CECÍLIA MEIRELLES - VIDA
E OBRA:
"(A poetisa das sutilezas.)"
(RESENHA POR RAFAEL VESPASIANO).
Introdução:
“Cecília Meirelles é, para muitos
críticos e historiadores literários, uma das maiores escritoras brasileiras.
Uma brilhante poetisa. Uma das autoras mais importantes da literatura em Língua
Portuguesa.
Biografia:
Cecília nasceu no Rio de Janeio em 1901 e
faleceu na mesma cidade, no ano de 1964. Passou a infância no Rio junto à avó
materna, açoriana. Formando-se professora primária, dedicou-se por longos anos
ao magistério, de que foi fruto o belíssimo livro para curso primário Criança, Meu Amor. No início da sua
carreira literária aproximou-se do grupo de Festa
dirigido por Tasso da Silveira. Anos depois, prefiriria trilhar caminhos
pessoais, mais modernos. Ensinou Literatura Brasileira nas Universidades do
Distrito federal (1936-38) e do Texas (1940). Viajou longamente pelos países de
sua predileção, México, Índia e sobretudo Portugal, onde viu reconhecido o seu
mérito antes mesmo de consagrar-se no Brasil como uma das maiores vozes
poéticas da língua portuguesa contemporânea. (Trecho extraído de História Concisa da Literatura Brasileira de
Alfredo Bosi, 1994).
Características
Estilísticas:
Cecília é uma poetisa de cunho intimista,
que produziu poemas que chegam aos limites da música abstrata. A escritora
distancia-se da realidade imediata e direciona os processos imagéticos para a
sombra, para o sentimento da ausência e do nada.
Mesmo Cecília ligada ao grupo Festa, no início da carreira literária,
segundo Alfredo Bosi, não se deve relacioná-la ao neo-simbolismo que aquele
grupo pregava, pois Cecília renegaria essa fase inicial da carreira, ao excluir
os livros desse período da sua Obra
Poética. Porém é inegável, que a escritora cultuava Cruz e Sousa e
Alphonsus de Guimaraens, e há influências nítidas deles nos primeiros versos da
escritora, então na penumbra. Mas, vale ressaltar, que das propostas do grupo Festa, nada restou na temática da
poetisa, salvo, talvez, certo tradicionalismo nas opções estéticas da
maturidade.
Para Cecília, “a poesia é grito, mas
transfigurado” e, a transfiguração faz-se no plano da expressividade, e a
escritora sempre foi atenta à riqueza do léxico e dos ritmos portugueses, tendo
sido talvez, nas palavras de Bosi (1994), o poeta moderno que modulou com mais
felicidade os metros breves.
Cecília Meirelles preferiu algumas vezes
o uso dos versos livres, porém, sempre os usando para expressar um tom de fuga
e de sonho, temas fundamentais que acompanham toda sua lírica.
Obras:
Cecília Meirelles estreou com Espectros (1919), coleção de sonetos de
cunho parnasiano, a maioria sobre nomes importantes da História.
Em 1923, publicou Nunca mais... e Poema dos
poemas, livro de tom decadente, cuja primeira parte é medida e rimada; na
segunda, sonha com a vinda do eleito, em versos curtos, sem rima, aparentemente
livres.
Viagem
(1939), premiado pela Academia Brasileira de Letras em 1937, confirma sua
capacidade lírica e técnica, como inovadora pelo que sua poesia ostenta de
compreensão total do mundo e da vida. Seu canto que transita entre a
simplicidade das trovas ao mais denso hermetismo nalgumas composições, é algo
de ascético, desalentado e desesperançoso.
Como a vida da poetisa foi, em
determinado momento, marcada por situações trágicas, não é de se admirar que os
versos de Cecília Meirelles mostrem, por vezes, certa exaustão, certa
impossibilidade de ainda alegrar-se ou entristecer-se, certo aturdimento que
quase equivale a ceticismo.
Tecnicamente, a poesia de Viagem, voz grave da vida, do sentimento
e do espírito, espalhando cinzas sobre o mundo, revela domínio do verso
metrificado ou livre, singularizando-a, ainda, o uso frequente da assonância –
processo adotado pela escritora no resto de sua carreira literária.
