostrar que a sociedade é regida pelos interesses e, assim, “a ironia como questionamento ideológico é a revelação do traço mais grotesco do jogo social”[3]. O termo grotesco está sendo usado no sentido de “jogo de interesses” e de “mascaramento social”.
Assim, pelo exposto, é possível discordar da tradicional classificação, pela qual a obra machadeana passa, qual seja, uma primeira fase, “romântica”, uma segunda fase, “realista”. Pois, desde seu primeiro romance, já se faz perceber o jogo de vozes narrativas e, pincipalmente, a ironia como recurso para a reflexão sobre a sociedade, sobre os meandros e os interesses sociais e sobre as máscaras urdidas nas relações sociais.
Vale ainda ressaltar as digressões do narrador (implícito), em diálogo ou comentando as ações e falas das personagens e, a alternância das vozes narrativas, pela qual percebe-se o autor implícito, cujo uso será amadurecido a partir de Memórias Póstumas.
Conclui-se, pelo afirmado, que a ironia e a polifonia narrativa são marcas típicas da narrativa de Machado de Assis e, por isso tudo não se pode falar em “fase romântica”, nem em “fase realista”, porém, pode-se afirmar que Machado possui uma “fase de amadurecimento”, a que compreende os quatro primeiros romances e, possui uma outra fase, a fase de total domínio da técnica narrativa, que vai de Memórias Póstumas de Brás Cubas a Memorial de Aires. Machado de Assis, enfim, desconstruiu e parodiou o Romantismo e, ironizou o Realismo.”






[1] IZOLAN, Maurício Lemos. A letra e os vermes: o jogo irônico de ficção e realidade em Machado de Assis. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. p. 99.
[2] Idem. p. 100.
[3] Ibdem. p. 128.

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