ELA, DE SPIKE JONZE:
“(UM FUTURO DISTÓPICO, MAS TÃO REAL
OU VIRTUAL?!...).”
(CRÍTICA POR RAFAEL VESPASIANO).
“ELA”,
escrito e dirigido pelo original cineasta Spike
Jonze, de filmes memoráveis em termos de inventividade no roteiro e na
direção, como “Quero ser John Malkovich”
e “Adaptação”, ambos roteirizados
pelo genial Charlie Kaufman, que
dirigiu e roteirizou seu primeiro longa-metragem, com sucesso, em “Sinédoque, Nova York”, com Philip Seymour Hoffman, aquele filme
subestimado equivocadamente.
“Ela”,
Jonze roteiriza e dirige um projeto
ousado, que ganhou vários prêmios, inclusive o Oscar de Melhor Roteiro Original
(em 2013), merecidamente, por sinal. Vale a pena afirmar de antemão que tanto Kaufman quanto Spike Jonze são cineastas
e roteiristas que sempre empregam em seus filmes: a metalinguagem. E, em “Ela”, Jonze não faz por menos, além de usar vários interdiscurso e
intertextualidades. Enfim, referências e conteúdos que ficam latentes na mente
do espectador por horas, após a sessão, pois “Ela” é um filme para pensar e refletir até teses de doutorado.
O filme protagonizado
por Joaquin Phoenix, em mais uma
brilhante atuação, basta citar entre outros estupendos trabalhos como ator, “Johnny e June”, “O Mestre”, de Paul Thomas
Anderson, no qual trava um duelo de interpretações com outro talentoso
ator, Hoffman, falecido recentemente;
e, agora, em um mais belo desempenho, vivendo um sujeito antissocial,
solitário, vazio, sem sentido existencial (em crise).
Sua personagem vive
numa Los Angeles futurista (mas não tão distante de nossas realidades do século
XXI, 2014), um futuro distópico – lembro logo de distopias literárias, tais
como: A revolução dos bichos e 1984, ambas de George Orwell, que tratam de desmandos ditatoriais políticos sobre
as massas populares; Admirável mundo novo,
de Aldous Huxley, um futuro sem
emoções, asséptico; e, por fim, Fahrenheit
451, de Ray Bradbury, no qual os
livros são proibidos e queimados pelos bombeiros censores, mas cumpridores
apenas de ordens superiores -, o primeiro, o segundo e o quarto romances
viraram grandes adaptações cinematográficas, em especial 1984 e Fahrenheit
451, adaptado, este último para as telonas por Truffaut, com excelente atuação de Oskar Werner. Vale lembrar que A revolução dos bichos tem,
inclusive, uma adaptação excelente como desenho animado, fiel ao espírito do
livro de Orwell.
“Ela”
é uma distopia cinematográfica, mas bem verossímil em relação à realidade em
que vivemos atualmente, só que no filme Spike
Jonze leva aos limites extremos, de cada um vivendo em seu mundinho fechado
(diferente de hoje?); as realidades super-individualizadas e individualizantes
(uma pessoa morando, em um apartamento, sozinha, cheia de equipamentos e
tecnologias de redes sociais?!); cada um com seu iphone, com sua tecnologia
virtual, aplicativos e mais aplicativos tecnológicos substitutos das interações
sociais reais; tudo passa a ser virtual (vida real versus vida virtual, esta
ganhando a luta), tudo artificial, com máquinas programadas para interagir com
seres humanos como se fossem humanas de fato. A interação real e socializante
fica relegada a segundo plano, se tanto.
Fones-de-ouvido que as
pessoas usam nas ruas escutando suas músicas e sistemas operacionais, isoladas
no meio da multidão; uma Professora que me deu aulas de Análise de Discurso, na
Graduação de Letras, falou que ela imaginava nos anos 70 do século XX, junto
com vários intelectuais da época que propagavam, que brevemente, começaríamos a
falar sozinhos nas ruas, parece que se tornou real/virtual (telefones celulares
e cabos de celular com fone ouvido e microfone, certo?).
O futuro distópico de “Ela” é gritante e é HOJE.
Pós-Moderno e líquido e fluido como defende o
sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, em
seu famoso livro, Modernidade Líquida,
uma citação deste livro é bastante pertinente para esta crítica: “‘Não fale com
estranhos’” – outrora uma advertência de pais zelosos a seus pobres filhos –
tornou-se o preceito estratégico da normalidade adulta” (BAUMAN, 2001, p. 127),
Pós-Moderna, ou modernidade líquida,
segundo Bauman.