Outros livros de destaque de Cecília
Meirelles são: Mar absoluto (1945), Retrato natural (1949). Amor em Leonoreta (1952) e logo depois Doze noturnos da Holanda e O aeronauta (1952) – coleção de poemas
gerados por experiências de viagem e de voo. Publica o Romanceiro da Inconfidência (1953, ver box). Ainda publicou, Pequeno oratório de Santa Clara (1955),
no qual narra os principais fatos da vida da santa, em virtude das comemorações
do sétimo centenário de Clara. No ano de 1955, foram publicados também: Pistóia e Espelho cego, seguindo-se Canções
(1956) e Romance de Santa Cecília (1957). Obra poética (1958) traz todos os livros
anteriores, exceto os três primeiros, e inclui inéditos. Metal rosicler sairia depois (1960), bem como Poemas escritos na Índia (1961). Nalgumas composições de Solombra (1963) tende tanto para o pó,
que não se sabe se ela imagina a morte ou se de fato a vive em espírito.”
ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA – CECÍLIA
MEIRELES:
“Romanceiro
da Inconfidência” é um poema épico/lírico belíssimo, que por meio de
pequenos poemas conta, resgata e louva o movimento conhecido como Inconfidência
Mineira, fato importantíssimo da História Brasileira.
O eu-lírico exalta muito a figura do
alferes Tiradentes, mais que as dos outros inconfidentes, já que para o
eu-lírico, Tiradentes era o mais dedicado ao movimento de independência
política da colônia brasileira em relação à metrópole portuguesa e, mostra
muito bem que foi ele o que sofreu mais com a retaliação portuguesa, servindo,
como deixa a entender o eu-lírico, como bode expiatório de todo movimento, até
mesmo por ser o mais pobre dos rebeldes, recebendo uma pena severa de
enforcamento, esquartejamento e tendo os “pedaços” do seu cadáver expostos em
vários lugares de Vila Rica (atual Ouro Preto), onde se deu o movimento
inconfidente.
Enquanto os outros revoltosos tiveram
penas mais brandas, como exemplo, podem-se citar os poetas-inconfidentes Tomás Antônio Gonzaga (degredo para
Moçambique), no livro, a poetisa, por meio do eu-lírico, mostra muito bem os
aspectos da obra mais importante daquele poeta, “Marília de Dirceu”; outro poeta-inconfidente, Alvarenga Peixoto é preso e degredado, o eu-lírico também mostra de
forma bastante expressiva, a paixão daquele (no caso, o Pastor Árcade) por
Bárbara, que era sua Musa Inspiradora; outro poeta-inconfidente é Cláudio Manoel da Costa, que é preso e
segundo os relatos oficiais, suicidou na prisão, mas corre também a versão de
que ele foi assassinado.
Cecília mostra todo esse conteúdo
histórico, de forma poética, de rara beleza na literatura brasileira, uma
obra-prima e ímpar. Os versos rimam belissimamente, sem exageros e sem rimas
forçadas, os versos são de uma sutileza lírica, enfim.
Cecília também mostra outros aspectos
históricos da época, eis alguns: as figuras de Chica da Silva, de Chico Rei, de
Maria I, a Louca, a do traidor Joaquim Silvério, entre outras. Mostra muito bem
o auge e a decadência do Ciclo do Ouro (prata, diamantes e pedras preciosas,
por tabela), que modificou a vida de Minas Gerais, no século XVIII.
Aborda também a figura do mítico Rio das
Mortes, no qual eram minerados os metais preciosos, entre outros fatos. Mas
nunca a autora cai no pedantismo dos livros e das aulas de História, o “Romanceiro da Inconfidência” é todo ele
um belíssimo poema em louvor e em homenagem a todos os inconfidentes que
lutaram pela liberdade do nosso país, em especial, o alferes Tiradentes!”.
Conclusão:
“Na visão de Péricles Eugênio da Silva Ramos (em artigo
reunido no volume cinco d´A Literatura no Brasil, organizada por Afrânio
Coutinho e, publicada entre 1955-1968), o conjunto dos livros, e apenas alguns
deles já chegariam para afirmar que: Cecília Meirelles é a mais alta figura que
já surgiu na poesia feminina brasileira, e, sem distinção de sexo, um dos
grandes nomes de nossa literatura.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário