(“O
CEMITÉRIO DOS VIVOS”, LIMA BARRETO”):
(“O
PRÉ-MODERNO MAIS MODERNO QUE MUITO MODERNISTA”):
(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO).
“Vicente
Mascarenhas = Lima Barreto, aquela personagem é a máscara narrativa romanceada
de memórias ficcionalizadas, das experiências vividas pelo escritor Lima
Barreto, durante sua estadia no Hospício da Praia Vermelha, por diversos
fatores. Deste o relativo fracasso literário, devido muito ao preconceito que
tinham a ele, por ser mulato. Ou seja, o meio crítico literário, do século XIX
era muito preconceituoso, mudou muito no século XXI, na sociedade como um todo?
Uma
máscara narrativa que machuca, doí e comove o leitor, independe de ser ou não o
próprio Barreto -, pois este ou Mascarenhas, junto a outros internos,
conhecidos até de Mascarenhas/Barreto, fora do Hospício, incluído até
enfermeiros e médicos que o conheciam até como escritor, de fora do Manicômio
-; alguns, é verdade, fingiam o não reconhecer, outros o tratavam de maneira
respeitosa e de igual para igual -; porém, no geral, trata-se de pessoas no
mais absoluto descaso, abandono e passando por privações e humilhações, por
causa de uma suposta 'loucura'.
Às
vezes a crise de sandice ou delírio é isolada não precisava a internação de
muitos deles, mas o preconceito daquela época, será que mudou muito? Era que
doente mental tem que ser isolado, teve crise então de violência, agressão
física ou verbal, então, leva!
E
não solta nunca mais!
Foi
o caso de Barreto/Mascarenhas misturado a vagabundos e tratado como um;
alcoólico, que se transformou devido ao já relatado mal digerido fracasso
literário, não por má qualidade de seus escritos, mas por preconceito de cor,
misturado a epiléticos, outros alcoólicos, leprosos, tuberculosos, maiores e
menores de idade, mulheres e homens, assassinos e estupradores, ladrões, enfim
não era hospício, ou clínica para doentes mentais, mas um depósito humano, ou
melhor de bichos humanos. O cemitério dos vivos, ou dos vivos-mortos, ou ainda
mortos-vivos, tema até dos Zumbis de George A. Romero, não mudou muito, hein?
Outras
causas para a ‘loucura’ ou alcoólico de Barreto/Mascarenhas: loucura da sogra,
morte da esposa, analfabetismo do filho deles, por doença mental do filho do
casal, etc.
Mas
a personagem/máscara narrativa semiautobiográfica é muito sincera ao revelar
que não cuidava ou tratava muito bem sua esposa, que o idolatrava, a Efigênia,
sempre o apoiando, e isso ele não valorizava, só depois do surto, e das várias
internações, efetivadas e levadas a efeito pelo sobrinho de Vicente
Mascarenhas, do qual este cuidava, antes das internações, contudo o sobrinho
nunca desamparou o tio. Diferente do que acontecia muito a época e até hoje é
normal, por exemplo ‘largar’ os pais enfermos e idosos nas clínicas de ‘repouso’,
mandar o cheque e pronto, não é?
Barreto,
agora como escritor aproveita para defenestrar os pseudos tratamentos
psiquiátricos da época, Pinel vai junto. Além de defenestrar a crítica
literária brasileira da época. Como Romero e Veríssimo, sem citá-los
nominalmente, mas ao se referir ao determinismo de Taine: meio, raça e momento
histórico; indiretamente defenestra também as teorias médicas de Dr. Bernard. E
o estilo literário naturalista científico baseado no determinismo de Taine,
como escritores do naipe de Zola e seu romance experimental, Balzac, Aluísio
Azevedo, etc.
Valoriza
literariamente os românticos brasileiros. Tece certa crítica ao Parnasiamo meramente
formal e descritivista e ao simbolismo decadente, por exemplo, faz referências
a um Maeterlinck, simbolista francês transcendelista, mas muito hermético.
Barreto
aproveita para fazer uma espécie de romance ou narrativa confessional de
formação, de sua formação literária, modernista, de uso do coloquial da língua
brasileira, temas brasileiros e de crítica social profunda e aguçada, marcada
por uma ironia destrutiva e ferina, é o caso aos manicômios do Rio de Janeiro
do século XIX, e todo o tratamento ‘psiquiátrico’ que se fazia, supostamente,
no mudo aos doentes mentais, àquela época.
Detona
o Positivismo filosófico de Comte. Ao propor uma atitude filosófica, literária
e de vida, após as decepções, amarguras e provações da vida,
Mascarenhas/Barreto, também ao se referir às suas várias internações no
hospício, afirma várias vezes, que o correto como ser humano é reconhecer os
erros cometidos por você e por motivações suas mesmo, a culpa é sua,
basicamente ele afirma isso, você tem que se resolver com a sua culpabilidade,
ou pelo menos, aceitar que o motivo de vários fatos de desgraça em sua
existência terem motivos diretos ou indiretos proporcionados por você mesmo.
Uma
maneira até estoica de encarar a realidade humana e sua vida como um todo, de
certa forma vai ao encontro ao que o eu-lírico de Manuel Bandeira, no século
XX, propõe: contemplação, busca da conformação, mas sem evasão, porém, viver
com inquietação e enfretamento da vida, viver a vida cero da morte, mas certo
de que é vivendo que se morre, mas por outro lado se vive, alegrias e
tristezas, amor e dor, felicidade e amargor, dualidade romântica alemã dinâmica,
típica da literatura e projeto literário dos dois autores brasileiros; ao fim,
a chegada da Morte, tu estás preparado para patir, certo da efemeridade e
brevidade e fugacidade da vida, mas que esta foi vivida em plenitude, em que
transcendes epifanicamente, se elevando, para citar mis uma vez Bandeira,
alumbradamente a um plano de vida-morte e morte-vida, não cristão e ou
espírita, mas de devir contínuo no Cosmos.
Barreto
acreditava de certa forma nessas teorias contemplativas e estoicas e de
dualidade dinâmica, o que o fez aceitar as internações, superar a ‘loucura’, e,
as crises alcoólicas. E produzir uma obra literária densa e qualitativamente
repleta de literalidade, que é um legado da Literatura Portuguesa, para todo o
sempre. Lido até hoje no século XXI, dado, por exemplo, a universalidade deste
clássico que é O cemitério dos vivos, entre
outras narrativas, contos, romances, etc.”
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