DIÁRIO DO FAROL
JOÃO UBALDO
RIBEIRO:
“(O confessável
só em memórias guardadas para si.).”
(Breve
Análise por Rafael Vespasiano Ferreira de Lima).
(Escrevi
este texto em 2006, João Ubaldo ainda era vivo, revisei em 2014, quando do falecimento
de Ubaldo.).
“João
Ubaldo Ribeiro é um escritor contemporâneo da Literatura Brasileira. Baiano. Já
é Imortal da Academia Brasileira de Letras. Publicou livros que já são
considerados clássicos da nossa Literatura, casos de “Sargento Getúlio” (que
virou filme protagonizado por Lima Duarte) e de sua obra-prima, por enquanto,
já que Ubaldo ainda é vivo, “Viva o Povo Brasileiro”. Por enquanto, li apenas
um dos seus livros mais recentes (e polêmico!), publicado em 2002, “Diário do
Farol”. Livro forte, pesado, mas reflexivo. O protagonista-narrador (que em
nenhum momento revela seu nome verdadeiro) mora numa ilha e é o faroleiro dela.
Vive sozinho e recluso, então resolve escrever, já velho, suas memórias, mas já
vai assumindo e reconhecendo, que é um mau-caráter, desprovido de consideração
pelas pessoas, que não presta, que é solitário (gosta da solidão, tanto que até
já se acostumou com ela), é insociável, misantropo, não gosta da companhia de
ninguém, é vaidoso, orgulhoso, com um ego inflado, egocêntrico, egoísta,
individualista, com um grande, excessivo e doentio amor-próprio, enfim, ele é
mau e amoral.
Todos esses defeitos, ele assume e reconhece
para si, mas à medida que ele escreve suas memórias, o leitor percebe as causas
de tamanha ruindade numa única pessoa, o que determinou tamanho mau-caratismo.
Ele diz que
o Bem e o Mal não são opostos, mas, pelo contrário, podem se complementar numa
mesma pessoa, no caso, por exemplo, ele mesmo, que é mau para muitos, mas para
alguns, que ele consegue iludir, com suas boas ações (mas que têm segundas
intenções escondidas e que só são feitas dadas as aparências e conveniências,
que ele quer manter e/ou possuir), ele é um homem bom, um verdadeiro “santo”,
segundo algumas pessoas chegam a dizem para ele, iludidas pelas suas “boas
ações”, o que confirma sua teoria que o Bem e o Mal coexistem no mesmo ser.
Além dele sempre afirmar que não se deve
confiar em ninguém, ele é o próprio exemplo disso, já que as pessoas pensam que
ele está ajudando-lhas, mas que na verdade ele está as apunhalando pelas
costas, ou senão as prejudica direta ou indiretamente, prejudica a terceiros,
que são objetos de sua ojeriza e, portanto, da sua vingança também, mostrando
que “não se deve confiar em ninguém” (epígrafe do romance). Vale a pena ler
esse brilhante romance, que apesar de prosaico, é bastante reflexivo sobre a
condição humana, sobre os “porões” da
alma.
O
protagonista/narrador/escritor, de certa forma, denuncia os absurdos que
ocorrem nos seminários, como por exemplo: padre tendo relações sexuais com
seminaristas, ou com outros padres, ou seminaristas com colegas de seminário,
sexo com animais, violência, humilhações, interesses, chantagens,
promiscuidades, etc., ou seja, tudo que a Igreja condena ou tem como dogma, no
caso do celibato e do homossexualidade.
Outra
reflexão do romance é sobre as arbitrariedades e absurdos do Golpe de 64 e da
Ditadura Militar, que se seguiu e, o protagonista se aproveita dos absurdos
gerados e produzidos pela Ditadura, para viabilizar e concretizar seus planos
maldosos de vingança. O protagonista também faz algumas interessantes reflexões
sobre a arte de escrever e a profissão de escritor.
Bom romance
da Literatura Brasileira Contemporânea! Viva Ubaldo!”.
Data da
revisão do texto: 23/07/2014, às 19h25. Por Rafael Vespasiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário