(QUINCAS BORBA, MACHADO DE ASSIS):
(“O Humanitismo: a paródia machadiana”):
Por:
Rafael Vespasiano Ferreira de Lima
“Machado
de Assis possui uma obra ímpar na história da Literatura Brasileira.
Conseguindo ir além, ao tornar-se uma das obras literárias de Língua Portuguesa
mais reconhecidas e importantes perante à crítica internacional.
Pode-se,
inclusive, falar-se em estilo machadiano,
pois Machado de Assis é um escritor avesso às classificações estilísticas do
século XIX, onde o escritor era taxado ora como romântico, ora como realista. E
Machado, em suas críticas, já demonstrava o absurdo dessas nomenclaturas
literárias e, valendo-se do uso da ironia,
Machado de Assis criou um estilo próprio, um estilo que ora parodiava o Romantismo, ora ironizava o Realismo.
Este
ensaio busca analisar alguns aspectos da filosofia do Humanitismo, criada pelo filósofo louco Quincas Borba. Quincas
surge como personagem, pela primeira vez, na obra machadiana, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, de
1881 e, reaparece no romance Quincas Borba, de 1891. O Humanitismo é uma paródia do Positivismo, de Comte. Positivismo que estava tão em
voga nos debates científicos e filosóficos do Brasil, no século XIX. Porém,
Machado percebia nessa atitude cientificista, positivista, e que levaria, na
literatura, ao Realismo-Naturalismo, uma visão deturpada da sociedade
oitocentista brasileira.
Durante
o ensaio, procurar-se-á explicitar a
paródia machadiana, por meio de trechos dos dois romances citados, nos
quais aparecem formulações teóricas do Humanitismo, com o intuito de analisar a
visão irônica de Machado de Assis em relação ao Positivismo e a outros ismos do século XIX.
Quincas
Borba surge como personagem, no romance Memórias
Póstumas de Brás Cubas, como amigo de escola de Brás Cubas, que depois some
e quando reaparece, surge como mendigo, para depois reaparecer mais uma vez, só
que agora como herdeiro de uma fortuna de um parente de Barbacena. A partir
desse momento, de novo ricaço, Quincas, ainda em Memórias Póstumas, passa a debater muito com Brás Cubas, a questão do Humanitismo, filosofia criada por
ele.
No
capítulo CXVII, de Memórias Póstumas,
denominado “O Humanitismo”, Quincas Borba, enfim, apresenta para Brás Cubas, a
sua Filosofia do Humanitas, “sistema de filosofias destinado a arruinar todos
os demais sistemas.”[1] Prossegue a teorização da
filosofia por Quincas:
- Humanitas, dizia ele, o princípio das
cousas, não é outro senão o mesmo homem repartido por todos os homens. Conta
três fases Humanitas: a estática, anterior a toda a criação; a expansiva,
começo das cousas; a dispersiva, aparecimento do homem; e contará mais uma, a
contrativa, absorção do homem e das cousas. A expansão, iniciando o universo,
sugeriu a Humanitas o desejo de o gozar, e daí a dispersão, que não é mais do
que a mutiplicação personificada da susbstância original.[2]
O
narrador machadiano, nessa passagem, na voz do filósofo Quincas Borba, parodiou as fases que constituem o Positivismo, de Comte, também marcado
por três fases: a fase do mito (a primeira e mais atrasada), a segunda fase, a
fase da filosofia e, a terceira fase, aquela que seria marcada pela razão, pela
ciência e pelo racionalismo. A fase “mais” positiva, do sistema filosófico de
Comte, já que seria marcada pelo apuro da ciência e por um racionalismo pleno.
Machado
de Assis não acreditava nas explicações absolutas propostas por teorias como o
Positivismo de Comte, ou o Evolucionismo de Darwin, ou o Determinismo de Taine
e Spencer. Para Machado, todos os tipos de cientificismo e ainda mais, a
vertente literária, que era influenciada por todos esses ismos, o Realismo-Naturalismo, eram tendências monológicas, e o
escritor carioca ia além “Machado ironiza abertamente a estética
realista-naturalista, depois é claro de declarar a decadência do Romantismo.
