quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A COMÉDIA HUMANA-VOLUME I-AO “CHAT-QUI-PELOTE”. HONORÉ DE BALZAC “(PRIMEIRA NOVELA: LITERARIAMENTE DECEPCIONANTE, MAS O INÍCIO DE UMA GRANDE AVENTURA ROMANESCA).”

A COMÉDIA HUMANA-VOLUME I-AO “CHAT-QUI-PELOTE”.

HONORÉ DE BALZAC

“(PRIMEIRA NOVELA: LITERARIAMENTE DECEPCIONANTE, MAS O INÍCIO DE UMA GRANDE AVENTURA ROMANESCA).”

(RESENHA POR RAFAEL VESPASIANO).


“O escritor francês Honoré de Balzac escreveu inúmeras novelas e romances, que ao passar dos anos do século XIX, Balzac resolveu reuni-los de maneira orgânica, numa proposta ousada para a época e até para os dias atuais – e, reuniu todos os seus romances e novelas em 17 volumes, sob o título geral de "A Comédia Humana".

A comédia humana, em cada volume reúne de cinco a seis romances e/ou novelas; e são estudos ora de costumes, ora da vida pública, ora da vida privada, ora da vida campesina, outro momento da vida citadina, militar e ou civil. O escritor reúne tudo isso em 17 volumes organizados sistematicamente, com o intuito declarado de abordar a vida burguesa da França do final século XVIII e boa parte do século XIX (a parte que Balzac vivenciou, descreveu e relatou), pois, sim, seus livros lembram mais relatórios descritivos objetivos e certidões de cartório, ou de burocracia pura, em relatar de maneira o mais realística possível a vida francesa de então (burguesa, do século XIX). Ele concluiu seu trabalho ainda em vida, fechando um ciclo literário e de vida a que se propôs realizar.

Mas, a crítica atual, do século XXI, relativiza muito o êxito da sua obra e considera-a muito datada, inscrevendo-a na transição do Romantismo (dos quais os livros que são românticos seriam, justamente, os melhores da Comédia Humana) para o “Realismo Científico” (segundo a expressão do formalista russo do século XX, Roman Jakobson), aquela serve para, segundo o crítico russo, o romance naturalista. E, como a maioria dos romances e novelas da Obra é naturalista, A comédia humana, como um todo, ficou datada, segundo os críticos pós-modernos, pois, a mesma se prende muito a modelos deterministas (Taine), evolucionistas (Darwin), positivistas (Comte), lembrando até um Zola, de Germinal. Outra crítica negativa é o estilo geral dos 17 volumes que lembra uma obra taquigráfica, de pura reprodução copista e burocrática, lembrando um cartório ou um escritor guarda-livros, que só descreve a realidade pura e simplesmente, de maneira descritiva e objetiva, mas que verossímil, sem imaginação, ou seja, sem reinvenção poética e/ou literária, característica principal a que deve se propor qualquer uma das Artes Humanas, em especial a Literatura.

Contudo, os mesmo críticos ressaltam a importância de Balzac para a História do romance moderno, para a Literatura Francesa do século XIX e para o Romantismo-Naturalismo, do qual a Obra não escapa, mas que obtém certo êxito dentro desta proposta. Em especial nas histórias mais eivadas de Romantismo como escola literária e menos nas novelas e romances naturalistas.

Já nos romance nos quais Honoré de Balzac encontra um equilíbrio entre romantismo e realismo, mas não tão naturalista-científico, o escritor francês realiza obras primas como A mulher de trinta anos, Pai Goirot ou Ilusões Perdidas. Já que Balzac realiza romance e novela, dentro da proposta romântica-realista, de transição estético-literária mesmo, mas de um realismo, que Jakobson denominou de “Realismo Artístico”, que marcaria as obras de gênios como Machado de Assis, Dostoiévski, etc.

Os quais não se prenderam a romance de tese, como Émile Zola ou Aluísio Azevedo, a determinismos de raça, meio, momento histórico, evolucionismo (darwinismo), mas, por outro lado, Machado e Dostoiévski desenvolveram e revolucionaram o romance moderno, com a reflexão psicológica verossímil das personagens de seus livros; desenvolveu o fluxo de consciência das personagens, as digressões, o narrador personativo - veja-se a obra Madame Bovary, só do que do francês Flaubert, mas que se inscreve na mesma linha de tradição literária e estética. Teoria mais tarde desenvolvida e aperfeiçoada criticamente, no século XX, pelos teóricos da Literatura, Beda Alleman, Wayne C. Booth e  Wolfgang Iser (autor implícito); as conversas e interpelações ao leitor, etc.

(Que vale o registro não se iniciou com o “Realismo artístico” do século XIX, mas os escritores realistas, de meados do século XIX, foram beber na tradição literária do Romantismo Inglês, do final do século XVIII, em autores, como Laurence Sterne e Daniel Defoe, etc. Ou em Xavier de Maistre, escritor francês, com seu romance, Viagem à roda do meu quarto.).  


