terça-feira, 18 de novembro de 2014

.HÁ UMA GOTA DE SANGUE EM CADA POEMA - MÁRIO DE ANDRADE: “(PACIFISTA E CHEIO DE BOAS INTENÇÕES, MAS AINDA IMATURO).”.

.HÁ UMA GOTA DE SANGUE EM CADA POEMA - MÁRIO DE ANDRADE:

“(PACIFISTA E CHEIO DE BOAS INTENÇÕES, MAS AINDA IMATURO).”

(RESENHA POR RAFAEL VESPASIANO).



“Livro de poemas de Mário de Andrade, Há uma gota de sangue em cada poema, publicado em 1917, sua obra de estreia, no qual o poeta dá seus primeiros passos na poesia, tanto que seus poemas ainda são "imaturos" e muito aquém do que ele viria a produzir, posteriormente.

Essa obra, o próprio Mário a retirou das suas Poesias Completas e a “colocou” em um volume à parte, conhecido e intitulado pelo próprio escritor como "Obra Imatura", pelo reconhecimento do próprio poeta de que sua poesia ainda era “imatura” naquele livro; nesse volume reuniu ainda os contos de Primeiro andar e o livro de crítica A escrava que não era Isaura.

 Mário de Andrade escreve Há uma gota de sangue em cada poema, como um manifesto pacifista, criticando, atacando e refletindo os horrores da Primeira Guerra Mundial, que se arrastava na Europa, desde 1914, só terminando um ano depois à publicação do livro do poeta, 1918.

Nos poemas, o eu-lírico demonstra um anseio coletivo, no qual todos queriam paz, harmonia, união, amor para o mundo e para o homem, parecia que quem não queria essa Cosmogonia era, justamente, os governantes, militares e líderes mundiais da época.

O título é muito sugestivo, pois, expressa e sugere a guerra, o horror, a destruição e a desarmonia através da palavra "sangue", que invade e mancha a vida, a humanidade, a sociedade, a harmonia e a paz, que são representadas pela palavra "poema", já que para os modernistas a literatura devia servir como reflexo da sociedade contemporânea, daí o "poema", ou seja, a vida do homem, suja e manchada pela guerra e destruição do "sangue" derramado pelos jovens soldados (inocentes nesse combate de generais sentados, em suas mesas, traçando os destinos da Humanidade, à custa de vidas inocentes dos jovens retirados do lar à força, que perdiam suas vidas que se esvaíam nas trincheiras da Guerra).

A poesia e o “Poema” eram as “armas” artísticas que gritavam e pediam paz e harmonia - a consciência da sociedade e da humanidade, que era captada e transmitida pelo poeta e pelo eu-lírico nos poemas, que eram gritos de revolta, mas de revolta antibelicista e à favor da Cosmogonia, da união dos povos e das nações.

Mário de Andrade escreve uma obra de forte ativismo político (este ativismo seria marca modernista nos primeiros anos de movimento), antibelicista e de luta pela paz mundial. Embora os poemas, esteticamente e estilisticamente, ainda sejam marcados pela imaturidade, presos ao convencionalismo das tradições literárias do século anterior, pré-modernistas, portanto, já prenunciavam um dos maiores vanguardistas modernistas da Literatura Brasileira.

Um dos maiores poetas combativos do Primeiro Modernismo nacional, participante ativo da Semana de Arte Moderna, realizada em 1922. E, que junto com Oswald de Andrade, foram os líderes de um movimento que reunia vários escritores e artistas de outras áreas, que lutaram pela renovação modernista das Artes e Letras nacionais. E que se consolidaria na Geração Modernista seguinte, que se inicia no ano de 1930 ( essa classificação é estanque e reducionista, mas serve de parâmetro, para a análise aqui pretendida).

 A Geração Modernista que se inicia nos anos 30 do século XX, ficou conhecida pela alcunha de “romance de 30”, ou, denominado por alguns críticos literários, de forma reducionista, de “romances regionalistas” - já prenunciados em, 1928, pelo romance-marco do movimento (mas débil literariamente) A bagaceira, de José Américo de Almeida; e, pelo Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre, lançado a essa época. Mas aqui é assunto, para outro post.

Mário lançaria livros por toda década de 1920, que demonstram a modernidade almejada por todos os artistas de 22. Seu estilo já modernista foi adquirido pelas leituras dos clássicos europeus e pela leitura dos manifestos e obras das vanguardas artísticas europeias do início do século XX, que se fazem presentes, nos poemas de Mário de Andrade, de forma “deglutida” como sugerira Oswald de Andrade na Poesia Pau-Brasil e no Manifesto da Antropofagia.

Em suma, basta citar os livros de Mário, Pauliceia desvairada, Clã do Jabuti, Losango cáqui, etc., estes livros de poemas modernistas; as críticas revisionistas da Literatura Brasileira e sua história (e de outras artes também, Mário conhecia muito bem, por exemplo, artes plásticas e música), suas críticas, lógico, sempre pautadas pela marca modernista que o definia.

Os livros de contos e crônicas também são fontes inesgotáveis de modernidade. E os romances Amar, verbo intransitivo e, em especial, o romance-síntese do primeiro modernismo brasileiro, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.

“O romance antropofágico”, por excelência, segundo, Oswald de Andrade - não sei se afirmado com as palavras que usei entre aspas, mas que Oswald decretou criticamente algo nesse sentido à publicação daquele romance, o que até Mário tentou recusar, essa tal afirmação do amigo-poeta, ora vejam, em sua conhecida humildade.

Enfim, Mário de Andrade começou titubeando, “imaturo”, mas, logo se transformou em um dos nossos maiores e mais conscientes modernistas da Literatura Brasileira e, um dos maiores escritores em Língua Portuguesa do século XX.”.


P.s.: conferir post publicado nesse mesmo blog, em 04/11/2014, em que se fala mais de Modernismo, Mário de Andrade, Semana de Arte Moderna de 1922 e é abordado mais detalhadamente o romance Macunaíma, de Mário. 

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