A COMÉDIA
HUMANA-VOLUME I-AO “CHAT-QUI-PELOTE”.
HONORÉ DE BALZAC
“(PRIMEIRA
NOVELA: LITERARIAMENTE DECEPCIONANTE, MAS O INÍCIO DE UMA GRANDE AVENTURA
ROMANESCA).”
(RESENHA POR
RAFAEL VESPASIANO).
“O
escritor francês Honoré de Balzac escreveu
inúmeras novelas e romances, que ao passar dos anos do século XIX, Balzac
resolveu reuni-los de maneira orgânica, numa proposta ousada para a época e até
para os dias atuais – e, reuniu todos os seus romances e novelas em 17 volumes,
sob o título geral de "A Comédia
Humana".
A comédia humana,
em cada volume reúne de cinco a seis romances e/ou novelas; e são estudos ora
de costumes, ora da vida pública, ora da vida privada, ora da vida campesina,
outro momento da vida citadina, militar e ou civil. O escritor reúne tudo isso
em 17 volumes organizados sistematicamente, com o intuito declarado de abordar
a vida burguesa da França do final século XVIII e boa parte do século XIX (a
parte que Balzac vivenciou, descreveu e relatou), pois, sim, seus livros
lembram mais relatórios descritivos objetivos e certidões de cartório, ou de
burocracia pura, em relatar de maneira o mais realística possível a vida
francesa de então (burguesa, do século XIX). Ele concluiu seu trabalho ainda em
vida, fechando um ciclo literário e de vida a que se propôs realizar.
Mas,
a crítica atual, do século XXI, relativiza muito o êxito da sua obra e considera-a
muito datada, inscrevendo-a na transição do Romantismo
(dos quais os livros que são românticos seriam, justamente, os melhores da Comédia Humana) para o “Realismo Científico” (segundo a
expressão do formalista russo do século XX, Roman
Jakobson), aquela serve para, segundo o crítico russo, o romance naturalista. E, como a maioria
dos romances e novelas da Obra é naturalista, A comédia humana, como um todo, ficou datada, segundo os críticos
pós-modernos, pois, a mesma se prende muito a modelos deterministas (Taine), evolucionistas (Darwin), positivistas (Comte),
lembrando até um Zola, de Germinal. Outra
crítica negativa é o estilo geral dos 17 volumes que lembra uma obra taquigráfica,
de pura reprodução copista e burocrática, lembrando um cartório ou um escritor
guarda-livros, que só descreve a realidade pura e simplesmente, de maneira
descritiva e objetiva, mas que verossímil, sem imaginação, ou seja, sem
reinvenção poética e/ou literária, característica principal a que deve se
propor qualquer uma das Artes Humanas, em especial a Literatura.
Contudo,
os mesmo críticos ressaltam a importância de Balzac para a História do romance moderno, para a Literatura
Francesa do século XIX e para o Romantismo-Naturalismo, do qual a Obra não escapa, mas que obtém certo
êxito dentro desta proposta. Em especial nas histórias mais eivadas de Romantismo como escola literária e menos
nas novelas e romances naturalistas.
Já
nos romance nos quais Honoré de Balzac
encontra um equilíbrio entre romantismo e
realismo, mas não tão naturalista-científico,
o escritor francês realiza obras primas como A mulher de trinta anos, Pai Goirot ou Ilusões Perdidas. Já que Balzac realiza romance e novela, dentro
da proposta romântica-realista, de
transição estético-literária mesmo, mas de um
realismo, que Jakobson denominou
de “Realismo Artístico”, que marcaria
as obras de gênios como Machado de Assis,
Dostoiévski, etc.
Os
quais não se prenderam a romance de tese, como Émile Zola ou Aluísio Azevedo, a determinismos de raça, meio,
momento histórico, evolucionismo (darwinismo), mas, por outro lado, Machado e Dostoiévski desenvolveram e revolucionaram o romance moderno, com a reflexão
psicológica verossímil das personagens de seus livros; desenvolveu o fluxo de
consciência das personagens, as digressões, o narrador personativo -
veja-se a obra Madame Bovary, só do
que do francês Flaubert, mas que se
inscreve na mesma linha de tradição literária e estética. Teoria mais tarde
desenvolvida e aperfeiçoada criticamente, no século XX, pelos teóricos da Literatura,
Beda Alleman, Wayne C. Booth e Wolfgang Iser (autor implícito); as conversas e interpelações ao leitor, etc.
(Que
vale o registro não se iniciou com o “Realismo
artístico” do século XIX, mas os escritores
realistas, de meados do século XIX, foram beber na tradição literária do Romantismo Inglês, do final do século
XVIII, em autores, como Laurence Sterne e
Daniel Defoe, etc. Ou em Xavier de Maistre, escritor francês, com seu
romance, Viagem à roda do meu quarto.).
O
crítico Paulo Ronái que organizou A comédia Humana, no Brasil, para as
Edições Globo, é um defensor de Balzac e
sua obra completa. Realizando além da organização, estudos, prefácios,
notas e traduções para a referida publicação, que se encontrava esgotada há
anos, só sendo possível encontra-la em sebos, em edições caríssimas, dada sua
raridade.
