(""O DESESPERO DE VERONIKA VOSS", ALEMANHA OCIDENTAL, 1982, RAINER WERNER FASSBINDER, ("Die Sehnsucht der Veronika Voss”"):
("TRILOGIA BDR: CONCLUSÃO TRÁGICA DA SÉRIE DE FILMES REFLEXIVOS SOBRE A ALEMANHA DOS ANOS 1950, DE R. W. FASSBINDER"):
(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO):
““O
Desespero de Veronika Voss”, Alemanha Ocidental, 1982, (“Die Sehnsucht der Veronika Voss”). Realizado e concluindo
brilhantemente, a Trilogia BDR, idealizada por Rainer Werner Fassbinder, que
aborda o (falso) milagre econômico da Alemanha, no Pós-2ª Guerra Mundial,
durante os anos 1950. “O Desespero de
Veronika Voss” é a terceira e última parte da trilogia da Alemanha
Ocidental, em sua decadência moral e ética, em meio às ruínas do Pós-Segunda
Grande Guerra, durante a Guerra Fria, e a existência do Muro de Berlim, o que
esfacelava a Alemanha em todos os sentidos. Foi uma das propostas do Novo
Cinema Alemão, e que Fassbinder tão bem retratava em vários de seus filmes, em
especial, na trilogia em tela.
O primeiro filme da trilogia
de Fassbinder é “O Casamento de Maria
Braun”, 1979, e, o segundo é “Lola”, 1981,
O milagre econômico alemão é representado pelas protagonistas de cada filme,
que dão título aos mesmos; três personagens, três atrizes diferentes; o filme
em questão ganhou o Urso de Ouro em Berlim – Melhor Filme; a fotografia do
filme é em preto-e-branco para ressaltar e dar veracidade ao retratar os anos 1950
do século XX, mais precisamente, o ano de 1955, em toda sua dramaticidade para
a Alemanha e a personagem de Voss vivida brilhantemente pela atriz Rosel Zech.
“O Desespero de Veronika Voss” é uma homenagem
do diretor Fassbinder, aos filmes melodramáticos de Douglas Sirk, e, ao filme “Crepúsculo dos Deuses” (Sunset Blvd.), de Billy
Wilder, 1950. No filme de Wilder, a sinopse é basicamente: para escapar dos cobradores das suas dívidas, Joe
Gillis (William Holden) se refugia na decadente mansão de Norma Desmond (Gloria
Swanson), antiga estrela do cinema mudo. Quando Norma descobre que Joe é
roteirista, contrata-o para revisar o roteiro de Salomé, que marcará seu
retorno às telas. O filme é insuportável, mas o pagamento é bom e como ele não
tem muito o que fazer, aceita.
Wilder
mostra, a partir, de então, a decadência de uma
atriz, na transição do Cinema Mudo para o Sonoro; já, no filme de Fassbinder, Veronika
(Zech) era sucesso do estúdio UFA, de cinema de propaganda e financiamento
nazista -, com a derrota do Nazismo, entra em decadência; Veronika, portanto,
também é afetada e entra em declínio/desespero, estes são motivos para o vício
em morfina, esse vício deve-se, então, também a outros fatores como: a dor
física insuportável, mas também motivado pela tristeza, melancolia e
infelicidade. Pela separação dela e o seu marido (que era o roteirista de seus
filmes), e, principalmente, por não saber lidar com a fama, ou seja, não estava
preparada psicologicamente para aquela (fama) e, com a decadência de sua
carreira, é que Veronika se afunda mais ainda na morfina, por puro desespero.
Este desespero e este vício
são abordados melodramaticamente, a maneira de Douglas Sirk, por exemplo. E, na
verdade são metáforas sugestivas, e, tipicamente, fassbinderianas para: o
declínio da Alemanha Nazista e de Hitler; para a crise alemã nos anos 1950, ou
seja, na década seguinte a queda do partido Nazista; seu falso milagre
econômico; e a crise moral e ética da sociedade alemã do pós-Guerra, vivida
durante a Guerra fria.
Na trilogia, as personagens
femininas são sempre valorizadas por Fassbinder; a atriz Rosel Zech é quem vive
Veronika, ótima interpretação daquela como Ross; há a personagem de um
jornalista esportivo, Robert Krohn (Hilmar Thate), que tenta ajudar Veronika, envolve-se com ela, mas,
Veronika está tão desesperada, que acaba não aceitando sua ajuda; Robert iria fazer
um furo de reportagem com Veronika, mas depois passa a um interesse
pessoal/emocional, melodramático, que beira ao fracasso e ao trágico.
O Desespero de Veronika Voss é um
drama existencialista, melodramático, contudo, em que personagens são dominados
por mecanismos muito mais fortes que eles, são autômatos num mundo que os
oprime, paranoicamente. Fassbinder utiliza a corrupção e o vício generalizado
para metaforizar uma Alemanha corrupta, degenerada e hipócrita, sem nenhuma
ética, e, ou, moral. A fotografia em branco-e-preto (morfina, sugerida) é
causadora de agonia às personagens e aos espectadores, uma ambiência claustrofóbica.
A fotografia magistral, e, as imagens do diretor de fotografia Xaver Schwarzenberger apresenta
a realidade confusa da trama, paranoica, por meio do uso de espelhos, de vidros
enfumaçados, que dão estranheza à imagem, criando um clima ao mesmo tempo muito
charmoso, mesmo com imagens diáfanas e decadentes, as mesmas cenas do diretor
de fotografia são maravilhosas, criando um maneirismo simbolista-decadente, que
o enredo e a temática do filme e da trilogia de Rainer Fassbinder necessita, em
especial, na conclusão, da sua trilogia sobre a decadência moral alemã dos anos
1950.
Fassbinder é, em suma, um
modernista, mas, acertadamente, um pós-moderno, pois, mistura, sabiamente,
gêneros e subgêneros fílmicos, e, antropofagicamente, deglute influências e
referências de outros cineastas e filmes (como Mabuse, de Fritz Lang, e, O
Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, ambos, do Expressionismo Alemão,
do início do século XX, com o segundo filme, criando um estilo próprio, o
Caligarismo.). Fassbinder se valia também de outras artes, para enriquecimento
de sua poética cinematográfica.
O Desespero de Veronika Voss, é
filiado por exemplo ao melodrama, mas está longe e muito dele, mais perto de um
drama existencialista e psicológico; se utilizando tanto de formas
convencionais como de formas modernas, naturalistas e antirrealistas, leva o
aparente paradoxo a um grau adiante, típico do cinema pós-moderno.”.
“A próxima crítica será sobre
o filme “O Machão”, 1969, “Katzelmacher”.”
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