Sua posição é bem clara: o Realismo e sua tendência em pesar nas cores e na
descrição minuciosa do real não correspondem ao papel da arte.”[3]
Para
Schwarz[4], Positivismo, Naturalismo
e Evolucionismo Darwiniano, e suas respectivas terminologias, estranhas ao
dia-a-dia do Brasil oitocentista. Anunciavam rupturas radicais, prometendo
substituir a “patronagem oligárquica” por novas formas (modernas) de
autoridade, “fundadas na ciência e no mérito intelectual.”[5]. Machado, contudo, não
acreditava nessas promessas, e como escritor parodiava-as, por exemplo, na
fórmula: “Ao vencedor, as batatas!”, do Humanitismo,
de Quincas Borba, paródia do Positivismo,
de Comte.
Ainda
para Schwarz
(o)
Humanitismo, a mais célebre das filosofias machadianas. Como sugere o nome,
trata-se de uma sátira à floração oitocentista de ismos, com alusão explícita à
religião comtiana da humanidade. Os raciocínios fazem pensar em mais outras
filiações, já que em lugar dos princípios positivistas afirmam a luta de todos
contra todos, à maneira do darwinismo social. A própria guerra generalizada,
contudo, não passa de ilusão, pois tem fundamento monista: Humanitas é o
princípio único de todas as coisas, residindo igualmente nas partes vencida e
vencedora, no condenado e no algoz, de sorte que não há perda alguma onde
parecia haver uma desgraça. Daí que a dor não existe nem tem cabimento.[6]
“Veja-se
por exemplo o clássico ‘Ao vencedor, as batatas!’, palavra de ordem com que o
filósofo pancada Quincas Borba sintetizaria – noutro romance machadiano (Quincas Borba) – a essência de sua
doutrina ‘humanitista’”[7]. Frase que, segundo
Schwarz, possivelmente seja tradução da expressão “survival of the fittest”, de Spencer.
Schwarz
considera que “(...) Privadas do contexto responsável que lhes viabiliza a
pretensão à objetividade, a filosofia e as teorias científicas fazem figura de
espetáculo exterior, versão esvaziada de um processo que noutra parte ocorre a
sério.”[8]. Por isso mesmo, Machado
de Assis percebeu a insuficiência do Positivismo em terras brasileiras, o que o
fez parodiar a filosofia comtiana, na
forma do Humanitismo borbista, que aparece tanto em Memórias Póstumas de Brás Cubas, quanto em Quincas Borba.
Ao
fim da trama de Memórias Póstumas,
sabe-se que Quincas Borba enlouquecera e morrera na casa de Brás Cubas, pouco
tempo depois este também falecera. Já em Quincas
Borba, o filósofo, ao início do enredo, está em Barbacena aos cuidados do
enfermeiro Rubião, seu discípulo filosófico e seu futuro herdeiro pecuniário.
Rubião
é construído como personagem, na forma do: “Herdeiro do Humanitismo de Quincas
Borba, tende para um estranho universalismo filosófico e para uma reflexão
sobre o mundo que inverte a lógica das categorias fixas de bem/mal,
virtude/vício (“Ao Vencedor, as batatas!”), numa linha de experimentação
estranha à epopeia e à tragédia antigas, (...), sob a influência da sátira da
menipéia, cujas raízes mergulham diretamente no folclore carnavalesco.”[9]
Rubião,
assim como seu mestre, “tem aspectos morais e psíquicos anormais, tem
desdobramento de personalidade, imaginação desenfreada, sonhos incomuns, paixões
que o levam à loucura.”[10]
Quincas
Borba, ainda nas Memórias Póstumas de
Brás Cubas, “aparece mendigo, herdeiro inopinado e inventor de uma
filosofia.”[11].
A “receita moral”, segundo a estudiosa Dirce Côrtes Riedel, é uma imagem que o
filósofo usa para definir sua filosofia, tem em si a coexistência dos
contrários: negação-afirmação. Riedel afirma ainda que
É
(a) negação de dogmas através de novos dogmas, novas receitas, novo sistema. A
abastança devolve ao mineiro a sua antiga dignidade, mas a coexistência dos
contrários é salvaguardada no comentário de Brás Cubas, quando o antigo mendigo
lhe devolve o relógio roubado: Naturalmente o Quincas Borba herdara de algum
dos seus parentes de Minas, e a abastança devolvera-lhe a primitiva dignidade.
Não digo tanto: há coisas que não se podem reaver integralmente...[12]
É
panfletário o sistema filosófico de Quincas Borba, segundo Riedel, o discurso
do mineiro é uma mistura de idealismo e humor, que desvela as glórias
nacionais, numa época de conquistas científicas e políticas decisivas na
evolução do Brasil. A fala da personagem está engajada no cotidiano “é uma
espécie de enciclopédia às avessas do seu tempo, em que o humor abre dúbia
polêmica com as tendências da filosofia, da religião, da ciência
contemporâneas.”[13]
Para
Riedel, o filósofo denomina a sua doutrina com uma “metáfora paródica” do Positivismo de Comte – Humanitismo, de
“Humanitas”, princípio das coisas, “também uma denominação paródica da ‘Humanidade’, origem e síntese no sistema filosófico
genérico positivista, base da Religião da Humanidade.” O filósofo Quincas Borba
também “inaugura uma nova era, paródia da nova fase da evolução do pensamento
humano – a filosofia positiva.”[14]
A paródia é ambivalente,
segundo Riedel
Na
paródia, a palavra tem uma orientação dupla. (...) O texto de Machado é quase
sempre baseado na paródia. No entanto, o narrador, sempre ambíguo, parodia ao
mesmo tempo que negaceia o conflito das duas vozes. Fica, ambivalentemente,
entre a paródia e a estilização, sem se pronunciar nem por uma nem por outra.
(...) Parodiam-se tipos sociais e caracteres individuais, históricos ou
literários; personagens parodiam personagens; personagens se parodiam a si
próprios; operam-se paródias de paródias; sistemas parodiam sistemas; doutrinas
parodiam doutrinas...[15]
Exemplo
clássico da paródia machadiana ao
Positivismo, é quando em Quincas Borba,
o filósofo explica para seu enfermeiro, Rubião, a teoria do Humanitismo, por
meio da fábula das duas tribos:
-
Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode
determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida,
porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a
destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador
e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As
batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças
para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância;
mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a
nutrir-se suficientemente e morrerm de inanição. A paz nesse caso é a
destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe
os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas
públicas e todo os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse
isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o
homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo
racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao
vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. [16]
Percebe-se, nesse trecho, a ironia típica de Machado de Assis, que
lhe serve de recurso para parodiar o
Positivismo, de Comte. Machado não acreditava nos postulados cientificistas,
racionalistas e positivistas do Realismo-Naturalismo, onde acreditava-se que o
mais forte sempre prevaleceria. Porém, recriava-os, de forma irônica e paródica, em seus romances. É o caso do
cientificismo comtiano, o qual o escritor carioca recria, parodicamente, no
trecho acima, formulando o Humanitismo, que tem como máxima: “Ao vencedor, as batatas!”, nesta
fórmula está registrada a teoria do “mais
forte” do Realismo-Naturalismo, só que Machado a ironiza e a parodia, ao invés de a glorificar.
Outro
trecho que exemplifica o exposto acima: “Não há exterminado. Desaparece o
fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver a água? Hás de lembrar-te
que as bolhas se fazem e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma. Os
indivíduos são as bolhas transitórias.”[17]. “Bolhas” é uma
“metáfora-núcleo” de uma paródia do
princípio de Lavoisier (na natureza nada se perde, nada se ganha, tudo se
transforma), segundo Riedel[18], um dos princípios que
norteam a filosofia cientificista de Comte, segundo a qual só com a observação
e a experiência, pode-se conhecer com exatidão as verdades constatadas. Riedel
continua citando Machado de Assis
Aparentemente,
há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto
do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os
organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação,
à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares:
devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho. Repito,
as bolhas ficam na água. [19]
Rubião
adentra, verdadeiramente, à filosofia de Humanitas, só quando penetra na
loucura, parodiando o mestre, na superfície da linguagem, antes de enlouquecer,
quando já é apaixonado por Sofia “sem o ser do ‘saber’”. Rubião torna-se
metáfora completa do mestre, só na segunda fase da paródia – a da loucura –
quando ama “Sofia”, a mulher e ama “sofia”, a sabedoria, passando, segundo
Riedel, “a ser amante e praticante da filo-sofia.”[20]. Pois, em relação ao
filósofo Quincas Borba, “Sofia” é nome comum, que designa genericamente a
sabedoria. Mas é a Rubião, o discípulo do teorizador de Humanitas, que deste
herdou a fortuna e a doutrina, mas não o amor à filosofia.
