domingo, 16 de abril de 2017

O MAL-ESTAR DA PÓS-MODERNIDADE: ZYGMUNT BAUMAN: SUA RELEVÂNCIA PARA O MUNDO DO SÉCULO XXI

O MAL-ESTAR DA PÓS-MODERNIDADE



ZYGMUNT BAUMAN



(Por Rafael Vespasiano)



“Bauman propõe que a pós-modernidade é caracterizada por alguns mal-estares. O principal deles é a fugacidade e a efemeridade das relações interpessoais. Como também a privatização e a desregulamentação do Estado-Nação. O que provoca relações sociais líquidas, incertas e inseguras. As transnacionais possuem tamanho poder que ofuscam os Estados, provocando a privatização e a desregulamentação estatal e monetária das nações. Acarretando Estados frágeis e relações sociais também frágeis. Líquidas e incertas, marcadas pela insegurança social.
Na modernidade, a sociedade era impelida à busca da rotina, que promovia a ordem e a segurança (a liberdade coletiva era preferível à liberdade individual); mas, na pós-modernidade, a sociedade prefere e busca a liberdade individual (vontade de liberdade), a qualquer custo (prazer a qualquer custo), em detrimento da segurança, o que prejudica a ordem social.
Na pós-modernidade, vive-se à deriva, numa incerteza e insegurança sociais. Os turistas, denominação de Bauman, para os heróis da pós-modernidade, pois aqueles vivem percorrendo o mundo, à deriva, com o intuito de não possuírem raízes sólidas que os prendam a um determinado local; decorrendo daí a liquidez e a efemeridade da pós-modernidade. Os vagabundos, ainda segundo Bauman, são os alter-ego dos turistas, e, portanto, as vítimas da pós-modernidade, já que estão também à deriva, sem local fixo de residência não por escolha (como os turistas), mas como consequência da miséria e da fragilidade de suas vidas e incertezas sociais, que marcam suas existências errantes pela sociedade. Enquanto para os turistas, a errância é condição que se busca, para não se prender a um local solidamente, promovendo uma identidade fragmentada, o que já acarreta a liquidez típica da pós-modernidade; os vagabundos são errantes, por falta de opção, pois vivem errantes, devido à falta de opções e condições de escolha, são vítimas da pós-modernidade, e também marcados por uma identidade fragmentária.
As reflexões sociológicas de Zygmunt Bauman, em "O mal-estar da pós-modernidade", nos conduzem a uma sensação de desconforto. Quando ele compara a sexualidade moderna (séculos XVI-XIX) e a sexualidade pós-moderna (meados do século XX, como ponto de partida a segunda revolução sexual). Bauman percebe que as relações de "amor erótico" tornaram-se fragmentadas, líquidas, cada vez mais efêmeras. E a educação sexual em casa que é para ser feita pelos pais, fica sem ser realizada, pois os pais estão preocupados apenas consigo mesmos (sexualmente falando mesmo, individualistas no pior sentido do termo), vive sua sexualidade fragmentária e vivendo sua vida de consumista pós-moderna. A responsabilidade cabe a quem pela educação sexual das crianças? Às escolas? Apenas a elas? E os pais não tão responsáveis também? Problema e debate atual do nosso século. Bauman também analisou a sexualidade moderna dos séculos xvi-xix, que também era muito problemática. Tinha a questão do vigiar e punir (título de uma obra de um filósofo citado por Bauman, trata-se de Foucaut, que tem outra obra como base do estudo do sociólogo polonês, História da Sexualidade), isso tudo para afirmar que às crianças eram vigiadas e punidas, pelo "vício" da masturbação, preocupação de pais, educadores e religiosos numa constante vigilância, mas não existia a educação específica para as crianças sobre sexualidade, cresciam sobre pressão e sem nenhum Norte sobre a sexualidade. Século XXI, apesar de alguns falarem que ocorreram avanços na educação sexual dos nossos jovens, o que mais se percebe são crianças e jovens tentando entender o seu corpo, o corpo do outro, o sexo, de maneira individualista e sob orientações capengas, que os fazem se tornarem seres sexualmente (e socialmente) frágeis. A questão da sexualidade (e sua aprendizagem) percorrem, enfim, segundo Bauman, na pós-modernidade, um caminho tortuoso e de difíceis resoluções, pois para ele a sociedade do século xxi, vive de maneira individualista (nem os pais têm tempo para os filhos e nem estes para aqueles), fica tudo fragmentado e as relações sociais líquidas, fluidas. E também por que não dizer que as relações amorosas, ou sexuais ou eróticas sofrem do mesmo mal? Ou não? As mudanças pós-modernas da sociedade são parecerem aceitas, são fatos e aspectos da nossa Era, e assim devem ser assumidos e aceitos, certo?”

FRASES:
·      “Sugiro que as pressões culturais pós-modernas, enquanto intensificam a busca de ‘experiências máximas’, ao mesmo tempo as desligaram dos interesses e preocupações propensos à religião, privatizaram-nas e confiaram principalmente a instituições não-religiosas o papel de aprovisionadoras dos serviços relevantes. A ‘experiência completa’ da revelação, do êxtase, rompendo as fronteiras do ego e da transcendência total, outrora privilégio da seleta ‘aristocracia da cultura’ – santos, eremitas, (...) – e surgindo seja como um milagre não-solicitado, de maneira nada óbvia relacionado com o que o receptor da graça fez para merecê-lo, seja como um ato de graça que recompensa a vida de auto-imolação e abstinência, foi posta pela cultura pós-moderna ao alcance de todo indivíduo, refundida como um alvo realístico e uma perspectiva de auto-aprendizado para cada indivíduo, e recolocada no produto da vida devotado à arte do comodismo do consumidor”; (BAUMAN, 1998, p. 223).
·      “Cada nova sensação deve ser ‘maior’, mais irresistível do que a de antes, com a vertigem da experiência máxima, ‘total’ assomando sempre no horizonte.”; (Ibid., p. 224).
·      “Em todo jogo há vencedores e perdedores. No jogo chamado liberdade, todavia, a diferença tende a ser toldada ou completamente obliterada, Os perdedores são consolados pela esperança de uma próxima etapa vitoriosa, enquanto a alegria dos vencedores é nublada pela premonição da perda. A ambos, a liberdade indica que nada foi estabelecido para sempre e que a roda da fortuna ainda pode virar ao contrário. As excentricidades do destino fazem tanto os vencedores como os perdedores se sentirem incertos; mas a incerteza transmite diferentes mensagens às diferentes pessoas: ela diz aos perdedores que nem tudo ainda foi perdido, enquanto murmura aos vencedores que todos os triunfos tendem a ser precários. No jogo chamado liberdade, os perdedores param logo de se desesperar e os vencedores param logo com a autoconfiança. Ambos os lados têm uma baliza na liberdade – e ambos têm motivos de queixa. Nenhum dos dois aceitaria levianamente o cerceamento de liberdade – mas nenhum dos dois é totalmente surdo aos atrativos da certeza, que promete curar as dores da liberdade matando o paciente.” (Ibid., p. 246).
   
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.



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