quarta-feira, 22 de outubro de 2014

BANGUÊ, de JOSÉ LINS DO REGO:
A substituição de um poder opressivo por outro sistema social também opressivo

(resenha por Rafael Vespasiano)


José Lins do Rego é um romancista da Segunda Geração Modernista Brasileira, que vai de 1930 até 1945 - uma geração marcadamente regionalista -, vale citar outros autores como: Graciliano Ramos, José Américo de Almeida, Jorge Amado, esses três citados, assim como Lins do Rego, são regionalistas nordestinos e, há também outro, porém, gaúcho, que é, justamente, Érico Veríssimo.
Mas, não se pode ficar preso, entretanto a esses rótulos e classificações estanques das obras e dos autores. Faz-se necessária a análise diegética de cada obra de cada autor. Vejamos Banguê, de José Lins do Rego:
José Lins do Rego divide, ele próprio, sua obra em três ciclos, o da cana-de-açúcar, o do cangaço e o memorialista, essa divisão foi acatada pela crítica literária brasileira. Contudo, o primeiro e o terceiro ciclos se entrelaçam. "Banguê" pertence ao ciclo da cana-de-açúcar, junto com "Menino de Engenho", "Doidinho", esses três formam a "trilogia inicial" da obra de Lins do Rego, aquele ciclo é concluído com "Moleque Ricardo" e "Usina".
"Banguê" é a terceira parte da trilogia citada, precedida por "Menino de Engenho" e "Doidinho", nessa ordem. Essa trilogia mostra a vida de Carlinhos, desde sua infância, mostrada em "Menino de Engenho", vivida no engenho de seu avô, o velho Zé Paulino, o engenho deste chama-se Santa Rosa, o qual está em pleno funcionamento e esplendor; em "Doidinho", Carlinhos vai estudar em um colégio interno, depois de um tempo foge dele e volta para o engenho de seu avô.
E, em "Banguê", Carlinhos está com 24 anos de idade e formado em Direito. Carlinhos acompanha o declínio e morte de seu avô. Aquele assume o comando do Engenho Santa Rosa, porém não consegue evitar seu declínio e acaba vendendo-o para a Usina São Félix; nesse acontecimento do enredo está representada a decadência dos engenhos de açúcar tradicionais, que são substituídos pelas usinas açucareiras, portanto, o poder dos Senhores de Engenho é substituído pelo dos usineiros.
 Poder exercido até hoje, e preste atenção o leitor, que o livro é de meados do século XX e já estamos no século XXI, continuando o sistema/política do coronelismo até hoje, só mudando de mãos, dos senhores de engenho para as dos usineiros, fato evidenciado por esse romance em questão, ou seja, os "coronéis" passam a serem os usineiros, e não mais os senhores de engenho.
Carlinhos sempre teve uma visão crítica negativa em relação a situação de poder demasiado de seu avô como "coronel", em relação à exploração, miséria e péssimas condições de sobrevivência dos trabalhadores do engenho Santa Rosa, mas quando assumiu o comando deste não fez nada para mudar a situação e reconhece isso, a sua própria impotência ante os fatos. Até no amor por uma mulher casada, Maria Alice, foi fraco, impotente e frustrado para mudar a situação a seu favor.
Sua vida toda foi marcada pela frustração e impotência reconhecidas por ele próprio, em suas memórias narradas em primeira pessoa, nessa brilhante "trilogia" de José Lins do Rego.




P.S.: "Banguê" é um termo, que é sinônimo de “engenho de açúcar”.

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