(““O Medo Consome a Alma”, Alemanha, (“Angst Essen Seele Auf”), (1974))”:
(“O
MICROCOSMOS FASSBINDERIANO DE MELODRAMAS”):
(CRÍTICA
POR RAFAEL VESPASIANO):
““O Medo Consome a Alma”,
Alemanha, (“Angst Essen Seele Auf”),
(1974):
·
INTRODUÇÃO:
“Este é o auge do gênero melodramático na
cinematografia de Rainer Werner Fassbinder, iniciada com mais afinco em “O Mercador das Quatro Estações”, (1971)
-, este filme de 71 foi o primeiro sucesso comercial de Fassbinder, e, serviu
também como ponte entre seus primeiros trabalhos e os melodramas, que o
tornariam conhecido internacionalmente; “O
Mercador das Quatro Estações” é um dos mais simples filmes de Fassbinder, o
mais comovente e direto; aquele que apresenta o seu cosmos fílmico de maneira
mais transparente, porém um Cosmos Cinematográfico sempre complexo.
Se passa, na Munique, dos 1950, Fassbinder
já faz no filme de 1971, a aproximação que faria na ‘Trilogia BDR’ e em “Berlin Alexanderplatz”, por exemplo,
entre o casamento, o comércio e a prostituição, que tem como final, um colapso
trágico circular (coincidindo sempre com o início de cada um de seus filmes),
ou seja, começam-se os filmes com solidão, distância e melancolia e termina da
mesma maneira, ou com: morte, loucura, suicídio, enfim, uma queda passional,
única esperança de redenção das personagens fassbinderianas, em qualquer seja o
filme do cineasta alemão.”
·
RETORNO:
“Voltando a “O Medo Consome a Alma”, 1974, como dizíamos, este filme é o auge
do gênero melodramático na cinematografia de Rainer Werner Fassbinder, o filme
refaz o clássico Tudo o que o céu
Permite, de Douglas Sirk, de 1955. O diretor Fassbinder transfere o
conflito de enredo para a personagem central -, uma senhora alemã branca, de
classe média, viúva, que se envolve amorosamente e se casa com um marroquino
negro, mais jovem, e, passar a enfrentar todo o tipo de preconceito e olhar
torto dos filhos e da sociedade em volta -, o microcosmo fassbinderiano de uma
situação sociopolítica, étnica e preconceituosa, prestes a explodir na
Alemanha.
Neste filme tem-se a perfidez de trabalhos
mais ‘histéricos’ e menos sutis do diretor, porém metamorfoseado em drama
burguês pós-moderno, onde o espectador fica atento tanto ao olhar para o meio
social, e, portanto, de engajamento sociopolítico do cineasta, mas também para
os dramas pessoais do casal protagonista e aqueles com que convivem, as
relações interpessoais e amorosas, portanto.
O impacto de trancamento visual da
personagem de Emmi (Brigitte Mira) quase sempre mostrada em enquadramentos
ladeados por portas e paredes, aprisionada por suas escolhas e sua situação
desafiadora à sociedade alemã de então; ou, a imagem solitária de Ali (El Hedi
bem Salem), também através de portas e grades, quase sempre sentado, quadro
trágico e de marginalização social imposta a figuras como a dele captada por
Fassbinder, naquela Alemanha, que remete ao ‘muro’, de “O Machão”, 1969, vivenciado pelo personagem grego vivido pelo
próprio Rainer Werner Fassbinder, em seu segundo longa-metragem. Mais uma vez
aqui estão o preconceito alemão ao estrangeiro e a xenofobia aos imigrantes, na
Alemanha do Pós-Segunda Guerra Mundial, e, o antiteatro formal do cineasta.
A vivência entre o casal, ao fim, fica
sugerida que pode ser possível, mas marcada pelo elemento paradoxal de uma
dualidade dinâmica sem fim, de que nunca terão paz, em poder conviver em suas
relações amorosas, sem o olhar torto e preconceituoso da sociedade alemã de
então. A relação de Emmi e Ali sempre será marcada de maneira dual pelos
opostos complementares: alegria e tristeza, amor e amargor, vida e morte; esta
é a vida melodramática do melodrama e do universo cinematográfico de
Fassbinder.”
“Próxima crítica será sobre: “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant”
(1972)”.
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