O crítico Paulo Ronái que organizou A comédia Humana, no Brasil, para as Edições Globo, é um defensor de Balzac e sua obra completa. Realizando além da organização, estudos, prefácios, notas e traduções para a referida publicação, que se encontrava esgotada há anos, só sendo possível encontra-la em sebos, em edições caríssimas, dada sua raridade.

Mas que desde o ano de 2013 está sendo reeditada, pela própria Editora Globo, no Brasil, nas livrarias, ao poucos, com a mesma organização, porém, revisada, mas já delineada há anos pelo maior especialista em Honoré de Balzac e em A comédia Humana, no Brasil, Paulo Ronái. Já saíram os oito primeiros volumes. E um livro crítico de Ronái. Esperamos, agora, os outros nove volumes.   

Por enquanto só posso falar de dois livros que li do primeiro volume. A novela Ao "Chat-Qui-Pelote", que dá o pontapé para essa obra “monumental” denominada A comédia humana. A tradução do título desta novela do francês para o português, primeiro é uma referência à Mansão na qual se passa a obra; já na tradução livre, significa, mais ou menos: “o gato que(m) brinca com o novelo de lã”. (http://dicionario.reverso.net/frances-portugues/chat%20qui%20pelote), último acesso 27/11/2014, às 18h55, quinta-feira.


A novela extremamente romântica enquanto estilo literário mostra a paixão arrebatadora entre um homem e uma mulher, que superam as diferenças de classe social e o fato de o pai da garota não querer o casamento. Contudo, quando se casam, no começo é só alegria, porém, aos poucos, ele se afasta da esposa, devido, principalmente, à falta de diálogo, motivada pela diferença de classe social e de nível de cultura, então ele procura outras mulheres e sua esposa resolve se separar dele, voltando a morar com seus pais.

Esta novela mostra bem a estética do escritor Balzac que é da transição do Romantismo (como visto no começo do relacionamento das duas personagens, amor forte e verdadeiro), para o Realismo (vide o final da novela, separação do casal).

Não se trata de uma excelente novela em termos estético-literários, mas é o começo para o leitor sentir o “gostinho” de estar iniciando a leitura desta obra gigantesca, em todos os sentidos - apesar dos defeitos, que já foram relatados, mas que não tiram os seus méritos ao mesmo tempo -, idealizada e concretizada por Honoré de Balzac. Que merece ser lida na íntegra e ser discutida, pois, na leitura encontraremos obras e trechos da obra balzaquiana que são pérolas da Literatura Ocidental em todos os tempos.”



P.s.1: “vale ressaltar que alguns romances e novelas continuam e/ou remetem a outros romances e novelas anteriores, que vêm precedendo na ordem que aparecem durante os 17 volumes de A comédia humana. Porém, não são nunca continuações de enredo, mas citações de personagens que reaparecem em novelas e romances vindouros na sequência dos volumes, mas com outras funções sociais, ascensão ou decadência, por exemplo. Separados ou ainda casados. Com filhos ou não; personagens, agora, por outro exemplo, bem mais velhas que na novela ou romance que elas apareceram, anteriormente. Isso se pode dá mais de uma vez (repetição de personagem, no caso e retomada de algum “fiapo” narrativo).”

P.s.2: “depois postarei um texto sobre a segunda novela do volume 1, já lida, “O Baile de Sceaux”. E, um texto especial sobre o romance, A mulher de trinta anos, que faz parte do terceiro volume, mas que li à parte, por se tratar de obra fundamental da Literatura Ocidental. Quem nunca ouviu ou leu a expressão “a mulher é balzaquiana”, quando a mulher atinge a faixa etária dos trinta anos?”

P.s.3: “nos próximos posts tentarei colocar algumas citações de teóricos e críticos literários especialistas em Balzac, como o citado Ronái.”.

P.s.4: “vale ressaltar, por fim, que o romance moderno se esgotaria, no fim do século XIX, quando surge uma obra ímpar e desafiadora, em sete volumes, Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, que começa a definir o que seria o romance pós-moderno que apareceria de fato nos anos 1960 do século XX e que marca nossa contemporaneidade, até os dias atuais.

Em Proust, têm-se outras características, para serem debatidas em outro artigo, questões ligadas ainda ao Simbolismo, às vanguardas modernistas do início do século XX e ao próprio romance moderno, mas já apontando rumos que depois seriam tomados pelos próprios modernistas de meados do século XX, alguns ainda do fim do século XIX para o início do XX, como o próprio Proust. Já que sua Obra foi publicada, no decorrer de muitos anos, espaçadamente, e, alguns volumes, postumamente - organizados por ele em via ainda, mas que foram editados através de manuscritos e instruções deixadas por ele a seus familiares, vindo à edição após a sua morte.

Vale ainda ressaltar, por fim, que tivemos ainda como obras desafiadoras e rompedoras dos paradigmas do romance moderno, por exemplo, a epopeia moderna Ulysses, de Joyce.”.  




“Bem, fiquemos por aqui, muita coisa para pensar, discutir, debater e, principalmente, ser lida por todos nós. Aos poucos, vou publicando sobre as minhas impressões de cada leitura que eu fizer, fica a minha promessa.” 

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