“UM
BRASIL (IN)-VIÁVEL: MAS A ESPERANÇA NÃO MORRE”
“CRONICAMENTE
INVIÁVEL”
(CRÍTICA
do FILME “CRONICAMENTE INVIÁVEL”, de SÉRGIO BIANCHI, por Rafael Vespasiano).
“Sérgio Bianchi deve
ser persona non grata para os governos brasileiros, tanto de direita, quanto de
esquerda, porque ele é um crítico social imparcial, faz ficção com tom
documental. Expõe as mazelas do Brasil sem dó nem piedade de ninguém, seja
governo, povo, sociedade, espectador, artista, intelectual, etc. Todos são
atacados, não há mocinhos nem bandidos, mas brasileiros, na maioria das vezes,
trambiqueiros e que querem se dar bem à custa dos outros: individualismo no
pior sentido. Para o cineasta o Brasil é inviável politicamente,
economicamente, socialmente, etc. Tão atual esse filme de 2000, para 2014:
nesse período de eleições, em que estamos no momento de qual é o melhor para votar
em presidente, se isso existe numa democracia plausível. O filme ataca tudo
intelectualidade mesquinha, classe burguesa média interesseira e alienada,
passividade do povo brasileiro, seja rico ou pobre, preconceito contra
nordestinos, contra índios, contra imigrantes, migrantes, negros, gays, etc.
Atual? Sim! O filme mostra as cinco regiões do Brasil por meio de crônicas e
personagens que transitam entre elas. Ainda há a exposição do MST, dos sem
teto, a reflexão sobre essas minorias, a dos mendigos e pedintes; a fome, a
carvoaria, trabalho escravo e infantil; falta de escolaridade; estudo, de
maneira geral; povo sem condições de criticidade; o extermínio indígena pelos
europeus; a escravidão; o trabalho doméstico dos negros humilhados, de diversas
formas, pelos patrões; mas existem personagens conscientes das mazelas sociais
brasileira, porém, ou são passivas, ou falam da boca para fora, mas não se
preocupam em fazer sua parte, ativismo político e social jogado para escanteio,
ora um personagem que parte para o enfrentamento com o patrão e se fode, nas
garras da polícia, que protege o bom burguês, né? Alta sociedade, classe média,
submundo, rincões do país são explorados habilmente nessa obra-prima de Sérgio
Bianchi. A personagem que parecia o intelectual engajado, ativista e correto...
Bem, vejam o filme! Tem ainda a crítica ao tráfico de órgãos e ao tráfico de
gente, bebês recém-nascidos vendidos para estrangeiros. Elenco maravilhoso:
Betty Goffman; Daniel Dantas; Cecil Thiré; Umberto Magnani; Dira Paes; Dan
Stulbach; Zezeh Motta, Zezé Polessa; Pereio; Cosme dos Santos, etc. Outros
filmes que Bianchi detona a hipocrisia e o status quo da sociedade brasileira
(não sei como ele ainda recebe incentivos culturais e cinematográficos das leis
de incentivo à cultura e ao cinema do governo, seja de direita, seja de esquerda!,
pelo menos não tem censura, já é alguma coisa.), são: Maldita Coincidência (à
época da Ditadura Militar, 1979), A Causa secreta (baseado no conto
machadiano), Quanto vale ou é por quilo?, Os Inquilinos, retratando a violência
urbana brasileira do século XXI, e o mais recente que está circulando por
festivais e ganhando prêmios, o filme de 2013, Jogo de Decapitações, que já
está em exibição no Canal Brasil, da NET, 150. Recomendo esse cineasta por sua
coragem, seu estilo único e arrojado, belos roteiros de crítica social
imparcial e por seus filmes realmente serem esteticamente ótimos e reflexivos
para mudar o Brasil. Para melhor, lógico! Pelo menos apesar de sua
imparcialidade, no filme em tela, Cronicamente Inviável, Bianchi termina o
mesmo com uma cena epifânica e de tom esperançoso, de quem menos se espera uma
visão de otimismo e esperança.”
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