Lola (Lola, Alemanha Ocidental, 1981): segunda parte da trilogia de Rainer Werner Fassbinder, a conhecida ‘Trilogia BDR’":
("HOMENAGENS E REFERÊNCIAS PARA CRITICAR A FALTA DE ETICIDADE DE UMA ALEMANHA ARRUINADA MORALMENTE"):
(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO):
“Lola, filme de 1981, segunda parte da
trilogia de Rainer Werner Fassbinder sobre a Alemanha Ocidental, a conhecida ‘Trilogia
BDR’, sobre os anos 1950, durante a Guerra Fria e sob os efeitos da decadência
moral e ética do fim da Segunda Guerra Mundial e da construção do Muro de
Berlim, vividos na parte ocidental alemã. E, o falso milagre econômico que
mascarava a crise moral de uma Alemanha decadente e suja. A trilogia iniciou-se
com "O Casamento de Maria
Braun" e finaliza-se com "O
Desespero de Veronika Voss".
Lola é um filme realístico, que mostra a
verdade/realidade de forma nua e crua. Alemanha,
outono de 1957. Lola, uma sedutora prostituta e cantora de cabaré, orgulha-se
de ser uma conquistadora de homens. Quando conhece um respeitado funcionário
público, ela fará de tudo para conquistá-lo e ascender numa sociedade, onde
tudo e todos estão à venda. Crítica ácida ao milagre econômico da Alemanha do
pós-guerra.
Os títulos dos três filmes sempre
são com os nomes das personagens femininas principais de cada parte, pois elas
representam os anos 50 do século XX, na Alemanha. Fassbinder trata as mulheres
de forma sensível, mas sempre sensual, forte e frágil ao mesmo tempo: forte
como mulher independente e com atitudes próprias, mas frágeis psicologicamente
e em termos afetivos e amorosos. Uma metáfora da Alemanha em crise: forte e
fraca, forte numa crescente economia (mascarada) pela fragilidade da mesma,
envolta numa crise moral e ética do povo alemão, do pós-Guerra e durante a
Guerra Fria.
Lola (Barbara Sukowa) é uma prostituta, que
faz de tudo para ascender socialmente, e, conseguir dinheiro, ou seja, age de
maneira fria e calculista para enriquecer, para tanto seduz um homem honesto, Von
Bohm (Armin Mueller-Stahl). Ele é o único não corrompido no meio de toda a
corrupção da sociedade alemã dos anos 50 (1957), onde todos os governantes e
membros da classe rica/dominante se vendem; Von Bohm é um honesto secretário de
obras, inocente, até.
Aparentemente, Lola poderia se
redimir de seus erros, mas, formando um complô com seu eterno amante Schukert
(Mario Adorf), se mete numa trama que a compromete por completo, em especial,
com sua consciência mesmo, já que se fragiliza, e, o peso na consciência é
tamanho em Lola.
Lola é a homenagem de
Fassbinder ao clássico O Anjo Azul
(1930), de Josef Von Sternberg, outro mestre do cinema alemão. Uma obra-prima
do espetacular diretor alemão Rainer Werner Fassbinder, com grande poder de
persuasão, questionando através de ícones e colocando em verdadeiro xeque-mate
as bases da sociedade contemporânea. A fotografia de
"Lola" é com cores vivas, uma boa fotografia, por sinal. Segundo
filme de Fassbinder da trilogia do pós-guerra, antecedido de O Casamento de Maria Braun (1980) e
seguido de O Desespero de Veronika Voss
(1982).
O diretor homenageia o clássico O Anjo Azul (1930), de von Sternberg, no
qual um moralista e rígido professor (vivido pelo genial, Emil Jannings) se apaixona pela
cantora de cabaré Lola. Lola, interpretada pela luminosa Marlene Dietrich. No
filme de Fassbinder, Lola é interpretada pela grande Barbara Sukowa, que foi
descoberta pelo diretor durante uma apresentação de uma peça teatral.
No filme de Fassbinder, um
administrador público recém-chegado e com muita vontade de pôr ordem na casa
passa a flertar com uma garota e vem a apaixonar-se por ela; entra em pânico
quando descobre que ela é Lola, uma prostituta que dança e canta e se vende num
bordel. Fassbinder dá a seu filme uma conclusão cínica e perversa.
Fassbinder refaz os melodramas de
Max Ophüls, repassados por influências mais fáceis de assimilar herdadas do
alemão radicado em Hollywood, Douglas Sirk, visível a influência deste
claramente em filmes de R. W. Fassbinder como O Medo devora a alma (1974) e
O Direito do mais forte é a liberdade (1975).
Lola é este conjunto desvairado de
estéticas que se superpõem, se entrecruzam e se dilaceram nas mãos exasperadas
de Fassbinder. Extravasamento de emoções, críticas, referências e variações cromáticas,
que ele passa ao espectador, com muita força e violência, o filme Lola, é um exemplo máximo destas
características.
Próxima crítica será sobre o filme
que fecha a Trilogia de Fassbinder, O
Desespero de Veronika Voss (Die
Sehnsucht der Veronika Voss, Alemanha Ocidental, 1982). Voss interpretada
pela excelente atriz Rosel Zech.”
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