segunda-feira, 17 de novembro de 2014

OS CORUMBAS – AMANDO FONTES “(O SOCIALISMO EM SERGIPE NOS ANOS 1930.).”

OS CORUMBAS – AMANDO FONTES

“(O SOCIALISMO EM SERGIPE NOS ANOS 1930.).”

(RESENHA POR RAFAEL VESPASIANO.).


“Romance que poderia facilmente ser incluído meramente no chamado Romance de 30 do século XX, grupo este que surgiu na Literatura Brasileira durante o movimento modernista entre nós, na década de 30. Porém, o autor santista, mas radicado em Aracaju, capital sergipana, Amando Fontes, transforma e escreve um romance atípico a esses padrões, já que se pode afirmar que o ponto de vista da narração é do proletariado sergipano, fato singular na literatura nacional até então (1933) – O Moleque Ricardo, de José Lins do Rego viria à edição apenas dois anos depois – Os corumbas, do romancista Amando Fontes, portanto, tem seu lugar na História da Literatura Brasileira, apesar de não ser uma grande obra em termos estéticos e em termos do uso da linguagem literária.

Os corumbas é um romance social que narra a trajetória da família de retirantes chefiada por Geraldo e Sá Josefa Corumbas, que saem do engenho no interior de Sergipe e migram para a capital Aracaju, para se empregar nas fábricas têxteis da cidade. Duas filhas trabalham nelas, mais o pai Geraldo, a mãe cuida da casa e as duas filhas mais novas estudam visando um futuro melhor. Um dos dois filhos homens morreu ainda menino e o que sobreviveu, Pedro, desenvolve ideal comunista e passa a organizar o movimento sindical das fábricas de tecidos – e numa greve termina por ser preso e exilado para o Rio de Janeiro.

Essas são as desventuras da família e outras mais que são narradas no romance, que mostram a tão árdua - e até então pouco apresentada pelos nossos escritores – vida do proletariado brasileiro; sem contar que aborda também a questão dos retirantes, contudo essa abordagem não era novidade na literatura nacional. O autor Amando Fontes

levou a cabo foi uma biografia coletiva dos humildes (...). Com a vantagem de tê-lo feito sem o aborrecimento de uma atitude de partido, que por certo daria ao romance conclusões que não aquelas que vêm expressas no romance (...). Aqui deixou-se a liberdade ao leitor de ser ele a julgar e a concluir. E isso em romance social não é muito comum, ia mesmo dizer, que era raríssimo. (CÉSAR, Amâncio Apud FONTES, 2003, orelha do livro).


O mesmo crítico Amâncio César afirma, ainda, em sua obra Literatura pelo caminho – alguns romancistas brasileiros (Lisboa, 1958), que o romancista brasileiro se aproxima muito da estética neorrealista do romance português do século XX.

Quanto à linguagem da obra de Amando Fontes aquela pende para o coloquial e para o regional e para o linguajar típico dos operários das fábricas de tecidos sergipanas dos anos 30 do século passado. Uma linguagem não tão elaborada poeticamente por parte do autor, mas realística e verossímil ao que se narra no romance, tendendo para a língua que se fala no nordeste brasileiro (Sergipe), entre retirantes e proletários, uma linguagem coloquial e até muitas vezes vulgar.

Portanto, a obra não se destaca pela elaboração poética da mesma, mas pelo seu caráter inovador temático (o tema do proletariado) e, principalmente, por ser narrada sob a ótica dos operários e retirantes.

Um romance social, o qual na minha leitura particular faz com que eu pense, em alguns momentos, que o romancista Amando Fontes foi buscar nas tradições do Naturalismo científico francês do século XIX, mais especificamente no de Zola e seu romance máximo, Germinal, matéria para seu livro, porém, essa é apenas uma impressão, que pode não ser verdadeira, ou pode ser apenas uma intertextualidade forçada e indireta.

Os corumbas - embora menor em termos literários e poéticos, em relação ao romance francês citado - são um romance importante e inovador tematicamente para a Literatura Modernista Brasileira. E além do mais, como já afirmado mais acima, não pode ser meramente classificado de maneira estanque como um “Romance de 30” ou como “romance regionalista” pura e simplesmente, pois isso depõe contra suas qualidades romanescas.”.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


FONTES, Amando. Os corumbas. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.

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