BANGUÊ, de JOSÉ
LINS DO REGO:
A substituição
de um poder opressivo por outro sistema social também opressivo
(resenha por
Rafael Vespasiano)
José Lins do Rego
é um romancista da Segunda Geração Modernista Brasileira, que vai de 1930 até
1945 - uma geração marcadamente regionalista -, vale citar outros autores como:
Graciliano Ramos, José Américo de Almeida, Jorge Amado, esses três citados,
assim como Lins do Rego, são regionalistas nordestinos e, há também outro,
porém, gaúcho, que é, justamente, Érico Veríssimo.
Mas,
não se pode ficar preso, entretanto a esses rótulos e classificações estanques
das obras e dos autores. Faz-se necessária a análise diegética de cada obra de
cada autor. Vejamos Banguê, de José Lins
do Rego:
José Lins do Rego
divide, ele próprio, sua obra em três ciclos, o da cana-de-açúcar, o do cangaço
e o memorialista, essa divisão foi acatada pela crítica literária brasileira.
Contudo, o primeiro e o terceiro ciclos se entrelaçam. "Banguê" pertence ao ciclo da cana-de-açúcar, junto com
"Menino de Engenho", "Doidinho", esses três formam a
"trilogia inicial" da obra de Lins do Rego, aquele ciclo é concluído
com "Moleque Ricardo" e "Usina".
"Banguê"
é a terceira parte da trilogia citada, precedida por "Menino de Engenho" e "Doidinho", nessa ordem. Essa trilogia mostra a vida de
Carlinhos, desde sua infância, mostrada em "Menino de Engenho",
vivida no engenho de seu avô, o velho Zé Paulino, o engenho deste chama-se
Santa Rosa, o qual está em pleno funcionamento e esplendor; em "Doidinho", Carlinhos vai
estudar em um colégio interno, depois de um tempo foge dele e volta para o
engenho de seu avô.
E,
em "Banguê", Carlinhos
está com 24 anos de idade e formado em Direito. Carlinhos acompanha o declínio
e morte de seu avô. Aquele assume o comando do Engenho Santa Rosa, porém não
consegue evitar seu declínio e acaba vendendo-o para a Usina São Félix; nesse
acontecimento do enredo está representada a decadência dos engenhos de açúcar
tradicionais, que são substituídos pelas usinas açucareiras, portanto, o poder
dos Senhores de Engenho é substituído pelo dos usineiros.
Poder exercido até hoje, e preste atenção o
leitor, que o livro é de meados do século XX e já estamos no século XXI,
continuando o sistema/política do coronelismo até hoje, só mudando de mãos, dos
senhores de engenho para as dos usineiros, fato evidenciado por esse romance em
questão, ou seja, os "coronéis" passam a serem os usineiros, e não
mais os senhores de engenho.
Carlinhos
sempre teve uma visão crítica negativa em relação a situação de poder demasiado
de seu avô como "coronel", em relação à exploração, miséria e péssimas
condições de sobrevivência dos trabalhadores do engenho Santa Rosa, mas quando
assumiu o comando deste não fez nada para mudar a situação e reconhece isso, a
sua própria impotência ante os fatos. Até no amor por uma mulher casada, Maria
Alice, foi fraco, impotente e frustrado para mudar a situação a seu favor.
Sua
vida toda foi marcada pela frustração e impotência reconhecidas por ele
próprio, em suas memórias narradas em primeira pessoa, nessa brilhante
"trilogia" de José Lins do Rego.
P.S.:
"Banguê" é um termo, que é
sinônimo de “engenho de açúcar”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário