quarta-feira, 19 de outubro de 2016

(““O Medo Consome a Alma”, Alemanha, (“Angst Essen Seele Auf”), (1974))”: (“O MICROCOSMOS FASSBINDERIANO DE MELODRAMAS”)

(““O Medo Consome a Alma”, Alemanha, (“Angst Essen Seele Auf”), (1974))”:

(“O MICROCOSMOS FASSBINDERIANO DE MELODRAMAS”):

(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO):

 ““O Medo Consome a Alma”, Alemanha, (“Angst Essen Seele Auf”), (1974):



·         INTRODUÇÃO:

“Este é o auge do gênero melodramático na cinematografia de Rainer Werner Fassbinder, iniciada com mais afinco em “O Mercador das Quatro Estações”, (1971) -, este filme de 71 foi o primeiro sucesso comercial de Fassbinder, e, serviu também como ponte entre seus primeiros trabalhos e os melodramas, que o tornariam conhecido internacionalmente; “O Mercador das Quatro Estações” é um dos mais simples filmes de Fassbinder, o mais comovente e direto; aquele que apresenta o seu cosmos fílmico de maneira mais transparente, porém um Cosmos Cinematográfico sempre complexo.
Se passa, na Munique, dos 1950, Fassbinder já faz no filme de 1971, a aproximação que faria na ‘Trilogia BDR’ e em “Berlin Alexanderplatz”, por exemplo, entre o casamento, o comércio e a prostituição, que tem como final, um colapso trágico circular (coincidindo sempre com o início de cada um de seus filmes), ou seja, começam-se os filmes com solidão, distância e melancolia e termina da mesma maneira, ou com: morte, loucura, suicídio, enfim, uma queda passional, única esperança de redenção das personagens fassbinderianas, em qualquer seja o filme do cineasta alemão.”

·         RETORNO:

“Voltando a “O Medo Consome a Alma”, 1974, como dizíamos, este filme é o auge do gênero melodramático na cinematografia de Rainer Werner Fassbinder, o filme refaz o clássico Tudo o que o céu Permite, de Douglas Sirk, de 1955. O diretor Fassbinder transfere o conflito de enredo para a personagem central -, uma senhora alemã branca, de classe média, viúva, que se envolve amorosamente e se casa com um marroquino negro, mais jovem, e, passar a enfrentar todo o tipo de preconceito e olhar torto dos filhos e da sociedade em volta -, o microcosmo fassbinderiano de uma situação sociopolítica, étnica e preconceituosa, prestes a explodir na Alemanha.
Neste filme tem-se a perfidez de trabalhos mais ‘histéricos’ e menos sutis do diretor, porém metamorfoseado em drama burguês pós-moderno, onde o espectador fica atento tanto ao olhar para o meio social, e, portanto, de engajamento sociopolítico do cineasta, mas também para os dramas pessoais do casal protagonista e aqueles com que convivem, as relações interpessoais e amorosas, portanto.
O impacto de trancamento visual da personagem de Emmi (Brigitte Mira) quase sempre mostrada em enquadramentos ladeados por portas e paredes, aprisionada por suas escolhas e sua situação desafiadora à sociedade alemã de então; ou, a imagem solitária de Ali (El Hedi bem Salem), também através de portas e grades, quase sempre sentado, quadro trágico e de marginalização social imposta a figuras como a dele captada por Fassbinder, naquela Alemanha, que remete ao ‘muro’, de “O Machão”, 1969, vivenciado pelo personagem grego vivido pelo próprio Rainer Werner Fassbinder, em seu segundo longa-metragem. Mais uma vez aqui estão o preconceito alemão ao estrangeiro e a xenofobia aos imigrantes, na Alemanha do Pós-Segunda Guerra Mundial, e, o antiteatro formal do cineasta.
A vivência entre o casal, ao fim, fica sugerida que pode ser possível, mas marcada pelo elemento paradoxal de uma dualidade dinâmica sem fim, de que nunca terão paz, em poder conviver em suas relações amorosas, sem o olhar torto e preconceituoso da sociedade alemã de então. A relação de Emmi e Ali sempre será marcada de maneira dual pelos opostos complementares: alegria e tristeza, amor e amargor, vida e morte; esta é a vida melodramática do melodrama e do universo cinematográfico de Fassbinder.”


“Próxima crítica será sobre: “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant” (1972)”.

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