domingo, 9 de novembro de 2014

DIÁRIO DO FAROL JOÃO UBALDO RIBEIRO: “(O confessável só em memórias guardadas para si.).”

DIÁRIO DO FAROL

JOÃO UBALDO RIBEIRO:

“(O confessável só em memórias guardadas para si.).”

(Breve Análise por Rafael Vespasiano Ferreira de Lima).

(Escrevi este texto em 2006, João Ubaldo ainda era vivo, revisei em 2014, quando do falecimento de Ubaldo.).


“João Ubaldo Ribeiro é um escritor contemporâneo da Literatura Brasileira. Baiano. Já é Imortal da Academia Brasileira de Letras. Publicou livros que já são considerados clássicos da nossa Literatura, casos de “Sargento Getúlio” (que virou filme protagonizado por Lima Duarte) e de sua obra-prima, por enquanto, já que Ubaldo ainda é vivo, “Viva o Povo Brasileiro”. Por enquanto, li apenas um dos seus livros mais recentes (e polêmico!), publicado em 2002, “Diário do Farol”. Livro forte, pesado, mas reflexivo. O protagonista-narrador (que em nenhum momento revela seu nome verdadeiro) mora numa ilha e é o faroleiro dela. Vive sozinho e recluso, então resolve escrever, já velho, suas memórias, mas já vai assumindo e reconhecendo, que é um mau-caráter, desprovido de consideração pelas pessoas, que não presta, que é solitário (gosta da solidão, tanto que até já se acostumou com ela), é insociável, misantropo, não gosta da companhia de ninguém, é vaidoso, orgulhoso, com um ego inflado, egocêntrico, egoísta, individualista, com um grande, excessivo e doentio amor-próprio, enfim, ele é mau e amoral.

 Todos esses defeitos, ele assume e reconhece para si, mas à medida que ele escreve suas memórias, o leitor percebe as causas de tamanha ruindade numa única pessoa, o que determinou tamanho mau-caratismo.

Ele diz que o Bem e o Mal não são opostos, mas, pelo contrário, podem se complementar numa mesma pessoa, no caso, por exemplo, ele mesmo, que é mau para muitos, mas para alguns, que ele consegue iludir, com suas boas ações (mas que têm segundas intenções escondidas e que só são feitas dadas as aparências e conveniências, que ele quer manter e/ou possuir), ele é um homem bom, um verdadeiro “santo”, segundo algumas pessoas chegam a dizem para ele, iludidas pelas suas “boas ações”, o que confirma sua teoria que o Bem e o Mal coexistem no mesmo ser.

 Além dele sempre afirmar que não se deve confiar em ninguém, ele é o próprio exemplo disso, já que as pessoas pensam que ele está ajudando-lhas, mas que na verdade ele está as apunhalando pelas costas, ou senão as prejudica direta ou indiretamente, prejudica a terceiros, que são objetos de sua ojeriza e, portanto, da sua vingança também, mostrando que “não se deve confiar em ninguém” (epígrafe do romance). Vale a pena ler esse brilhante romance, que apesar de prosaico, é bastante reflexivo sobre a condição  humana, sobre os “porões” da alma.

O protagonista/narrador/escritor, de certa forma, denuncia os absurdos que ocorrem nos seminários, como por exemplo: padre tendo relações sexuais com seminaristas, ou com outros padres, ou seminaristas com colegas de seminário, sexo com animais, violência, humilhações, interesses, chantagens, promiscuidades, etc., ou seja, tudo que a Igreja condena ou tem como dogma, no caso do celibato e do homossexualidade.

Outra reflexão do romance é sobre as arbitrariedades e absurdos do Golpe de 64 e da Ditadura Militar, que se seguiu e, o protagonista se aproveita dos absurdos gerados e produzidos pela Ditadura, para viabilizar e concretizar seus planos maldosos de vingança. O protagonista também faz algumas interessantes reflexões sobre a arte de escrever e a profissão de escritor.

Bom romance da Literatura Brasileira Contemporânea! Viva Ubaldo!”.


Data da revisão do texto: 23/07/2014, às 19h25. Por Rafael Vespasiano.

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