Inter-relações fluidas
e líquidas, pois todos nós somos estranhos aos outros e a si mesmos. Outro
filme interessante para ver e refletir sobre as relações pós-modernas é The Bling Ring, de Sofia Copolla, só
que sob outro viés e, já abordado neste blog, em crítica publicada na data de
08/11/2014, ver também a crítica sobre a Tetralogia
da Incomunicabilidade, conjunto de filmes realizados pelo cineasta italiano
Antonioni, artigo também neste blog,
postado no dia 21/10/2014.
Abordemos agora o “par
romântico” da personagem de Joaquin
Phoenix, o sistema operacional e virtual, Samantha (voz de Scarlett
Johansson, excelente atuação pós-moderna, só pela voz, são os tempos do cinema
do século XXI - basta lembrar Andy Serkis,
na Trilogia de Peter Jackson, O Senhor dos Anéis, baseado nos livros
de Tolkien -, à época foi ventilada
uma indicação ao Oscar para Serkis
pela captura de desempenho da personagem Gollum
realizada por ele e milhares de efeitos especiais e computadores).
A personagem solitária
e divagadora vivida por Phoenix
apaixona-se, tão e somente, pela voz de Samantha,
uma máquina “inteligente” e “com sentimentos”, esquecendo-se de um possível affair com a “mulher real”, Cathy, interpretada pela atriz Amy Adams. Enfim, tempos de Amor Líquido, título de outro livro do
sociólogo Zygmunt Bauman, lançado em
primeira edição no ano de 2003.
Um livro que com o seu
subtítulo diz tudo em relação ao hoje e/ou futuro distópico de “Ela”: “Sobre a fragilidade dos laços
humanos”. No prefácio, Bauman afirma:
Talvez a própria
ideia de ‘relacionamento’ contribua para essa confusão [a questão de pôr fim a
uma relação]. Apesar da firmeza que caracteriza as tentativas dos infelizes
caçadores de relacionamentos e seus especialistas, essa noção resiste a ser
plena e verdadeiramente purgada de suas conotações perturbadoras e
preocupantes. Permanece cheia de ameaças vagas e premonições sombrias; fala ao
mesmo tempo dos prazeres do convívio e dos horrores da clausura. Talvez seja
por isso que, em vez de relatar suas experiências e expectativas utilizando
termos como ‘relacionar-se’ e ‘relacionamentos’, as pessoas falem cada vez mais
(auxiliadas e conduzidas pelos doutos especialistas) em conexões, ou ‘conectar-se’ e ‘ser conectado’. Em vez de parceiros,
preferem falar em ‘redes’. Quais são
os méritos da linguagem da ‘conectividade’ que estariam ausentes da linguagem
dos ‘relacionamentos’? [grifos meus] (BAUMAN, 2004, p. 11-12).
As “premonições
sombrias” tornaram-se realidade real e/ou virtual no futuro distópico de “Ela”, ou foi no nosso dia-a-dia?!...
Essas são os
mal-estares da Pós-Modernidade, que Bauman analisa e reflete em O mal-estar da pós-modernidade (1998) e
Modernidade e ambivalência (1999).
“Ambivalência”, este vocábulo define bem o futuro distópico de Spike Jonze, pois: humanos e não humanos
(máquinas); real e virtual; convívio e isolamento, etc., essa é a dialética, a
dualidade dinâmica, mas “sombria” de um futuro-presente melancólico, solitário,
evasivo, escapista, sem prospecção de um porvir esperançoso ou redentor, ou
“meramente” de deviniência, apenas o filme de Jonze nos mostra (e alerta!) para o início do fim das relações
sociais, amorosas e interpessoais “humanas”, strictu sensu, e, para o fim da Sociedade e da Humanidade.
Pesadelo, o que era Sonho, mas não apenas virtual, mas possível e REAL.
Alguns artistas da
música popular brasileira, em especial do pop/rock já veem nos alertando também
para esse conjunto de questões analisadas por Spike Jonze em seu filme de 2013, “Ela”. Pois vejamos algumas letras de músicas como as da cantora Pitty: no CD, de 2003, Admirável chip novo, na música que dá
título ao álbum, a compositora Pitty
é taxativa (lembre-se que esse disco e essa música tem um interdiscurso com o
livro Admirável mundo novo, de Huxley):
Admirável Chip Novo
“Pane no
sistema, alguém me desconfigurou
Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo
Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo
Parafuso
e fluido em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado...
