A
condição pós-moderna - Jean-François Lyotard:
(resenha por Rafael Vespasiano)
O
filósofo francês Lyotard propõe a
ruptura entre a Era Moderna e a Era Pós-Moderna , pelos idos de 1968. Tal fato
deve-se à deslegitimação do saber/conhecimento e sua transmissão/ensino. Esta deslegitimação é a base da "fundação" da pós--modernidade, para o estudioso.
Analisar-se-á
essa questão em dois momentos, primeiro as marcas das duas Eras históricas e a
transição entre elas e, em segundo lugar, as marcas exclusivas da
pós-modernidade, para Lyotard.
Na
Idade Moderna, o saber era constituído por dois relatos, o primeiro, o relato
especulativo, filosófico; o outro, o relato emancipatório do cidadão, o qual
visa sua inserção na sociedade/humanidade, sempre pautado pela justiça, ética e
moral de suas ações e atitudes.
Nessa
era, dava-se a legitimização do saber filosófico/científico, justamente devido
ao fato do conhecimento ser feito ora pelo relato de caráter especulativo, ora
pelo relato de caráter emancipatório. No primeiro, a especulação do saber era
filosófico e ocorria no âmbito das academias universitárias. No segundo, o
saber filosófico/científico servia como emancipação da sociedade (Humanidade),
pois era utilitário ao progresso do Estado-nação, sempre observando a ética, a
moralidade e sendo justo para a sociedade, a
priori.
A
união desses dois relatos (especulativo e emancipatório), na modernidade,
legitima o saber científico/filosófico como forma de progresso social, do
Estado e da nação. Constituindo, assim, uma espécie de continuum entre o saber especulativo e o saber emancipatório, esta é
a condição moderna, da modernidade.
Porém,
na Idade Contemporânea, fim dos anos 60, do século XX, por volta de 1968, numa
sociedade pós-industrial e numa cultura pós-moderna (Pós-Modernidade, ou,
segundo o sociólogo polonês Bauman, Modernidade Líquida), aqueles dois relatos
mais a questão do saber encontram-se deslegitimados. Essa deslegitimação do
saber é a condição pós-moderna da sociedade contemporânea, originando, assim, a
Pós-Modernidade, conforme apontam os estudos do filósofo Lyotard, em seu livro A condição pós-moderna.
A
Pós-Modernidade é baseada no sistema econômico do Capitalismo, num consumismo desmedido
e num individualismo exacerbado e fragmentário. O saber agora não é mais especulativo e/ou de uso para o qual o Estado e a nação progridam de forma
justa e emancipatória e igualitária.
A
ciência e o saber amplificaram-se e dividiram-se em várias subciências e
sub-saberes (informática, robótica, internet, etc.) e ainda são poucos os países
que dominam essas novas ciências (tecnologias); o saber meramente especulativo
(filosófico) e o saber de caráter emancipatório caíram em desuso, estão deslegitimados e dissociados, em contrapartida, valorizam-se as tecnologias
da informática e da robótica.
Na
Pós-Modernidade, o saber científico/tecnológico, com suas novas técnicas
(informática, robótica, tecnologia da informação) servem como forma de
dominação/opressão, ou seja, os países que as detêm, acabam por dominar os
outros Estados.
Os
países desenvolvidos, portanto, dominam a Geopolítica Pós-Moderna, justamente
pelo fato de possuírem as técnicas mais modernas de informação, robótica,
informática. Essa é, não por acaso, a condição pós-moderna, que leva à
dominação de poucos países sobre muitos outros Estados subdesenvolvidos ou em
processo de desenvolvimento, os quais não detêm as técnicas novas de
informação.
Sendo
assim, os paíes que possuem as tecnologias mais avançadas nas áreas da
informática, da informação e, lógico, no âmbito da tecnologia bélica, por
conseguinte exercem um domínio e uma influência sobre e na sociedade
pós-moderna.
Portanto,
a desvinculação entre o saber especulativo (filosófico/acadêmico) e o saber
emancipatório (progresso ético e justo do Estado-nação); o Capitalismo
consumista e individualista; a fragmentação das relações sociais, na sociedade
pós-industrial; e, o avanço tecnológico (informática, robótica, tecnologia
bélica, tecnologia da informação), por parte de poucas nações (não interessadas
em partilhá-lo) com os outros países. Esses três fatores geraram uma condição
de deslegitimação do saber científico, pois o saber especulativo e o saber emancipatório, na modernidade, conforme
foi afirmado anteriormente, estavam
legitimados; a partir da dissociação (e demais fatos já arrolados antes) entre
os saberes, a deslegitimação do saber tornou-se evidente e, fez surgir uma
nova condição, a condição pós-moderna do saber, segundo Lyotard, de caráter
individualista, fragmentário, consumista, capitalista e no qual só o
crescimento econômico interessa, mesmo que os outros países tenham que ser
subjugados, dominados ou invadidos.
É
esquecida, na Pós-Modernidade, a cidadania como forma de crescimento humano,
educativo e social, em contrapartida valoriza-se o valor econômico das coisas
(e das pessoas) e até da educação, portanto, na Era Pós-Moderna glorifica-se o
“Ter” e é esquecido o “Ser”.
Por
exemplo, no tocante à Educação, não importa mais o “saber”, a verdade
científica/filosófica, o que vale mesmo é o desempenho/performance e o lucro
que o saber pode gerar. Por isso, quem tem o saber técnico/científico, detém a
autoridade e o poder decisório. “Não se
compram cientistas, técnicos e aparelhos para saber a verdade, mas para
aumentar o poder.” (LYOTARD, Jean-François, A condição pós-moderna, 2006,
p. 83.)
As
implicações da Pós-Modernidade nas artes, como a Literatura, por exemplo, verifica-se
na interdisciplinariedade, ou seja, um romance pode referir-se a outras áreas
do conhecimento como a Filosofia, Sociologia, Antropologia, História,
Psicologia, etc.; reflete-se também na intertextualidade, uma mesma obra pode
referir-se a várias outras de vários autores diferentes, ou a outras obras do mesmo
autor; além disso, as obras literárias pós-modernas são fugidias, fluidas,
“vazias”, visto o esvaziamento e liquidez dos sentimentos e vínculos sociais,
sentimentais, amorosos, familiares, fraternos, afetivos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
LYOTARD,
Jean-François. A condição pós-moderna.
Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.
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