Rubião
quando olhava para Sofia, pensava em estrelas e outros substantivos celestes,
“que ele chama os olhos de Sofia de ‘estrelas da terra.’”[21]. Rubião continua
explicando a metáfora: “As estrelas são ainda menos lindas que os seus olhos, e
afinal nem sei mesmo o que elas sejam; Deus, que as pôs tão alto, é porque não
poderão ser vistas de perto, sem perder muito da sua formosura. Mas os seus
olhos, não; estão aqui, ao pé de mim, grandes, luminosos, mais luminosos que o
céu....”[22]
Rubião
foi dominado por uma paixão romântica. Segundo Riedel, “o narrador, ao revelar
o pedido que o exaltado personagem fez à amada – que fitasse o Cruzeiro, ele o
fitaria também, e os pensamentos de ambos iriam achar-se ali juntos, íntimos,
entre Deus e os homens – põe à mostra a ‘libertinagem’ não poética (não
sublime) do olhar e dos gestos.”[23]
Riedel
afirma ainda que
No
capítulo L, a tessitura metafórica básica da narrativa é contraponto oferecido
pela complacência de Palha, quando este, depois de empalidecer ao tomar
conhecimento de que sua mulher ouvira uma declaração de amor, achou natural que
as gentilezas da esposa chegassem a cativar um homem – e Rubião podia ser esse
homem.... Mas, enfim, contanto que lhe ficassem os olhos, podiam ir até alguns
raios deles. Não havia de ter ciúmes do nervo ótico...[24]
O
caculismo de Palha, interessado na
fortuna de Rubião, faz aquele aconselhar à esposa, Sofia, que era preciso “não
desaprovar nem aceitar a proposta”, pois convinha ao Palha conservar a amizade
de Rubião, com fins de pôr as mãos em sua fortuna, como acaba ocorrendo ao cabo
do romance.
Rubião,
retoma a paixão obsessiva, condutor do seu delirante devaneio, ainda
contemplando o Cruzeiro. “Oh! Se ela houvesse consentido em fitar o Cruzeiro!
Outra teria sido a vida de ambos. (...) e Rubião quedou-se a mirá-la, a compor
mil cenas lindas e namoradas, a viver do que podia ter sido.”[25]
Para
Riedel, “é esta mesma contemplação que faz ‘o nosso amigo’ passar de ambição de
amores à ambição de prestígio social. O narrador vai construindo o processo de
intensificação do delírio, que gradativamente conduz o personagem à loucura.”[26]. Riedel prossegue
asserverando que
No
capítulo CXCV, Rubião, no seu real imaginário, é imperador, realizando a
fórmula do Humanitismo, que não realizara quando a falta do desvario não lhe
permitia vencer a cândida ingenuidade matuta: Rubião, logo que chegou a
Barbacena e começou a subir a rua que ora se chama de Tiradentes, exclamou
parando: - Ao vencedor, as batatas! Tinha-as esquecido de todo, a forma e a
alegoria. De repente, como se as sílabas houvessem ficado no ar, intactas,
aguardando alguém que as pudesse entender, uniu-as, recompôs a fórmula e
proferiu-a com a mesma ênfase daquele dia em que a tomou por lei da vida e da
verdade.[27]
O
narrador organiza, a partir do desvario de Rubião, o momento clarividente em
que a loucura permite compreender a fórmula e a alegoria filosófica de Quincas
Borba. Assim, mostra a realidade com a ironia do devaneio. A estudiosa, citando
Machado de Assis, continua afirmando que
O
imperador não se admirou de não ser recebido por uma multidão: - Talvez não
saibam que cheguei, pensou Rubião. Os dois vagabundos – o imperador e o seu cão
– vagaram sem destino. O estômago de Rubião, estômago de vagabundo, interrogava,
exclamava, intimava, mas o delírio do poder vinha enganar a necessidade com os
seus banquetes das Tulherias.[28]
A
morte de Rubião, que ocorre no capítulo CC, é uma forma, para Riedel, de
negar,
afirmando, e de afirmar, negando; é a negação-afirmação, no ‘real’ do romance,
da solução dada pelo real imaginário. O narrador resolve, então, que Rubião
morra, sem matar o seu sonho. Poucos dias depois morreu.... Não morreu súdito
nem vencido. Antes de principiar a agonia, que foi curta, pôs a coroa na cabeça