Mas lá vem eles novamente, eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado...
Mas lá vem eles novamente, eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema
Pense,
fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste, viva
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste, viva
Não
sinhô, sim sinhô, não sinhô, sim sinhô...”
(lembra
bastante a relação das personagens interpretadas por Phoenix e Scarlett (voz)).
Outro
rocker baiano, Marcelo Nova, já alertava na música, Eu vi o futuro, do CD Quem é
você?, ainda liderando o Camisa de
Vênus, em 1996: “Me mostre o seu CD -Rom, a sua alma, o seu batom/E beijos
que arrebentem as vidraças/Devolva a minha confiança, o meu escudo, a minha
lança/E todas as promessas não cumpridas/E como está tudo acabado, deite aqui
do meu lado/Eu vi o futuro, baby, ele é passado”.
Título,
inclusive de um álbum-solo de Nova, lançado em 1998, Eu vi o futuro, baby, ele é passado. Veja-se também a letra da
música Ninguém vai sair vivo daqui
(outra alusão ao livro de Aldous Huxley,
citação direta do autor na letra da canção), do álbum, de 2005, O galope do tempo:
“Já faz tanto tempo, eu tinha
dezesseis
Ele caiu na minha mão eu li pela
primeira vez
Um livro tão estranho me chamou
atenção
Mr. Huxley me abriu as portas da
percepção
Surgiram novos horizontes, tantas
possibilidades
Encontrar o meu caminho, a busca
da verdade
E talvez a mais simples que eu
logo aprendi
É que ninguém vai sair vivo daqui
O tempo passou mais depressa que
eu pensei
O que era uma exceção agora
parece ser lei
Tem gente bebendo chuva, pessoas
comendo lixo
Dormindo nas calçadas, crianças
virando bicho
No rádio uma canção feita pra
anestesiar
Enquanto a voz lá do Planalto
parece comemorar
Então fica confirmado tudo aquilo
que eu ouvi
Que ninguém vai sair vivo daqui
Alô vocês poetas, loucos e
visionários
Astros da TV, políticos,
milionários
Você que mente e rouba, você que
dá no pé
Você é tão esperto, mas nunca
sabe qual é
Tem gente que compra dor pra
vender felicidade
Jesus disse que ela existe, mas
só na eternidade
Restou apenas uma certeza em tudo
que eu vi
É que ninguém vai sair vivo daqui
Ninguém vai sair vivo daqui”
(conferir
também no mesmo álbum antológico e universal de Marceleza, a canção Poeira no
chão, com interdiscurso em relação à poesia de Augusto dos Anjos.). Ver também o prefácio do encarte, no qual, o
cantor e compositor, Marcelo Nova
afirma: “Este é um disco que diz respeito ao tempo e a minha passagem através
dele. Custou-me 13 anos desse tempo precioso para concluí-lo em meio a essa
jornada mortal do útero ao caixão.”).
Bauman em seus quatro livros citados afirma várias vezes que o homem já
conquistou o espaço, não há mais fronteiras espaciais que impeçam, por exemplo,
de alguém por Skype, se comunicar
estando no Brasil, com alguém em Taiwan, e ainda se vendo mutuamente, na webcam, não é? Sem falar no dinheiro
viajando pelo mundo a crédito virtualmente. Mas o tempo, esse é inoxidável, o
homem ainda não conquistou e/ou dominou. Nasce-se é para morrer. O filme de Jonze mostra isso de maneira tangencial.
A banda
de rock Autoramas, lançou, em 2007, o
CD Teletransporte, com a música Mundo moderno, ou seria pós-moderno!...,
distópico de Spike Jonze, “Ela”?, veja-se a letra da canção, para
pensarmos na questão:
“Era pra eu estar deslumbrado
Com tantas opções que pintam na minha frente
Não consigo ficar acostumado
São tantas novidades que aparecem de repente
Chega de tanta liberdade
Tem gente que nasceu pra ser obediente
Com tantas opções que pintam na minha frente
Não consigo ficar acostumado
São tantas novidades que aparecem de repente
Chega de tanta liberdade
Tem gente que nasceu pra ser obediente
Mundo moderno
Me tirem desse inferno
São tantas coisas novas pra experimentar
Alguém me ponha no meu devido lugar
Mundo moderno
Me tirem desse inferno
São tantas coisas novas pra experimentar
Alguém me ponha no meu devido lugar
Mundo moderno
Convivo com o medo enorme
que alguma ideia diferente apareça
então eu preciso de ordens
Antes que algo de ruim me aconteça
Pra tantos lados pode ir minha ambição
Mas eu vou jogar pro alto o que eu tenho nas minhas mãos
que alguma ideia diferente apareça
então eu preciso de ordens
Antes que algo de ruim me aconteça
Pra tantos lados pode ir minha ambição
Mas eu vou jogar pro alto o que eu tenho nas minhas mãos
Mundo moderno
Me tirem desse inferno
são tantas coisas novas pra experimentar
Alguém me ponha no meu devido lugar
Mundo moderno”
Me tirem desse inferno
são tantas coisas novas pra experimentar
Alguém me ponha no meu devido lugar
Mundo moderno”
É o
contexto melancólico do filme de Jonze.
A banda
pernambucana de Manguebeat, Nação Zumbi.
Em seu último e mais recente disco, excelente por sinal, lançado em 2014, com o
título Nação Zumbi, propõe várias
reflexões. Uma nos interessa, para refletir sobre “Ela”, em vários aspectos, em especial, sobre a ânsia de tanto
querer o “amanhã”, mas quando conquista o que se almejava, a personagem fica
frustrada, se trata da canção Novas
auroras, segue a letra, de Jorge Du
Peixe/Dengue/Pupillo/Lucio Maia:
“Feliz
pelo o que ainda não veio
saudades
do que nem foi
Esperando
o melhor dos agoras
Nem
termos o antes e já queremos o depois
E do lado
de fora dos olhos
Os
ponteiros disfarçam até o anoitecer
O tempo
já sorrindo pro fim
Relógios
não esperam por ninguém
Ontem
você quis o amanhã
Hoje você
quer o depois
Vou
andando nas horas
Atravessando
os agoras
Dançando
as novas auroras
Vou andando
nas horas
Atravessando
os agoras
Dançando
as novas auroras
Ainda nem
chegou
e pensa
que já foi
Ainda nem
chegou
e pensa
que já foi
Eis o
feitiço do tempo
A
corrida, faminta, incessante das horas
Lembrando
quem adianta os instantes mutantes
A história
e suas intenções
Sem
ponteiro nem norte
ao redor
dos eternos agora
Sempre
correndo atrás do que nunca demora
Foi-se
embora sem satisfação
Um
roteiro certeiro
Panorama
no espelho
Janela de
onde tudo vejo
Já vi
esse filme inteiro
Ainda nem
chegou
e pensa
que já foi
Ainda nem
chegou
e pensa
que já foi
Ontem
você quis o amanhã
Hoje você
quer o depois”
A eterna insatisfação,
frustração do homem pós-moderno consumista, que também é reflexo das
personagens do filme de Spike Jonze.
A banda gaúcha, Os Replicantes, que tenta se mantém no
cenário punk do país, após a saída do líder Wander
Wildner, que seguiu carreira solo e criou um estilo próprio, o punk-brega.
A banda, então, passou por várias atribulações e passou pelo vocal, três
cantoras, até chegar à atual, Julia Barth.
A banda gravou o CD, Os replicantes 2010,
lançado no ano de 2009, com uma música, denominada Second life, de autoria de Mauren
Veras/Heron Heinz, que é o próprio filme “Ela”, em música punk-lenta-balada, eis a letra completa:
“Vou
assumir
segunda vida
Abrir puteiro no
Second Life
Ganhar dinheiro
com
cybercafetinagem
O grande avatar
da sacanagem
Vou assumir uma
terceira
vida
Vou Montar uma
banda no
Second Life
O estúdio é o
meu
computador
Não vou nem
precisar de
amplificador
A vida de verdade
agora é
virtual
Minha inteligência
agora é
artificial
Meu sentimento é
superficial
Somos cyber
punks num
mundo irreal
Vou assumir uma
outra vida
Ganhar dinheiro
em linden
dólar
Imposto de renda
não existe
lá
Não vou pagar
IPTU ou IPVA
Nós somos
cyborgs
Nós somos
cyborgs”
Não é a conexão e a
“vida” das personagens vividas por Joaquin
Phoenix e Scarlett Johansson?!...
Lembrei-me, ainda da
música pouco conhecida interpretada por Zé
Ramalho e Pitty, no CD, Parceria dos
Viajantes, de Zé Ramalho, lançado
no ano de 2007, canção que se chama A
nave interior, composição de Zé
Ramalho/Chico César, que a partir da terceira estrofe diz:
“(...) A nave que é mãe, Que é filho e é
pai
É tudo e é nada, O povo e ninguém
É tudo e é nada, O povo e ninguém
Não é de fora que a nave vem
É de dentro do peito que a nave sai
Não é de fora que a nave vem
É de dentro do peito que a nave sai
É de dentro do peito que a nave sai
Não é de fora que a nave vem
É de dentro do peito que a nave sai
Respirar, navegar é coisíssima igual
O ar que ri é o fogo da nau
No vale profundo que geme em nós
Reside o casulo do cavalo alado
O ar que ri é o fogo da nau
No vale profundo que geme em nós
Reside o casulo do cavalo alado
Na rainha-mãe ou no pobre coitado
Ali se espelha a centelha do gás
Se é moça ou rapaz, ancião ou criança
A chama não cansa de dançar a dança.”
Ali se espelha a centelha do gás
Se é moça ou rapaz, ancião ou criança
A chama não cansa de dançar a dança.”
É a contradição musical
do mundo virtual, distópico, “second life” do filme “Ela”.
Para finalizar a
apocalíptica música hardcore dos Ratos de
Porão, Viciado digital, do seu
mais recente e excelente álbum, um dos melhores em anos, só de inéditas, Século Sinistro, lançado neste ano de
2014, diga-se de passagem, são atualíssimas todas as 13 (treze) faixas do
disco:
VICIADO DIGITAL
(LETRA: JOÃO GORDO/MÚSICA:
JÃO, JOÃO GORDO & JUNINHO)
“A alienação em
massa
não para
Estar online
sempre é demais
Agora você
está monitorado
Todos sabem
o que você faz...
Você postou,
ninguém curtiu
Você curtiu,
ninguém comentou
Ficou puto
quando viu
No youtube escancarou
Viciado digital
Conectado
em tempo
integral
Intimidade
escancarada
Numa rede social
Roupa suja mal lavada
No facebook é de
doer
Twittando
suicídio
No instagram
foto vai ter
Vejam só como
sou íntegro
Vejam só como
sou legal
Vejam só como
sou lindo
Vejam só como
sou do mal”
Esta pedrada resume
tragicamente, apocalipticamente, tristemente, mas verdadeiramente nossa
realidade do século XXI (“século sinistro”), entrando em conformidade com o
mundo futurista e distópico, mas não tão distante de nossa realidade, mostrado
no filme genial, “Ela”, que é uma
verdadeira obra-prima do cinema do século atual, dirigido e roteirizado pelo
inteligente e perspicaz Spike Jonze,
que com sua sagacidade conseguiu captar tudo pelo qual estamos passado, real ou
virtualmente, ou os dois ao mesmo tempo.”.
REFERÊNCIAS:
FILME-BASE:
ELA, SPIKE JONZE, 2013, EUA, SONY PICTURES.
REFERÊNCIAS
BILIOGRÁFICAS:
BAUMAN, Zygmunt.
Modernidade Líquida. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2001.
---------------------------.
Amor Líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
BIBLIOGRAFIA
PASSIVA:
BAUMAN, Zygmunt.
O mal-estar da pós-modernidade. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
--------------------------.
Modernidade e ambivalência. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.
CDS:
AUTORAMAS,
TELETRANSPORTE, 2007.
CAMISA DE VÊNUS,
QUEM É VOCÊ?, 1996.
MARCELO NOVA, EU
VI O FUTURO, BABY, ELE É PASSADO, 1998.
MARCELO NOVA, O
GALOPE DO TEMPO, 2005, NOVA PRODUÇÕES ARTÍSTICAS.
NAÇÃO ZUMBI,
NAÇÃO ZUMBI, 2014, SLAP.
PITTY, ADMIRÁVEL
CHIP NOVO, 2003, DECKDISC.
RATOS DE PORÃO,
SÉCULO SINISTRO, 2014, BRUAK! RECORDS.
OS REPLICANTES,
2010, 2009, MARQUISE RECORDS 51.
ZÉ RAMALHO,
PARCERIA DOS VIAJANTES, 2007, SONY MUSIC.
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