.HÁ UMA GOTA DE
SANGUE EM CADA POEMA - MÁRIO DE
ANDRADE:
“(PACIFISTA E
CHEIO DE BOAS INTENÇÕES, MAS AINDA IMATURO).”
(RESENHA POR
RAFAEL VESPASIANO).
“Livro
de poemas de Mário de Andrade, Há uma
gota de sangue em cada poema, publicado em 1917, sua obra de estreia, no
qual o poeta dá seus primeiros passos na poesia, tanto que seus poemas ainda
são "imaturos" e muito aquém do que ele viria a produzir,
posteriormente.
Essa
obra, o próprio Mário a retirou das suas Poesias
Completas e a “colocou” em um volume à parte, conhecido e intitulado pelo
próprio escritor como "Obra
Imatura", pelo reconhecimento do próprio poeta de que sua poesia ainda
era “imatura” naquele livro; nesse volume reuniu ainda os contos de Primeiro andar e o livro de crítica A escrava que não era Isaura.
Mário de Andrade escreve Há uma gota de sangue em cada poema, como um manifesto pacifista,
criticando, atacando e refletindo os horrores da Primeira Guerra Mundial, que
se arrastava na Europa, desde 1914, só terminando um ano depois à publicação do
livro do poeta, 1918.
Nos
poemas, o eu-lírico demonstra um anseio coletivo, no qual todos queriam paz,
harmonia, união, amor para o mundo e para o homem, parecia que quem não queria
essa Cosmogonia era, justamente, os governantes, militares e líderes mundiais da
época.
O
título é muito sugestivo, pois, expressa e sugere a guerra, o horror, a
destruição e a desarmonia através da palavra "sangue", que invade e
mancha a vida, a humanidade, a sociedade, a harmonia e a paz, que são
representadas pela palavra "poema", já que para os modernistas a literatura
devia servir como reflexo da sociedade contemporânea, daí o "poema",
ou seja, a vida do homem, suja e manchada pela guerra e destruição do
"sangue" derramado pelos jovens soldados (inocentes nesse combate de
generais sentados, em suas mesas, traçando os destinos da Humanidade, à custa
de vidas inocentes dos jovens retirados do lar à força, que perdiam suas vidas
que se esvaíam nas trincheiras da Guerra).
A
poesia e o “Poema” eram as “armas” artísticas que gritavam e pediam paz e
harmonia - a consciência da sociedade e da humanidade, que era captada e transmitida
pelo poeta e pelo eu-lírico nos poemas, que eram gritos de revolta, mas de
revolta antibelicista e à favor da Cosmogonia, da união dos povos e das nações.
Mário
de Andrade escreve uma obra de forte ativismo político (este ativismo seria marca
modernista nos primeiros anos de movimento), antibelicista e de luta pela paz
mundial. Embora os poemas, esteticamente e estilisticamente, ainda sejam
marcados pela imaturidade, presos ao convencionalismo
das tradições literárias do século anterior, pré-modernistas, portanto, já
prenunciavam um dos maiores vanguardistas modernistas da Literatura Brasileira.
Um
dos maiores poetas combativos do Primeiro Modernismo nacional, participante
ativo da Semana de Arte Moderna, realizada em 1922. E, que junto com Oswald de
Andrade, foram os líderes de um movimento que reunia vários escritores e
artistas de outras áreas, que lutaram pela renovação modernista das Artes e
Letras nacionais. E que se consolidaria na Geração Modernista seguinte, que se
inicia no ano de 1930 ( essa classificação é estanque e reducionista, mas serve
de parâmetro, para a análise aqui pretendida).
A Geração Modernista que se inicia nos anos 30
do século XX, ficou conhecida pela alcunha de “romance de 30”, ou, denominado
por alguns críticos literários, de forma reducionista, de “romances
regionalistas” - já prenunciados em, 1928, pelo romance-marco do movimento (mas
débil literariamente) A bagaceira, de
José Américo de Almeida; e, pelo Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre,
lançado a essa época. Mas aqui é assunto, para outro post.
Mário
lançaria livros por toda década de 1920, que demonstram a modernidade
almejada por todos os artistas de 22. Seu estilo já modernista foi adquirido
pelas leituras dos clássicos europeus e pela leitura dos manifestos e obras das
vanguardas artísticas europeias do início do século XX, que se fazem presentes,
nos poemas de Mário de Andrade, de forma “deglutida” como sugerira Oswald de
Andrade na Poesia Pau-Brasil e no Manifesto da Antropofagia.
Em
suma, basta citar os livros de Mário, Pauliceia
desvairada, Clã do Jabuti, Losango cáqui, etc., estes livros de poemas
modernistas; as críticas revisionistas da Literatura Brasileira e sua história
(e de outras artes também, Mário conhecia muito bem, por exemplo, artes
plásticas e música), suas críticas, lógico, sempre pautadas pela marca
modernista que o definia.
Os
livros de contos e crônicas também são fontes inesgotáveis de modernidade. E os
romances Amar, verbo intransitivo e,
em especial, o romance-síntese do primeiro modernismo brasileiro, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.
“O
romance antropofágico”, por excelência, segundo, Oswald de Andrade - não sei se
afirmado com as palavras que usei entre aspas, mas que Oswald decretou
criticamente algo nesse sentido à publicação daquele romance, o que até Mário
tentou recusar, essa tal afirmação do amigo-poeta, ora vejam, em sua conhecida
humildade.
Enfim,
Mário de Andrade começou titubeando, “imaturo”, mas, logo se transformou em um
dos nossos maiores e mais conscientes modernistas da Literatura Brasileira e, um
dos maiores escritores em Língua Portuguesa do século XX.”.
P.s.:
conferir post publicado nesse mesmo blog, em 04/11/2014, em que se fala mais de
Modernismo, Mário de Andrade, Semana de Arte Moderna de 1922 e é abordado mais
detalhadamente o romance Macunaíma, de
Mário.
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