Mas
que desde o ano de 2013 está sendo reeditada, pela própria Editora Globo, no
Brasil, nas livrarias, ao poucos, com a mesma organização, porém, revisada, mas
já delineada há anos pelo maior especialista em Honoré de Balzac e em A comédia
Humana, no Brasil, Paulo Ronái.
Já saíram os oito primeiros volumes. E um livro crítico de Ronái. Esperamos, agora, os outros nove volumes.
Por
enquanto só posso falar de dois livros que li do primeiro volume. A novela Ao "Chat-Qui-Pelote", que dá o
pontapé para essa obra “monumental” denominada A comédia humana. A tradução do título desta novela do francês para
o português, primeiro é uma referência à Mansão na qual se passa a obra; já na
tradução livre, significa, mais ou menos: “o gato que(m) brinca com o novelo de
lã”. (http://dicionario.reverso.net/frances-portugues/chat%20qui%20pelote),
último acesso 27/11/2014, às 18h55, quinta-feira.
A
novela extremamente romântica enquanto estilo literário mostra a paixão
arrebatadora entre um homem e uma mulher, que superam as diferenças de classe
social e o fato de o pai da garota não querer o casamento. Contudo, quando se
casam, no começo é só alegria, porém, aos poucos, ele se afasta da esposa,
devido, principalmente, à falta de diálogo, motivada pela diferença de classe
social e de nível de cultura, então ele procura outras mulheres e sua esposa
resolve se separar dele, voltando a morar com seus pais.
Esta
novela mostra bem a estética do escritor Balzac que é da transição do
Romantismo (como visto no começo do relacionamento das duas personagens, amor
forte e verdadeiro), para o Realismo (vide o final da novela, separação do
casal).
Não
se trata de uma excelente novela em termos estético-literários, mas é o começo
para o leitor sentir o “gostinho” de estar iniciando a leitura desta obra gigantesca,
em todos os sentidos - apesar dos defeitos, que já foram relatados, mas que não
tiram os seus méritos ao mesmo tempo -, idealizada e concretizada por Honoré de
Balzac. Que merece ser lida na íntegra e ser discutida, pois, na leitura encontraremos
obras e trechos da obra balzaquiana que são pérolas da Literatura Ocidental em
todos os tempos.”
P.s.1:
“vale ressaltar que alguns romances e novelas continuam e/ou remetem a outros
romances e novelas anteriores, que vêm precedendo na ordem que aparecem durante
os 17 volumes de A comédia humana. Porém,
não são nunca continuações de enredo, mas citações de personagens que
reaparecem em novelas e romances vindouros na sequência dos volumes, mas com
outras funções sociais, ascensão ou decadência, por exemplo. Separados ou ainda
casados. Com filhos ou não; personagens, agora, por outro exemplo, bem mais
velhas que na novela ou romance que elas apareceram, anteriormente. Isso se
pode dá mais de uma vez (repetição de personagem, no caso e retomada de algum “fiapo”
narrativo).”
P.s.2:
“depois postarei um texto sobre a segunda novela do volume 1, já lida, “O Baile
de Sceaux”. E, um texto especial sobre o romance, A mulher de trinta anos, que faz parte do terceiro volume, mas que li à parte, por se tratar de obra
fundamental da Literatura Ocidental. Quem nunca ouviu ou leu a expressão “a
mulher é balzaquiana”, quando a mulher atinge a faixa etária dos trinta anos?”
P.s.3:
“nos próximos posts tentarei colocar algumas citações de teóricos e críticos
literários especialistas em Balzac,
como o citado Ronái.”.
P.s.4:
“vale ressaltar, por fim, que o romance
moderno se esgotaria, no fim do século XIX, quando surge uma obra ímpar e
desafiadora, em sete volumes, Em busca do
tempo perdido, de Marcel Proust, que começa a definir o que seria o romance pós-moderno que apareceria de
fato nos anos 1960 do século XX e que marca nossa contemporaneidade, até os
dias atuais.
Em
Proust, têm-se outras
características, para serem debatidas em outro artigo, questões ligadas ainda
ao Simbolismo, às vanguardas modernistas
do início do século XX e ao próprio romance moderno, mas já apontando rumos
que depois seriam tomados pelos próprios modernistas
de meados do século XX, alguns ainda do fim do século XIX para o início do XX,
como o próprio Proust. Já que sua Obra
foi publicada, no decorrer de muitos anos, espaçadamente, e, alguns volumes,
postumamente - organizados por ele em via ainda, mas que foram editados através
de manuscritos e instruções deixadas por ele a seus familiares, vindo à edição
após a sua morte.
Vale
ainda ressaltar, por fim, que tivemos ainda como obras desafiadoras e
rompedoras dos paradigmas do romance moderno, por exemplo, a epopeia moderna Ulysses, de Joyce.”.
“Bem,
fiquemos por aqui, muita coisa para pensar, discutir, debater e, principalmente,
ser lida por todos nós. Aos poucos, vou publicando sobre as minhas impressões
de cada leitura que eu fizer, fica a minha promessa.”
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