Moby
Dick, Herman Melville
(a vingança obsessiva)
(resenha por Rafael Vespasiano)
“Moby
Dick publicado, em 1851, e, que foi escrito pelo
norte-americano Herman Melville, é um romance detalhista que tem como objetivo
declarado pelo “autor implícito”, - este se apresenta na figura do
narrador-testemunha Ismael, - o de narrar e descrever a pesca baleeira
realizada pelos estadunidenses durante o século XIX.
O descrever em excesso
pelo narrador faz que o romance tenha certa lentidão e repetição de
informações. Levando-o a parecer muito com os romances naturalistas-científicos
do século XIX, à maneira de Zola, o escritor francês de Germinal.
Contudo, o romance de
Melville tem um quê de Romantismo atrasado, isso porque se trata de uma
narrativa de aventura marítima, com tons místicos e exóticos, típicos do
Romantismo de capa-e-espada, só que no caso de Melville transpostos para o mar
e para a caça às baleias. O romance tem um tom também de pessimismo, pois a
obra esboça desde o princípio do narrar e do descrever os primeiros momentos da
personagem principal, Capitão Ahab, um destino final da mesma, que já se
prefigura e se mostra fardado ao trágico.
Segundo Otto Maria Carpeaux, Herman Melville
“tinha escrito alguns bons romances da vida marítima, (...), para cair depois
em esquecimento completo (...)” (CARPEAUX, 2011, p. 1895). Ainda de acordo com
Carpeaux:
Por volta de
1920, (...), redescobriram Melville. Conservaram-se-lhe sempre fiéis alguns
leitores românticos, gostando da sua obra como documento do tempo em que os
veleiros americanos navegavam pelo Pacífico, antes de a guerra civil acabar com
a marinha mercante dos Estados Unidos. Agora se descobriu nesse romântico
‘atrasado’ um grande poeta épico e nas aventuras do capitão Ahab contra a
baleia, em Moby Dick, a epopeia do espírito
de aventura americano. (Ibid., p. 1895).
Talvez hoje, século
XXI, sua obra seja anacrônica e politicamente incorreta, visto a forte
tendência à extinção das baleias, promovida justamente pela caça predatória dos
séculos XVIII e XIX e, que continua ainda hoje por certos países como o Japão.
Tal fato é constantemente denunciado em documentários e reportagens. Sem contar
a luta de diversas ONG´s contra esse tipo de caça; e, inclusive, hoje se
recrimina muito até os parques aquáticos onde as baleias se apresentam como
artistas, mas porquê se descobriram os maus-tratos a que elas são submetidas.
No romance temos
detalhes naturalistas da caça baleeira de então. Já nas figuras exóticas dos
arpoadores Dagu, Tashtego e Quiqueg, defrontamos com o que por outro lado
remete a um romantismo, como afirmou Carpeaux “atrasado.”. Os imediatos Strubb
e Flashk são figuras tragicômicas. E o primeiro imediato Starbuck é o único que
desafia a autoridade do capitão Ahab.
Ahab está em busca de
vingança contra a baleia branca Moby Dick, que lhe arrancara a perna em outra
viagem baleeira. O capitão do navio Pequod promove uma nova viagem de caça
baleeira, pelo menos a priori,
aparentemente, para os sócios donos do veleiro e para a tripulação; - só já
distante da costa em pleno oceano, o Capitão Ahab revela o verdadeiro objetivo
da viagem, que não se trata de uma simples caça baleeira, mas de uma vingança
mortal.
Carpeaux assevera que o
escritor Melville é um revoltoso contra “o calvinismo novo-inglês (...).”
(Ibid., p. 1896). E que em várias passagens de suas obras encontram-se
“numerosas alusões nos seus romances demonstram a sua curiosidade e vastos
conhecimentos filosóficos e literários, sobretudo da literatura elisabetana e
da romântica.” (Ibid., p. 1896).
O crítico Otto Maria
Carpeaux afirma que o estilo de Herman Melville é marcado pela “veemência lírica”.
E assevera que “Moby Dick, [é uma] obra
antivitoriana porque a vitória cabe, no desfecho, ao espírito do Mal. O
romantismo de Melville, (...), não é, porém, autêntico (...)” (Ibid., p. 1896).
As pretensões de Herman
Melville são “grandiosas” e “também foi desmesurado seu sucesso póstumo,
devido, em parte considerável, (...), ao desejo dos norte-americanos de possuir
um grande poeta épico.” (Ibid., p. 1896).
Porém, suas intenções,
na maioria das vezes, ficavam atrás das realizações propriamente ditas, “menos,
talvez, nas novelas curtas e em Billy
Budd, baseado em experiência trágica.” (Ibid., p. 1896). Sua documentação é
“quase de um naturalista; Moby Dick é
um manual da pesca das baleias. Isso o aproxima de Zola (...)” (Ibid., p.
1896). Melville, também “era um romântico ao quais as circunstâncias exteriores
e interiores impuseram o realismo” (Ibid., p. 1896).
Ou seja, que se
ressalte o escritor norte-americano é marcado por um “realismo-científico”, nos
termos de Jakobson, portanto, um autor naturalista, pois se preocupa em
classificar e dissecar as baleias e as suas diversas espécies. Toda essa
descrição notadamente naturalista. Mas, também um “romântico atrasado”, pelo
exotismo de certas personagens e pelo tom aventuresco da obra.
Também é importante
notar o tom bíblico que marca a obra, referências ao profeta Jonas, segundo a
Bíblia, aquele fora engolido e regurgitado por uma baleia; tem-se a presença de
uma personagem no início da obra de nome Elias (um dos profetas bíblicos), que
prenuncia o desfecho da viagem do navio Pequod. Sem contar o
narrador-testemunha, Ismael, também uma personagem bíblica, que narra à obra
inteira, na primeira pessoa. E o narrador também se dirige ao leitor de forma
direta, criando uma identificação entre ele e o leitor-; Ismael é onisciente de
tudo que se passa a bordo e do que acontece e acontecerá; e de como terminará a
viagem e qual será o destino do Capitão Ahab e da sua tripulação, da qual
Ismael também faz parte.
Vale a pena ressaltar
também a mistura dos gêneros na obra, pois em muitos momentos os capítulos de Moby Dick se iniciam com notações
teatrais, dessa forma a obra faz uma miscelânea poética dos gêneros narrativo
(épico), dramático e também lírico (nas cantigas dos marinheiros).
Para Carpeaux, enfim, Moby Dick é uma:
epopeia dos
esforços inúteis da humanidade contra as forças da Natureza talvez a primeira
obra de literatura universal em que no centro dos acontecimentos não está
colocado o homem, mas a realidade objetiva das forças extra-humanas do mar, do
Destino como peso material. Contra esse inimigo só vale a atitude cervantina.
(Ibid., p. 1897).
A obra é, portanto, “um
símbolo da escravização do homem pelo destino: expressão simbólica do dogma
puritano da predestinação (...)”. (Ibid., p. 1897).”.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
MELVILLE,
Herman. Moby Dick. Tradução de
Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Nova Cultural, 2002.
CARPEAUX,
Otto Maria. História da literatura
ocidental, volume III. São Paulo: Leya, 2011. p. 1895-1897.
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