– uma coroa que não era, ao menos, um chapéu velho ou uma bacia, onde os
espectadores palpassem a ilusão. Não, senhor; ele pegou em nada, levantou nada
e cingiu nada; só ele via a insígnia imperial, pesada de ouro, rútila de
brilhantes e outras pedras preciosas. O esforço que fizera para erguer meio
corpo não durou muito; o corpo caiu outra vez; o rosto conservou porventura uma
expressão gloriosa. / - Guardem a minha coroa, murmurou. Ao vencedor.../ A cara
ficou séria, porque a morte é séria; dois minutos de agonia, um trejeito
horrível, e estava assinada a abdicação.[29]
À
guisa de conclusão, vale verificar que o capítulo sexto, de Quincas Borba,
contém o resumo didático do princípio do Humanitismo. Segundo Ronaldes de Melo
e Souza:
A
subordinação dos axiomas de conduta ao primado teórico do humanitismo
transforma as persoanagens de Quincas Borba em protagonistas do processo de
alienação da sociedade. (...). No mundo regido pela antrofagia social, não
resta outra alternativa, senão comer ou ser comido. O alcance exegético do
sistema filosófico do humanitismo não se limita à desconstrução satírica do
positivismo e da doutrina naturalista, mas se distende na perspectiva mais
ampla da representação dos atos regulados pela trama das relações humanas no
regime social da exploração generalizada.[30]
Enfim,
este ensaio procurou abordar alguns aspectos do Humanitismo, filosofia machadiana, que aparece em dois romances do
escritor, Memórias Póstumas de Brás
Cubas e Quincas Borba. Filosofia
criada pela personagem Quincas Borba; primeiramente, apresentada a Brás Cubas,
em Memórias Póstumas; depois
reapresentada, pelo próprio Quincas, em outro romance, só que agora tendo como
discípulo, Rubião. Enfatizamos o caráter
irônico e paródico da filosofia humanitista, mas não devemos esquecer que
outras leituras são possíveis, como ficou indicada pela afirmação anterior, de
Ronaldes de Melo e Souza. Ou seja, como todo clássico, e Machado de Assis é um
clássico, múltiplas são as leituras de suas obras, pois elas têm um caráter universal,
e que sempre possibilitarão (re) -leituras.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSIS,
Machado de. Memórias Póstumas de Brás
Cubas. São Paulo: Globo, 1997.
---------,
Machado de. Quincas Borba. São Paulo:
Globo, 1997.
IZOLAN,
Maurício Lemos. A letra e os vermes: O
jogo irônico de ficção e realidade em Machado de Assis. Tese de Doutorado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 2006.
RIEDEL,
Dirce Côrtes. Metáfora: O espelho de
Machado de Assis. São Paulo: Francisco Alves, 1979.
SCHWARZ,
Roberto. Um mestre na periferia do
Capitalismo (Machado de Assis). São Paulo: Duas Cidades, 3. ed., 1998.
SOUZA,
Ronaldes de Melo e. O romance tragicômico
de Machado de Assis. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2006.
[1] ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São
Paulo: Globo, 1997. p. 165.
[3]
IZOLAN, Maurício Lemos. A letra e os vermes: O jogo irônico de
ficção e realidade em Machado de Assis. Tese de Doutorado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006. p. 75.
[4] SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo
(Machado de Assis). São Paulo: Duas Cidades, 1998.
[5] Idem.
p. 143.
[8]
Idem.
p. 158.
[9] RIEDEL, Dirce Côrtes. Metáfora: O espelho de Machado de Assis. São
Paulo: Francisco Alves, 1979. p. 1-2.
[10] Idem, p. 2.
[14]
Idem,
ibdem.
[16] ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Globo, 1997.
p. 8-9.
[18] RIEDEL, Dirce Côrtes. Metáfora: O espelho de Machado de Assis.
São Paulo: Francisco Alves, 1979. p. 7.
[19]
Idem,
ibdem.
[26]
Idem,
ibdem.
[27] Idem, p. 152.
[29] Idem, p. 153-154.
[30] SOUZA, Ronaldes de Melo e. O romance tragicômico de Machado de Assis.
Rio de Janeiro: EDUERJ, 2006. p. 125.
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