ESCRITOR
FRUSTRADO
O
AMANUENSE BELMIRO
CYRO
DOS ANJOS
(resenha
por Rafael Vespasiano).
Romance
memorialístico de Cyro dos Anjos.
Obra-prima deste autor. O livro é narrado em primeira pessoa, o que ressalta o
caráter mnemônico do romance. O narrador-protagonista é Belmiro, um funcionário
público frustrado, que aos 38 anos de
idade, começa a refletir sobre
sua vida, fazendo anotações em um diário que inicia.
Belmiro
percebe que não fez nada de relevante em seus 38 anos de vida, ele rememora
fatos de sua infância e adolescência e, mescla tais relatos com ocorrências de
seu dia-a-dia. Belmiro é um ser racional; tal racionalidade faz com que sua
vida interior (reflexões em fluxo de consciência e notas no diário) esmague de
tal forma sua vida exterior, que esta fique estagnada e suas relações
interpessoais são quase nulas, a vida profissional não progride e também não
existe vida amorosa e/ou afetiva.
Belmiro,
na verdade, tem anseio e desejos de ser escritor, mas não toma atitude e
coragem para lutar por esse desejo, por esse dom, falta atitude moral e força
de vontade, mais uma vez se esmaga e se embrutece na burocracia (burrocracia) de
um escritório. Suas qualidades literárias são tolhidas em um emprego que não
significa nada para ele.
Seu
diário serve como uma espécie de romance que Belmiro escreve dentro do romance
maior de Cyro dos Anjos, O Amanuense Belmiro, um romance dentro do outro – uma característica de
metalinguagem. De certa forma, ao escrever tal diário, ele redige algo que extravasa
seus dons literários, mas só para si. Porém, guarda isso com e para ele tão
somente, frustrando-se mais ainda.
O
diário não é um romance ao pé da letra, está mais para um diário pessoal, do
seu dia-a-dia no escritório, no boteco com os colegas e sobre suas parcas
relações sentimentais, familiares e amorosas. Mas o diário se torna um
protótipo de romance, pois Belmiro tem qualidades literárias que poderiam ser
aproveitadas e leva-lo a ser de fato um escritor, porém, a sua acomodação no
trabalho emburrecedor e embrutecedor do escritório, a burocracia e as relações
interpessoais pouco desenvolvidas, tornam Belmiro um ser solitário, tolhido,
esmagado pela massa burrocrata, se torna um frustrado escrevente e copista;
além de sua frustração como pessoa e como escritor marcarem e pontuarem a sua
vida. Vida? Enfim, um ser derrotado e completamente frustrado é o resumo da
existência de Belmiro. Uma belíssima obra memorialística do romancista mineiro Cyro dos Anjos.
p.s.:
amanuense: sinônimo de escrevente, copista.
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