sábado, 18 de outubro de 2014

A Pós-Modernidade cada vez mais atual e consolidada: a teoria de Lyotard, nos anos 60, era visionária, hoje é realidade (virtual).

A condição pós-moderna - Jean-François Lyotard:

(resenha por Rafael Vespasiano)


O filósofo francês  Lyotard propõe a ruptura entre a Era Moderna e a Era Pós-Moderna , pelos idos de 1968. Tal fato deve-se à deslegitimação do saber/conhecimento e sua transmissão/ensino. Esta deslegitimação é a base da "fundação" da pós--modernidade, para o estudioso.

Analisar-se-á essa questão em dois momentos, primeiro as marcas das duas Eras históricas e a transição entre elas e, em segundo lugar, as marcas exclusivas da pós-modernidade, para Lyotard.

Na Idade Moderna, o saber era constituído por dois relatos, o primeiro, o relato especulativo, filosófico; o outro, o relato emancipatório do cidadão, o qual visa sua inserção na sociedade/humanidade, sempre pautado pela justiça, ética e moral de suas ações e atitudes.

Nessa era, dava-se a legitimização do saber filosófico/científico, justamente devido ao fato do conhecimento ser feito ora pelo relato de caráter especulativo, ora pelo relato de caráter emancipatório. No primeiro, a especulação do saber era filosófico e ocorria no âmbito das academias universitárias. No segundo, o saber filosófico/científico servia como emancipação da sociedade (Humanidade), pois era utilitário ao progresso do Estado-nação, sempre observando a ética, a moralidade e sendo justo para a sociedade, a priori.

A união desses dois relatos (especulativo e emancipatório), na modernidade, legitima o saber científico/filosófico como forma de progresso social, do Estado e da nação. Constituindo, assim, uma espécie de continuum entre o saber especulativo e o saber emancipatório, esta é a condição moderna, da modernidade.

Porém, na Idade Contemporânea, fim dos anos 60, do século XX, por volta de 1968, numa sociedade pós-industrial e numa cultura pós-moderna (Pós-Modernidade, ou, segundo o sociólogo polonês Bauman, Modernidade Líquida), aqueles dois relatos mais a questão do saber encontram-se deslegitimados. Essa deslegitimação do saber é a condição pós-moderna da sociedade contemporânea, originando, assim, a Pós-Modernidade, conforme apontam os estudos do filósofo Lyotard, em seu livro A condição pós-moderna.

A Pós-Modernidade é baseada no sistema econômico do Capitalismo, num consumismo desmedido e num individualismo exacerbado e fragmentário. O saber agora não é mais especulativo e/ou de uso para o qual o Estado e a nação progridam de forma justa e emancipatória e igualitária.

A ciência e o saber amplificaram-se e dividiram-se em várias subciências e sub-saberes (informática, robótica, internet, etc.) e ainda são poucos os países que dominam essas novas ciências (tecnologias); o saber meramente especulativo (filosófico) e o saber de caráter emancipatório caíram em desuso, estão deslegitimados e dissociados, em contrapartida, valorizam-se as tecnologias da informática e da robótica.

Na Pós-Modernidade, o saber científico/tecnológico, com suas novas técnicas (informática, robótica, tecnologia da informação) servem como forma de dominação/opressão, ou seja, os países que as detêm, acabam por dominar os outros Estados.

Os países desenvolvidos, portanto, dominam a Geopolítica Pós-Moderna, justamente pelo fato de possuírem as técnicas mais modernas de informação, robótica, informática. Essa é, não por acaso, a condição pós-moderna, que leva à dominação de poucos países sobre muitos outros Estados subdesenvolvidos ou em processo de desenvolvimento, os quais não detêm as técnicas novas de informação.

Sendo assim, os paíes que possuem as tecnologias mais avançadas nas áreas da informática, da informação e, lógico, no âmbito da tecnologia bélica, por conseguinte exercem um domínio e uma influência sobre e na sociedade pós-moderna.

Portanto, a desvinculação entre o saber especulativo (filosófico/acadêmico) e o saber emancipatório (progresso ético e justo do Estado-nação); o Capitalismo consumista e individualista; a fragmentação das relações sociais, na sociedade pós-industrial; e, o avanço tecnológico (informática, robótica, tecnologia bélica, tecnologia da informação), por parte de poucas nações (não interessadas em partilhá-lo) com os outros países. Esses três fatores geraram uma condição de deslegitimação do saber científico, pois o saber especulativo e o saber emancipatório, na modernidade,  conforme foi afirmado anteriormente,  estavam legitimados; a partir da dissociação (e demais fatos já arrolados antes) entre os saberes, a deslegitimação do saber tornou-se evidente e, fez surgir uma nova condição, a condição pós-moderna do saber, segundo Lyotard, de caráter individualista, fragmentário, consumista, capitalista e no qual só o crescimento econômico interessa, mesmo que os outros países tenham que ser subjugados, dominados ou invadidos.

É esquecida, na Pós-Modernidade, a cidadania como forma de crescimento humano, educativo e social, em contrapartida valoriza-se o valor econômico das coisas (e das pessoas) e até da educação, portanto, na Era Pós-Moderna glorifica-se o “Ter” e é esquecido o “Ser”.

Por exemplo, no tocante à Educação, não importa mais o “saber”, a verdade científica/filosófica, o que vale mesmo é o desempenho/performance e o lucro que o saber pode gerar. Por isso, quem tem o saber técnico/científico, detém a autoridade e o poder decisório. “Não se compram cientistas, técnicos e aparelhos para saber a verdade, mas para aumentar o poder.” (LYOTARD, Jean-François, A condição pós-moderna, 2006, p. 83.)

As implicações da Pós-Modernidade nas artes, como a Literatura, por exemplo, verifica-se na interdisciplinariedade, ou seja, um romance pode referir-se a outras áreas do conhecimento como a Filosofia, Sociologia, Antropologia, História, Psicologia, etc.; reflete-se também na intertextualidade, uma mesma obra pode referir-se a várias outras de vários autores diferentes, ou a outras obras do mesmo autor; além disso, as obras literárias pós-modernas são fugidias, fluidas, “vazias”, visto o esvaziamento e liquidez dos sentimentos e vínculos sociais, sentimentais, amorosos, familiares, fraternos, afetivos.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.

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