domingo, 16 de novembro de 2014

CECÍLIA MEIRELLES - VIDA E OBRA: "(A poetisa das sutilezas.)".

CECÍLIA MEIRELLES - VIDA E OBRA:

"(A poetisa das sutilezas.)"

(RESENHA POR RAFAEL VESPASIANO).


 Introdução:

“Cecília Meirelles é, para muitos críticos e historiadores literários, uma das maiores escritoras brasileiras. Uma brilhante poetisa. Uma das autoras mais importantes da literatura em Língua Portuguesa.

 Biografia:

Cecília nasceu no Rio de Janeio em 1901 e faleceu na mesma cidade, no ano de 1964. Passou a infância no Rio junto à avó materna, açoriana. Formando-se professora primária, dedicou-se por longos anos ao magistério, de que foi fruto o belíssimo livro para curso primário Criança, Meu Amor. No início da sua carreira literária aproximou-se do grupo de Festa dirigido por Tasso da Silveira. Anos depois, prefiriria trilhar caminhos pessoais, mais modernos. Ensinou Literatura Brasileira nas Universidades do Distrito federal (1936-38) e do Texas (1940). Viajou longamente pelos países de sua predileção, México, Índia e sobretudo Portugal, onde viu reconhecido o seu mérito antes mesmo de consagrar-se no Brasil como uma das maiores vozes poéticas da língua portuguesa contemporânea. (Trecho extraído de História Concisa da Literatura Brasileira de Alfredo Bosi, 1994).

Características Estilísticas:

Cecília é uma poetisa de cunho intimista, que produziu poemas que chegam aos limites da música abstrata. A escritora distancia-se da realidade imediata e direciona os processos imagéticos para a sombra, para o sentimento da ausência e do nada.

Mesmo Cecília ligada ao grupo Festa, no início da carreira literária, segundo Alfredo Bosi, não se deve relacioná-la ao neo-simbolismo que aquele grupo pregava, pois Cecília renegaria essa fase inicial da carreira, ao excluir os livros desse período da sua Obra Poética. Porém é inegável, que a escritora cultuava Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, e há influências nítidas deles nos primeiros versos da escritora, então na penumbra. Mas, vale ressaltar, que das propostas do grupo Festa, nada restou na temática da poetisa, salvo, talvez, certo tradicionalismo nas opções estéticas da maturidade.

Para Cecília, “a poesia é grito, mas transfigurado” e, a transfiguração faz-se no plano da expressividade, e a escritora sempre foi atenta à riqueza do léxico e dos ritmos portugueses, tendo sido talvez, nas palavras de Bosi (1994), o poeta moderno que modulou com mais felicidade os metros breves.

Cecília Meirelles preferiu algumas vezes o uso dos versos livres, porém, sempre os usando para expressar um tom de fuga e de sonho, temas fundamentais que acompanham toda sua lírica.
   
Obras:

Cecília Meirelles estreou com Espectros (1919), coleção de sonetos de cunho parnasiano, a maioria sobre nomes importantes da História.

Em 1923, publicou Nunca mais... e Poema dos poemas, livro de tom decadente, cuja primeira parte é medida e rimada; na segunda, sonha com a vinda do eleito, em versos curtos, sem rima, aparentemente livres.

Viagem (1939), premiado pela Academia Brasileira de Letras em 1937, confirma sua capacidade lírica e técnica, como inovadora pelo que sua poesia ostenta de compreensão total do mundo e da vida. Seu canto que transita entre a simplicidade das trovas ao mais denso hermetismo nalgumas composições, é algo de ascético, desalentado e desesperançoso.

Como a vida da poetisa foi, em determinado momento, marcada por situações trágicas, não é de se admirar que os versos de Cecília Meirelles mostrem, por vezes, certa exaustão, certa impossibilidade de ainda alegrar-se ou entristecer-se, certo aturdimento que quase equivale a ceticismo.

Tecnicamente, a poesia de Viagem, voz grave da vida, do sentimento e do espírito, espalhando cinzas sobre o mundo, revela domínio do verso metrificado ou livre, singularizando-a, ainda, o uso frequente da assonância – processo adotado pela escritora no resto de sua carreira literária.

Outros livros de destaque de Cecília Meirelles são: Mar absoluto (1945), Retrato natural (1949). Amor em Leonoreta (1952) e logo depois Doze noturnos da Holanda e O aeronauta (1952) – coleção de poemas gerados por experiências de viagem e de voo. Publica o Romanceiro da Inconfidência (1953, ver box). Ainda publicou, Pequeno oratório de Santa Clara (1955), no qual narra os principais fatos da vida da santa, em virtude das comemorações do sétimo centenário de Clara. No ano de 1955, foram publicados também: Pistóia e Espelho cego, seguindo-se Canções (1956) e Romance  de Santa Cecília (1957). Obra poética (1958) traz todos os livros anteriores, exceto os três primeiros, e inclui inéditos. Metal rosicler sairia depois (1960), bem como Poemas escritos na Índia (1961). Nalgumas composições de Solombra (1963) tende tanto para o pó, que não se sabe se ela imagina a morte ou se de fato a vive em espírito.”


ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA – CECÍLIA MEIRELES:


“Romanceiro da Inconfidência” é um poema épico/lírico belíssimo, que por meio de pequenos poemas conta, resgata e louva o movimento conhecido como Inconfidência Mineira, fato importantíssimo da História Brasileira.

O eu-lírico exalta muito a figura do alferes Tiradentes, mais que as dos outros inconfidentes, já que para o eu-lírico, Tiradentes era o mais dedicado ao movimento de independência política da colônia brasileira em relação à metrópole portuguesa e, mostra muito bem que foi ele o que sofreu mais com a retaliação portuguesa, servindo, como deixa a entender o eu-lírico, como bode expiatório de todo movimento, até mesmo por ser o mais pobre dos rebeldes, recebendo uma pena severa de enforcamento, esquartejamento e tendo os “pedaços” do seu cadáver expostos em vários lugares de Vila Rica (atual Ouro Preto), onde se deu o movimento inconfidente.

Enquanto os outros revoltosos tiveram penas mais brandas, como exemplo, podem-se citar os poetas-inconfidentes Tomás Antônio Gonzaga (degredo para Moçambique), no livro, a poetisa, por meio do eu-lírico, mostra muito bem os aspectos da obra mais importante daquele poeta, “Marília de Dirceu”; outro poeta-inconfidente, Alvarenga Peixoto é preso e degredado, o eu-lírico também mostra de forma bastante expressiva, a paixão daquele (no caso, o Pastor Árcade) por Bárbara, que era sua Musa Inspiradora; outro poeta-inconfidente é Cláudio Manoel da Costa, que é preso e segundo os relatos oficiais, suicidou na prisão, mas corre também a versão de que ele foi assassinado.

Cecília mostra todo esse conteúdo histórico, de forma poética, de rara beleza na literatura brasileira, uma obra-prima e ímpar. Os versos rimam belissimamente, sem exageros e sem rimas forçadas, os versos são de uma sutileza lírica, enfim.

Cecília também mostra outros aspectos históricos da época, eis alguns: as figuras de Chica da Silva, de Chico Rei, de Maria I, a Louca, a do traidor Joaquim Silvério, entre outras. Mostra muito bem o auge e a decadência do Ciclo do Ouro (prata, diamantes e pedras preciosas, por tabela), que modificou a vida de Minas Gerais, no século XVIII.

Aborda também a figura do mítico Rio das Mortes, no qual eram minerados os metais preciosos, entre outros fatos. Mas nunca a autora cai no pedantismo dos livros e das aulas de História, o “Romanceiro da Inconfidência” é todo ele um belíssimo poema em louvor e em homenagem a todos os inconfidentes que lutaram pela liberdade do nosso país, em especial, o alferes Tiradentes!”.


Conclusão:



“Na visão de Péricles Eugênio da Silva Ramos (em artigo reunido no volume cinco d´A Literatura no Brasil, organizada por Afrânio Coutinho e, publicada entre 1955-1968), o conjunto dos livros, e apenas alguns deles já chegariam para afirmar que: Cecília Meirelles é a mais alta figura que já surgiu na poesia feminina brasileira, e, sem distinção de sexo, um dos grandes nomes de nossa literatura.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário