terça-feira, 21 de outubro de 2014

“UM BRASIL (IN)-VIÁVEL: MAS A ESPERANÇA NÃO MORRE”

“CRONICAMENTE INVIÁVEL”

(CRÍTICA do FILME “CRONICAMENTE INVIÁVEL”, de SÉRGIO BIANCHI, por Rafael Vespasiano).


“Sérgio Bianchi deve ser persona non grata para os governos brasileiros, tanto de direita, quanto de esquerda, porque ele é um crítico social imparcial, faz ficção com tom documental. Expõe as mazelas do Brasil sem dó nem piedade de ninguém, seja governo, povo, sociedade, espectador, artista, intelectual, etc. Todos são atacados, não há mocinhos nem bandidos, mas brasileiros, na maioria das vezes, trambiqueiros e que querem se dar bem à custa dos outros: individualismo no pior sentido. Para o cineasta o Brasil é inviável politicamente, economicamente, socialmente, etc. Tão atual esse filme de 2000, para 2014: nesse período de eleições, em que estamos no momento de qual é o melhor para votar em presidente, se isso existe numa democracia plausível. O filme ataca tudo intelectualidade mesquinha, classe burguesa média interesseira e alienada, passividade do povo brasileiro, seja rico ou pobre, preconceito contra nordestinos, contra índios, contra imigrantes, migrantes, negros, gays, etc. Atual? Sim! O filme mostra as cinco regiões do Brasil por meio de crônicas e personagens que transitam entre elas. Ainda há a exposição do MST, dos sem teto, a reflexão sobre essas minorias, a dos mendigos e pedintes; a fome, a carvoaria, trabalho escravo e infantil; falta de escolaridade; estudo, de maneira geral; povo sem condições de criticidade; o extermínio indígena pelos europeus; a escravidão; o trabalho doméstico dos negros humilhados, de diversas formas, pelos patrões; mas existem personagens conscientes das mazelas sociais brasileira, porém, ou são passivas, ou falam da boca para fora, mas não se preocupam em fazer sua parte, ativismo político e social jogado para escanteio, ora um personagem que parte para o enfrentamento com o patrão e se fode, nas garras da polícia, que protege o bom burguês, né? Alta sociedade, classe média, submundo, rincões do país são explorados habilmente nessa obra-prima de Sérgio Bianchi. A personagem que parecia o intelectual engajado, ativista e correto... Bem, vejam o filme! Tem ainda a crítica ao tráfico de órgãos e ao tráfico de gente, bebês recém-nascidos vendidos para estrangeiros. Elenco maravilhoso: Betty Goffman; Daniel Dantas; Cecil Thiré; Umberto Magnani; Dira Paes; Dan Stulbach; Zezeh Motta, Zezé Polessa; Pereio; Cosme dos Santos, etc. Outros filmes que Bianchi detona a hipocrisia e o status quo da sociedade brasileira (não sei como ele ainda recebe incentivos culturais e cinematográficos das leis de incentivo à cultura e ao cinema do governo, seja de direita, seja de esquerda!, pelo menos não tem censura, já é alguma coisa.), são: Maldita Coincidência (à época da Ditadura Militar, 1979), A Causa secreta (baseado no conto machadiano), Quanto vale ou é por quilo?, Os Inquilinos, retratando a violência urbana brasileira do século XXI, e o mais recente que está circulando por festivais e ganhando prêmios, o filme de 2013, Jogo de Decapitações, que já está em exibição no Canal Brasil, da NET, 150. Recomendo esse cineasta por sua coragem, seu estilo único e arrojado, belos roteiros de crítica social imparcial e por seus filmes realmente serem esteticamente ótimos e reflexivos para mudar o Brasil. Para melhor, lógico! Pelo menos apesar de sua imparcialidade, no filme em tela, Cronicamente Inviável, Bianchi termina o mesmo com uma cena epifânica e de tom esperançoso, de quem menos se espera uma visão de otimismo e esperança.”   

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