OS CORUMBAS – AMANDO FONTES
“(O
SOCIALISMO EM SERGIPE NOS ANOS 1930.).”
(RESENHA POR RAFAEL VESPASIANO.).
“Romance que poderia
facilmente ser incluído meramente no chamado Romance de 30 do século XX, grupo
este que surgiu na Literatura Brasileira durante o movimento modernista entre
nós, na década de 30. Porém, o autor santista, mas radicado em Aracaju, capital
sergipana, Amando Fontes, transforma e escreve um romance atípico a esses
padrões, já que se pode afirmar que o ponto de vista da narração é do
proletariado sergipano, fato singular na literatura nacional até então (1933) –
O Moleque Ricardo, de José Lins do
Rego viria à edição apenas dois anos depois – Os corumbas, do romancista Amando Fontes, portanto, tem seu lugar
na História da Literatura Brasileira, apesar de não ser uma grande obra em
termos estéticos e em termos do uso da linguagem literária.
Os
corumbas é um romance social que narra a trajetória da
família de retirantes chefiada por Geraldo e Sá Josefa Corumbas, que saem do
engenho no interior de Sergipe e migram para a capital Aracaju, para se
empregar nas fábricas têxteis da cidade. Duas filhas trabalham nelas, mais o
pai Geraldo, a mãe cuida da casa e as duas filhas mais novas estudam visando um
futuro melhor. Um dos dois filhos homens morreu ainda menino e o que
sobreviveu, Pedro, desenvolve ideal comunista e passa a organizar o movimento
sindical das fábricas de tecidos – e numa greve termina por ser preso e exilado
para o Rio de Janeiro.
Essas são as
desventuras da família e outras mais que são narradas no romance, que mostram a
tão árdua - e até então pouco apresentada pelos nossos escritores – vida do
proletariado brasileiro; sem contar que aborda também a questão dos retirantes,
contudo essa abordagem não era novidade na literatura nacional. O autor Amando
Fontes
levou a cabo foi
uma biografia coletiva dos humildes (...). Com a vantagem de tê-lo feito sem o
aborrecimento de uma atitude de partido, que por certo daria ao romance
conclusões que não aquelas que vêm expressas no romance (...). Aqui deixou-se a
liberdade ao leitor de ser ele a julgar e a concluir. E isso em romance social
não é muito comum, ia mesmo dizer, que era raríssimo. (CÉSAR, Amâncio Apud
FONTES, 2003, orelha do livro).
O mesmo crítico Amâncio
César afirma, ainda, em sua obra Literatura
pelo caminho – alguns romancistas brasileiros (Lisboa, 1958), que o
romancista brasileiro se aproxima muito da estética neorrealista do romance
português do século XX.
Quanto à linguagem da
obra de Amando Fontes aquela pende para o coloquial e para o regional e para o
linguajar típico dos operários das fábricas de tecidos sergipanas dos anos 30
do século passado. Uma linguagem não tão elaborada poeticamente por parte do
autor, mas realística e verossímil ao que se narra no romance, tendendo para a
língua que se fala no nordeste brasileiro (Sergipe), entre retirantes e
proletários, uma linguagem coloquial e até muitas vezes vulgar.
Portanto, a obra não se
destaca pela elaboração poética da mesma, mas pelo seu caráter inovador
temático (o tema do proletariado) e, principalmente, por ser narrada sob a
ótica dos operários e retirantes.
Um romance social, o
qual na minha leitura particular faz com que eu pense, em alguns momentos, que
o romancista Amando Fontes foi buscar nas tradições do Naturalismo científico
francês do século XIX, mais especificamente no de Zola e seu romance máximo, Germinal, matéria para seu livro, porém,
essa é apenas uma impressão, que pode não ser verdadeira, ou pode ser apenas
uma intertextualidade forçada e indireta.
Os
corumbas - embora menor em termos literários e poéticos, em
relação ao romance francês citado - são um romance importante e inovador
tematicamente para a Literatura Modernista Brasileira. E além do mais, como já
afirmado mais acima, não pode ser meramente classificado de maneira estanque
como um “Romance de 30” ou como “romance regionalista” pura e simplesmente,
pois isso depõe contra suas qualidades romanescas.”.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
FONTES, Amando. Os corumbas. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2003.
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