INFÂNCIA – GRACILIANO RAMOS:
(memórias,
agora autobiográficas).
(Resenha por Rafael Vespasiano).
Graciliano
Ramos já era uma unanimidade como romancista, quando resolveu investir em
livros de teor autobiográfico. Já que seus quatro primeiros livros foram
romances mnemônicos.
Caetés, 1933,
memórias da personagem-protagonista, um escritor, João Valério, que narra em
primeira pessoa seu processo de criação do romance dentro do romance “Caetés”.
No
seu segundo romance, São Bernardo, publicado
em 1934, também em primeira pessoa, o narrador-protagonista, Paulo Honório,
revisita o seu passado na busca em encontrar justificativas para o suicídio da
esposa e o porquê dele, PH tem se tornado um “homem bruto”, escrevendo suas
próprias memórias.
No
romance Angústia, lançado em 1936, o
processo mnemônico atinge seu ápice na figura do narrador também em primeira
pessoa, Luís da Silva, um jornalista frustrado, que deseja ser escritor (e tem
talento para isso), com seu testemunho memorialístico dos fatos de toda sua
vida até chegar ao ponto culminante da sua existência, que é marcado pela tragédia,
pelo assassínio e pela “angústia”, que ele tem escrito o seu “romance”.
No
quarto e último romance de Graciliano Ramos, Vidas secas, de 1938, as coisas se dão pelo ponto de vista de um
narrador intruso, em terceira pessoa, mas que é personativo e dá voz às
personagens, por um discurso indireto livre. As personagens, em quadros
narrativos, mostram sua miséria e sua vida de retirantes nordestinos, com tom
mnemônico, contudo.
Depois
desses quatro romances, Graciliano não escreveu mais obras romanescas, mas só
memória autobiográfica, a exceção do romance em colaboração: Brandão Entre o Mar e o Amor (1942) (com
Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz.); literatura
infanto-juvenil, correspondência, traduções, contos e crônicas. O seu primeiro
livro autobiográfico já foi um clássico do gênero, lançado, em 1945.
Trata-se das memórias intituladas Infância: um livro mnemônico de sua vida infantil – contudo, as memórias
de Graciliano Ramos são trabalhadas de uma forma, que acabam também sendo
ficção, romanceadas -, pois o autor mistura as confidências memoriais com certa
imaginação ficcional.
Graciliano
Ramos, em sua infância, mostra-se um ser solitário; os pais o proibia de
brincar com os outros meninos de mesma idade. Inclusive, apanha do pai, pois
este descontava nos filhos os “aperreios” que sofria, por causa da seca, que
proporcionava pobreza, miséria, péssimas condições de sobrevivência e,
inclusive, proporcionava a fome, então, o pai nervoso e triste com toda essa
situação, batia nos filhos, incluindo, Graciliano, para extravasar, desabafar
o que sentia de raiva contra a seca, esta é uma justificativa que o autor cria
para entender e compreender o porquê das surras do pai nele.
Graciliano
Ramos também confidencia como foi a sua aprendizagem das primeiras letras -
quando errava no processo de alfabetização, levava bolos de palmatória do pai.
Graciliano teve dificuldade em aprender a ler e a escrever, não entendia a
utilidade e/ou servetia de tal conhecimento. Porém, aprende a ler, mas não
entende o que está sendo lido.
Graciliano
Ramos, como toda criança, acha ruim estudar/ler/escrever, porém, paradoxal para
uma pessoa que, futuramente, tornar-se-ia leitora assídua de obras literárias e
também escritora de clássicos da Literatura Universal.
A
infância de Graciliano Ramos, em suma, é narrada pelo próprio autor, por meio
de memórias, mas estas o autor fazer questão de ficcionalizá-las, para que um
simples livro de memórias torne-se mais do que isso: torne-se um livro atrativo
e diferente dos demais livros de memórias que se faziam e ainda se fazem -
objetivos e frios -, já a obra mnemônica autobiográfica Infância, de Graciliano
Ramos é sugestiva, provocando emoções e sensibilizando o leitor.
OBRAS
COMPLETAS DE GRACILIANO RAMOS:
Romances:
Caetés (1933) • São Bernardo (1934) • Angústia
(1936) • Vidas Secas (1938) • Brandão Entre o Mar e o Amor (1942) (em
colaboração com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de
Queiroz.);
Contos:
A Terra dos Meninos Pelados (1939) • Histórias de Alexandre (1944) • Dois dedos (1945) • Histórias Incompletas (1946) • Insônia (1947) • Alexandre e
Outros Heróis (1962);
Memórias:
Infância (1945) • Memórias do Cárcere (1953);
Crônicas:
Viagem (1954) • Linhas Tortas (1962) • Viventes
das Alagoas (1962);
Correspondências:
Cartas (1980) • Cartas de amor a Heloísa (1992);
Traduções:
Memórias de um Negro, de Booker T.
Washington (1940) • A Peste, de
Albert Camus (1950).
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