sexta-feira, 7 de novembro de 2014

INFÂNCIA – GRACILIANO RAMOS: (memórias, agora autobiográficas).

INFÂNCIA – GRACILIANO RAMOS:

(memórias, agora autobiográficas).

(Resenha por Rafael Vespasiano).


Graciliano Ramos já era uma unanimidade como romancista, quando resolveu investir em livros de teor autobiográfico. Já que seus quatro primeiros livros foram romances mnemônicos.

Caetés, 1933, memórias da personagem-protagonista, um escritor, João Valério, que narra em primeira pessoa seu processo de criação do romance dentro do romance “Caetés”.

No seu segundo romance, São Bernardo, publicado em 1934, também em primeira pessoa, o narrador-protagonista, Paulo Honório, revisita o seu passado na busca em encontrar justificativas para o suicídio da esposa e o porquê dele, PH tem se tornado um “homem bruto”, escrevendo suas próprias memórias.

No romance Angústia, lançado em 1936, o processo mnemônico atinge seu ápice na figura do narrador também em primeira pessoa, Luís da Silva, um jornalista frustrado, que deseja ser escritor (e tem talento para isso), com seu testemunho memorialístico dos fatos de toda sua vida até chegar ao ponto culminante da sua existência, que é marcado pela tragédia, pelo assassínio e pela “angústia”, que ele tem escrito o seu “romance”.

No quarto e último romance de Graciliano Ramos, Vidas secas, de 1938, as coisas se dão pelo ponto de vista de um narrador intruso, em terceira pessoa, mas que é personativo e dá voz às personagens, por um discurso indireto livre. As personagens, em quadros narrativos, mostram sua miséria e sua vida de retirantes nordestinos, com tom mnemônico, contudo.

Depois desses quatro romances, Graciliano não escreveu mais obras romanescas, mas só memória autobiográfica, a exceção do romance em colaboração: Brandão Entre o Mar e o Amor (1942) (com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz.); literatura infanto-juvenil, correspondência, traduções, contos e crônicas. O seu primeiro livro autobiográfico já foi um clássico do gênero, lançado, em 1945.

 Trata-se das memórias intituladas Infância: um livro mnemônico de sua vida infantil – contudo, as memórias de Graciliano Ramos são trabalhadas de uma forma, que acabam também sendo ficção, romanceadas -, pois o autor mistura as confidências memoriais com certa imaginação ficcional.

Graciliano Ramos, em sua infância, mostra-se um ser solitário; os pais o proibia de brincar com os outros meninos de mesma idade. Inclusive, apanha do pai, pois este descontava nos filhos os “aperreios” que sofria, por causa da seca, que proporcionava pobreza, miséria, péssimas condições de sobrevivência e, inclusive, proporcionava a fome, então, o pai nervoso e triste com toda essa situação, batia nos filhos, incluindo, Graciliano, para extravasar, desabafar o que sentia de raiva contra a seca, esta é uma justificativa que o autor cria para entender e compreender o porquê das surras do pai nele.

Graciliano Ramos também confidencia como foi a sua aprendizagem das primeiras letras - quando errava no processo de alfabetização, levava bolos de palmatória do pai. Graciliano teve dificuldade em aprender a ler e a escrever, não entendia a utilidade e/ou servetia de tal conhecimento. Porém, aprende a ler, mas não entende o que está sendo lido.

Graciliano Ramos, como toda criança, acha ruim estudar/ler/escrever, porém, paradoxal para uma pessoa que, futuramente, tornar-se-ia leitora assídua de obras literárias e também escritora de clássicos da Literatura Universal.

A infância de Graciliano Ramos, em suma, é narrada pelo próprio autor, por meio de memórias, mas estas o autor fazer questão de ficcionalizá-las, para que um simples livro de memórias torne-se mais do que isso: torne-se um livro atrativo e diferente dos demais livros de memórias que se faziam e ainda se fazem - objetivos e frios -, já a obra mnemônica autobiográfica Infância, de Graciliano Ramos é sugestiva, provocando emoções e sensibilizando o leitor.  


OBRAS COMPLETAS DE GRACILIANO RAMOS:

Romances: Caetés (1933) • São Bernardo (1934) • Angústia (1936) • Vidas Secas (1938) • Brandão Entre o Mar e o Amor (1942) (em colaboração com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz.);

Contos: A Terra dos Meninos Pelados (1939) • Histórias de Alexandre (1944) • Dois dedos (1945) • Histórias Incompletas (1946) • Insônia (1947) • Alexandre e Outros Heróis (1962);

Memórias: Infância (1945) • Memórias do Cárcere (1953);

Crônicas: Viagem (1954) • Linhas Tortas (1962) • Viventes das Alagoas (1962);

Correspondências: Cartas (1980) • Cartas de amor a Heloísa (1992);


Traduções: Memórias de um Negro, de Booker T. Washington (1940) • A Peste, de Albert Camus (1950). 

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